Quem observa os números acachapantes do crescimento do agronegócio brasileiro nas últimas décadas acaba esquecendo que, até os anos 1970, o Brasil era um importador líquido de alimentos.
Foram também os tempos em que o Departamento de Agricultura dos EUA previu, de forma desconcertante, que o Brasil continuaria a importar alimentos, pela impossibilidade de agricultura eficiente no Cerrado.
A previsão do DoA não contava com os avanços da biotecnologia e com a teimosia de alguns heróis (como Alysson Paulinelli) que desmentiram fragorosamente as previsões da contínua dependência agrícola brasileira.
Estes fatores transformaram o Brasil, em 50 anos, no campeão (ou prata ou bronze) de produção das principais commodities agrícolas. O comércio mundial não seria o mesmo sem a soja, milho, café, carnes, e segue a lista, exportados pelo Brasil. Tampouco a balança comercial brasileira seria superavitária sem a contribuição das exportações agrícolas.
Por isso, uma reflexão sobre alguns fatores determinantes deste comércio sempre é bem-vinda, mesmo que no limite superficial de uma crônica.
Um primeiro fator é a demanda futura: o crescimento da população mundial, até um equilíbrio em três ou quatro décadas, indica acréscimo à demanda. Ainda, a elevação de renda, sobretudo na Ásia, aponta para maior demanda de proteínas, constatação também positiva para as exportações brasileiras.
Outro fator a considerar: a demanda crescente por biocombustíveis como forma de redução de emissões, colocará em algum momento um dilema para a produção de alimentos. As previsões atuais ainda são genéricas quanto a este dilema, mas basta observar que apenas a produção de combustível renovável de aviação demandará bilhões de litros com origem verde.
Ainda outro fator positivo para o Brasil: apesar da eficiência em várias culturas, existe enorme potencial de melhor aproveitamento da terra arável e de recuperação de áreas degradadas. Juntamente com mais tecnologia, este fator pode incrementar novas e velhas culturas: do leite ao trigo, passando pelo azeite, para ficar em poucos exemplos óbvios.
Mas não nos limitemos a uma visão “Poliana”: há, sim, fatores de risco a serem observados pelo Governo e pelos exportadores: barreiras sanitárias sempre podem ser invocadas, preocupações sobre sustentabilidade podem materializar novas barreiras, preferências dos consumidores estrangeiros podem implicar custos adicionais de certificações e de padrões privados. Há, ainda, fatores que devem passar a ser vistos como riscos estruturais: as mudanças climáticas implicarão custos ainda incomensuráveis; a concentração de demanda em poucos mercados oportuniza volatilidade de preços; riscos geopolíticos trazem impeditivos logísticos.
Observar todos estes fatores, seu peso relativo em cada contexto econômico e as alternativas disponíveis deve ser uma tarefa nacional. Buscar mitigar riscos, abrir novos mercados, agregar valor aos produtos e aumentar a eficiência dos produtores são o mínimo que devemos, tanto ao esforço heróico da geração passada quanto ao nível de vida da futura geração de brasileiros.
Fonte: Agro Estadão
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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