Raça pouco explorada no Brasil era tratado como bicho de zoológico no século passado, muita coisa mudou.
O Zebu era um bicho para zoológico ou circo. Isso mesmo. Os primeiros animais Bos indicus que vieram para o Brasil chegaram de forma não intencional. Pelo que se tem notícia, a primeira entrada de zebuínos no nosso país foi no ano de 1813. Era um casal de zebuínos oriundo da costa ocidental da Índia e, que deu origem a um tipo cruzado nomeado por Malabar.
No Nordeste do Brasil se escutava até música exaltando o aparecimento do Malabar, cantada pelos vaqueiros do São Francisco: “Um dia se encontraram / O Turino e o Malabá / um, o cupim no cangote / o outro na volta da pá”…
Em 1822, chegaram outros animais com cupim nas costas, em Salvador (BA), e desses, um novo tipo tauríndico surgiu o Guademar.
Um terceiro tipo o China, foi formado com a infusão da genética oriunda da primeira importação intencional de Zebu para o Brasil. E não era Zebu indiano. Era africano, da região do Rio Nilo.
Tal gado do Nilo, de pelagem escura, foi importado por Dom Pedro I para a Fazenda Imperial de Santa Cruz, na capital Rio de Janeiro. O gado chamou por demais a atenção dos que viram os cruzados dele, e o imperador presenteava amigos com esses animais, batizados de tipo China (olhos puxados, elípticos).
Os três tipos formados com a infusão de genética zebuína, China, Malabar e Guademar, tinham mais resistência a doenças e parasitas, maior aclimatação ao meio ambiente tropical e melhor conversão alimentar. Fora as características na morfologia, bem diferentes do então único conhecido bovino taurino. Os tipos se misturaram e sumiram através de cruzamentos absorventes com zebus na primeira metade do século XX.
O Zebu, de várias raças, passou a chegar ao Brasil com importações oficiais, desejadas por criadores que viram naquele gado a possibilidade de melhor resultado econômico, o que não estavam tendo com o taurino, presente nas fazendas brasileiras desde 1532.
Como não havia muito conhecimento sobre raças, tendo cupim, era Zebu. Assim, além do uso dos touros para fazer cruzados com vistas à formação de gado zebuíno por absorção, machos e fêmeas de raças zebuínas diferentes foram cruzadas entre elas.
A orelha também era um indicativo de pureza. O gado zebuíno a tinha bem maior que o taurino.
Uma seleção pelas orelhas levou ao aparecimento de um tipo com elas pendentes, preferencialmente longas ou, no mínimo, médias, com a face interna do pavilhão tendendo para frente, com as extremidades curvando-se para dentro. Existiu até uma régua própria para medição das orelhas.
O tipo Indubrasil foi sendo formado sem uma receita de x% de Gir, y% de Guzerá e z% de Nelore
A proporção de genética de cada raça era indefinida. O selecionador, a cada geração, punha um reprodutor que pudesse dar bezerros mais próximos da morfologia “imaginada” de “puro Zebu”. Então, se fizermos colheita de material para exame de DNA de grupos separados de animais das raças zebuínas, com certeza, o que dará maior porcentagem de 100% Bos índicus será da Indubrasil.
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Os primeiros registros de Zebu no mundo foram realizados pela Associação do Herd Book da Raça Zebu, que iniciou as atividades em 16/02/1919; e, com documentos expedidos por ela aconteceu exportações para o México, e de lá, o gado seguiu para os Estados Unidos. Inclusive, merece destaque um depoimento do cientista americano, A. O. Rhoad, na época diretor da New Iberia Livestock Experiment Station na Louisiana: “Antes dessa importação de 1924, não víamos interesse em serem adotados os tipos ordinários (referindo-se ao gado que estava em formação com genética zebuína nos Estados Unidos). O Brahman não tinha deslanchado.
Existia apenas um punhado de devotos e o efetivo era pequeno. A importação do Brasil aumentou o interesse pelo Brahman devido à excelente qualidade dos animais brasileiros. Eram grandes, musculosos, indivíduos sólidos, embora fossem uma mistura de sangue indiano, com nítida preferência de Guzerá, com alguma evidência de Gir e Nelore”. Era o Indubrasil, sem o qual o Brahman cinza e vermelho não teria sido formado.
Os sócios da Associação do Herd Book da Raça Zebu, fundaram a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro – SRTM, 18/06/1934. Essa entidade recebeu o registro dos zebuínos no Brasil em uma delegação do Ministério da Agricultura, pois o Brasil é signatário do Tratado de Roma e o registro de cada raça pertence ao ministério, porém entregue a uma associação de criadores. Antes de registrar, fez-se o Padrão Racial do Tipo Indubrasil, em 1938. Ao mesmo tempo em que os do Gir, do Guzerá e do Nelore.
Durante a VII Exposição Nacional de Animais e Produtos Derivados, em Belo Horizonte (MG), no Parque da Gameleira, em 17/07/1938, foram registrados (marcados) os primeiros animais de cada raça, machos e fêmeas. Do tipo Indubrasil, ambos pertencentes ao criador João Machado Borges. O touro Torneio e a vaca Selecionada. O primeiro, marcado pelo presidente da república Getúlio Vargas, e a vaca, pelo governador de Minas Gerais, Benedito Valadares. Ou seja, o grupamento era o majoritário na época, merecia o destaque no início dos trabalhos de registro.
Não devemos esquecer a anotação sobre a escolha do nome Indubrasil. Foi uma proposição do criador araxaense Thiers Botelho aprovada pela diretoria da SRTM.
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Anteriormente, devido aos núcleos de formação e criação da raça, três nomes: Induberaba (de Uberaba, Conquista e região), Induaraxá (de Araxá, Pratinha, Ibiá, Campos Altos) e Indubahia (da Bahia, e que tinha uma “pitada” a mais de genética Nelore que os outros dois).
A SRTM, que estabeleceu como marca o “caranguejo” (junção da figura geométrica do triângulo e a letra M, de mineiro), usava-o também na logomarca da entidade acoplado com a imagem de um macho Indubrasil. Depois, em 25 de março de 1967, a SRTM muda o nome para Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Adequação correta, já que era, desde então, uma entidade nacional e com repercussão internacional.
O Indubrasil foi, sem dúvida, o grande “relações públicas” do Zebu. Ele abriu fronteiras pelo seu biotipo tropical. Está presente em vários países e usado na pecuária de corte e de leite em diferentes sistemas de criação. Continua como uma raça definida e com força genética nos produtos puros ou cruzados. O cruzamento com o gado Holandês gera o Indolando, que tem se provado muito bem na produção de leite.
De norte a sul do Brasil, encontramos fazendas que se dedicam à seleção do Indubrasil. Até em regiões de muita seca, como no Nordeste brasileiro, a raça está mostrando competência não de sobrevivência, mas de resultado econômico. No México e na Tailândia, criatórios de Indubrasil atraem clientes para as produções de machos e fêmeas.
O maior dos zebuínos se fez grande na pecuária internacional.
*José Otávio Lemos é graduado em zootecnia e com várias pós-graduações. Jurado efetivo do Colégio de Jurados das Raças Zebuínas com atuações nacionais e internacionais. Conselheiro técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu. Tem vários trabalhos e livros publicados sobre raças zebuínas. Também apresentou muitas conferências e cursos sobre o Zebu em vários países. Recebeu honrarias de associações de criadores e de governos pelo trabalho na agropecuária.