O início da modernização da pecuária

O incremento produtivo foi possível em decorrência de fatores que marcaram a modernização agrícola. Veja a evolução do setor!

O rebanho brasileiro cresceu 317,1%, de 1960 até 2018 (USDA) e a produção de carne bovina aumentou 628,5% nesse intervalo, o que equivale a 8,5 milhões de toneladas produzidas a mais em 2018 frente a 1960.

Figura 1. Evolução da produção de carne bovina brasileira e do rebanho nacional, em base 100.

Fonte: USDA / Elaboração Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br

Esse incremento produtivo foi possível em decorrência de fatores que marcaram a modernização agrícola.

Primeiro, deve ser ressaltada a formação da base genética do rebanho nacional.

As importações de zebuínos da Índia foram primordiais para a evolução do rebanho brasileiro devido à adaptabilidade do zebuíno às condições da natureza brasileira.

Segundo a classificação de Köppen-Geiger na Índia predomina o clima semiárido quente (Bsh) e clima de savana tropical (Aw). No Brasil o clima predominante é o Aw. Daí a adaptação dos zebus foi fácil.

Imagem 1. Classificação climática de Köppen-Geiger do Brasil e da Índia.

Clima equatorial Af, clima de monções Am, clima tropical de savana Aw/As, clima desértico BWh, clima desértico BWk, clima semiárido BSh, clima semiárido BSk, clima mediterrânico Csa, clima Mediterrânico Csb, clima subtropical húmido Cwa, clima subtropical com verão temperado Cwb, clima subtropical com verão curto e fresco, Cwc clima oceânico Cfa, clima oceânico Cfb, clima oceânico Cfc, clima continental Das, clima continental Dsb, clima continental Dsc, clima continental Dsd, clima continental húmido Dwa, clima continental húmido Dwb, clima subártico Dwc, clima subártico Dwd, clima continental húmido Dfa, clima continental húmido Dfb, clima subártico Dfc, clima subártico Dfd, clima de tundra ET, Clima das calotes polares EF Fonte: https://people.eng.unimelb.edu.au/mpeel/koppen.html/ https://portais.ufg.br/up/68/o/Classifica____o_Clim__tica_Koppen.pdf

Nos anos 1960 houve uma onda de importação de importantes reprodutores da raça nelore.

No segundo momento, o crédito agrícola foi fundamental na evolução da pecuária, uma vez que sem a disponibilidade de recursos para tais investimentos o desenvolvimento da pecuária seria afetado negativamente.

Em 1965 foi promulgada a lei 4.829 que sistematizou o sistema de crédito rural no Brasil. A lei estabeleceu como finalidade do crédito rural o investimento, custeio, comercialização e industrialização dos produtos agropecuários.

Conforme publicado no XLVI Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, a lei acima estabeleceu que 10% dos depósitos à vista dos bancos comerciais deveriam ser alocados aos empréstimos agrícolas. A resolução 260, também de 1965, alterou esse valor para 15% e garantiu que as taxas de juros cobradas nos empréstimos rurais seriam limitados a 75% das taxas cobradas nos empréstimos comerciais.

Outro ponto importante foi a introdução de cultivares forrageiras africanas adaptadas às características edafoclimáticas do Brasil Central, levando um importante avanço para a pecuária nacional. Posteriormente a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), fundada em 1972, teve papel fundamental para tal evolução.

A década de 1960 foi importante para a pecuária de corte, pois foi quando se iniciou a expansão de algumas destas cultivares. Algumas cultivares de B. decumbens por exemplo, a IPEAN e a Basilisk (difundida como Australiana), foram responsáveis pelo avanço na pecuária de corte no cerrado nesse período. Na década de 70 surgiu a B. humidicula, que se expandiu primeiramente na Amazônia e posteriormente no cerrado (Embrapa, 1986).

Mais tarde, em 1984, a Embrapa lançou a cultivar Marandu, B. brizantha. Essa forrageira se expandiu por grande parte do Brasil Central e segundo o site da Embrapa aproximadamente 45% da área de pastagem plantada no Brasil encontra-se estabelecida com essa cultivar.

Além da expansão desses capins, pode-se destacar o incremento na quantidade de carne produzida por hectare de pastagem com o passar dos anos. Em 2017 a produção de carne por hectare foi quase seis vezes maior que em 1960.

Tabela 1. Evolução da quantidade de carne de bovinos produzida pela área de pastagem.

*2017: dados preliminares do Censo Agropecuário Fonte: IBGE, USDA / Elaboração Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br

Por último, a importância da suplementação mineral para suprir a necessidade de determinados elementos também trouxe contribuições para a pecuária.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram), na década de 60 eram utilizadas as cinzas resultantes das queimadas para o desbravamento de fazendas, misturadas ao sal branco para dar ao gado. Nessa época também começou o uso da farinha de osso (atualmente proibido na alimentação animal) como fonte cálcio e fósforo aos rebanhos mantidos em pasto. Foi apenas na década posterior que o uso da suplementação mineral composta basicamente por cloreto de sódio e fosfato bicálcico foi difundido como fonte de cálcio e fósforo de elevado valor biológico mais microminerais.Nas décadas posteriores foram difundidas a suplementação mineral proteica, e depois a suplementação específica para cada categoria animal e, a partir dos anos 2000 aumentou o controle de qualidade dos suplementos minerais.

Vale pontuar o incremento produtivo com o advento dos sistemas de engorda em confinamento e semi-confinamento após os anos 2000, que através do uso de ração a engorda de bovinos foi intensificada. Os dados do Sindirações mostram esse movimento. De 2005 até 2018 a quantidade de rações produzidas no país aumentou em torno de 65,6%. 

Desafios de hoje

O setor alcançou feitos importantes para a história agrícola, entretanto, há um grande caminho a ser percorrido.

Boa parte das áreas com pastagem estão em algum estágio de degradação.

Além disso, a amplitude tecnológica, o que pode ser agregado à atividade pecuária é grande comparada à agricultura, por exemplo, há propriedades eficientes, mas também há propriedades pouco produtivas, com baixos índices zootécnicos. 

Diante dessa situação, o setor está em constante seleção e sobressaem as fazendas que produzem mais com menos recursos.

Os dados preliminares do Censo Agropecuário de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram esse movimento. Na comparação com o censo anterior, de 2006, o número de estabelecimentos agropecuários diminuiu 2%, o que representou 103 mil estabelecimentos a menos.

A modernização agropecuária permitiu o crescimento do setor e esse processo está longe de terminar.

Fonte: Scot Consultoria

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