O equívoco do “você tem que fazer o que gosta”

Escolha da profissão: como pais e professores podem ajudar? Está cada vez mais difícil para os jovens fazerem a escolha da futura profissão.

Por Içami Tiba

Minha experiência clínica mostra que nesta década aumentou o número de formados em cursos superiores que trabalham em áreas que não estudaram, e aumentou também o número de filhos trabalhando com os próprios pais.

Vou destacar uma atitude educacional que passa despercebida pela maioria dos pais e educadores nestas escolhas profissionais. É a educação do “você tem que fazer o que gosta”; ou “se faz o que gosta, você nem percebe que está trabalhando”; ou “gosto tanto do que faço, que isto para mim não é trabalho, é prazer”; ou ainda: “para que tirar férias se me realizo e sou feliz no trabalho?”; e, finalmente: “prefiro sair para trabalhar, porque ficar em casa sem ter o que fazer me deixa de mau humor”.

Com estas atitudes, os pais podem criar filhos hedonistas – têm o prazer como bem supremo. No entanto, não existe o trem da alegria, onde tudo é só festa. Neste trem tem gente trabalhando, alguém pagando a conta… Trabalhando nem sempre por gostar, mas porque necessita do dinheiro que aquele trabalho gera. Seu bem estar e quiçá dos seus filhos é pago com este dinheiro. Muita gente se divertindo, curtindo a festa, mas quem paga a conta? Hoje é comum ouvirmos o provedor dizer em um conformismo bem humorado “alguém tem que trabalhar nesta família”…

Ou seja, até chegar ao prazer, muito trabalho foi realizado, mesmo sem gostar. Estudar as matérias importantes, gostando ou não, sob o risco de ser reprovado. Treinar com afinco para chegar às melhores marcas pessoais. Disciplina sobre o talento para se atingir o sucesso. Preparar a festa e pôr a casa em ordem depois. Muito empenho e noites sem dormir para vencer acirradas concorrências.

São várias as dificuldades a serem superadas:

  • É muito precoce a idade em que têm que optar pela faculdade a cursar;
  • existência de muitas profissões que estão nascendo e muitas morrendo pela obsolescência;
  • profissões que estão deixando de ser boas pela saturação do mercado;
  • profissões que ainda não existem;
  • sem preferência nítida do que fazer, pois gostou de tudo – ou nada – do que estudou até o final do colegial;
  • abandono da faculdade por não suportar cursar as cadeiras básicas – “não agüento estudar o que não tem nada a ver”;
  • frequentar a faculdade para realizar o sonho dos pais para depois “realizar seu próprio sonho”;
  • universitários que ainda funcionam como colegiais;
  • usufruir dos status de universitário – liberdade, independência, noitadas etc. – mas não os compromissos acadêmicos – estudar sem ser cobrado por ninguém, organizar sua própria vida etc.;
  • preferir um emprego qualquer e ganhar rapidamente o seu dinheiro para não ter que prestar contas aos pais;
  • perda de esperança de conseguir um bom emprego assim que se formar;
  • e tantas mais que os que as vive tem suas próprias justificativas.

Conquistar um título pode ser uma meta de alguém, mas o difícil é manter este título para se ter o prazer de ser reconhecido como detentor do sucesso. Manter dar muito mais trabalho que conquistar. Muitos conquistam. Poucos mantêm. Para manter enfrenta-se um clima muito perverso, nada prazeroso que é a obrigação de ter que ser o melhor.

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Içami Tiba

Para uma boa escolha profissional é preciso uma boa base de preparo para o sucesso, que pode não ser prazeroso, mesmo gostando da atividade. Se o estudante for guiado somente pelo prazer, jamais chegará ao ponto de desfrutar os resultados de suas conquistas, pois as abandonará na primeira obrigação que encontrar.

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