O banimento de pesticidas químicos levou o país asiático a um fracasso. No Brasil, temos a oportunidade de facilitar o acesso a essas tecnologias e escrever uma história de sucesso
Por Christian Lohbauer* – A humanidade está hoje diante de um dos maiores desafios de sua história recente. Inúmeras previsões apontam para um cenário de mudanças climáticas, agravamento de fenômenos extremos e aquecimento global. Para o enfrentamento dessa situação, diversos países têm adotado um caminho temerário: dar grande atenção às questões ambientais e deixar outros fatores, a exemplo da segurança alimentar, em segundo plano. E, embora a sustentabilidade ambiental seja uma prioridade, a maneira de buscá-la não pode significar o abandono de tecnologias que podem ser a chave para o mundo sair desse impasse.
Na agricultura, os fertilizantes químicos estão entre as ferramentas que mais se relacionam com o incremento da produção em uma lavoura. A Revolução Verde, por volta de 1960, introduziu essa inovação e, assim, contribuiu para aumentar drasticamente a produtividade das culturas. Os defensivos químicos, usados para proteger as plantas do ataque de pragas e doenças, são uma outra solução de alto valor agregado da agricultura contemporânea. Mas o uso dessas tecnologias no campo está na mira de uma visão reducionista da sustentabilidade nos sistemas alimentares.
Um evento recente ilustra esse fenômeno e chama a atenção para uma armadilha na qual o Brasil não pode cair. O Sri Lanka, país da Ásia famoso pela produção de chá, vive hoje uma crise social, política e econômica que se deve, entre outros fatores, ao banimento do uso de fertilizantes e pesticidas químicos em abril de 2020. De lá para cá, a produtividade do chá cingalês caiu pela metade e o mesmo aconteceu com o milho. A redução foi de 35% para o arroz. Neste último caso, o país, que antes era autossuficiente e exportador, passou a gastar US$450 milhões em importações. Atualmente a restrição já foi revertida, mas não a tempo de evitar as quedas nas colheitas e também do governo que propôs a medida.
Por conta dos fertilizantes e dos pesticidas é possível produzir mais comida em menos área. Esse episódio mostra os inegáveis benefícios que essas ferramentas trazem para os sistemas agrícolas. Mais do que isso, escancara o equívoco de forçar uma transição súbita deixando produtores e tecnologias comprovadamente eficientes para trás. Qualquer decisão que interfira em um setor tão vital quanto a agricultura deve pesar o impacto dela contra consequências como diminuição nos volumes de comida disponíveis, perda de renda, redução das exportações, aumento de área plantada – causando, possivelmente, desmatamento – e crise generalizada.
Embora a agricultura brasileira e a cingalesa sejam diferentes, há uma coisa em comum: o uso de tecnologias agrícolas químicas, entre outras, para produzir tanto e com tamanha qualidade. Para que os produtores brasileiros continuem a ter acesso a essas soluções e o país continue distante de uma crise como a do Sri Lanka, é fundamental olharmos para o PL 1459/2022, em tramitação no Senado. Essa proposta, aprovada pela Câmara no início do ano, promove a modernização da lei de pesticidas. Até o momento, vigora no país a lei 7802, também chamada de Lei de Agrotóxicos, promulgada em 1989 e que passou por poucas atualizações desde então. Consequentemente, algumas das exigências de mais de 30 anos atrás não fazem mais sentido e diversos outros conhecimentos desenvolvidos desde então precisam ser levados em conta. A aprovação da lei é uma oportunidade para o Brasil seguir escrevendo uma história de sucesso agrícola.
Isso dito, o exemplo do Sri Lanka não quer dizer que é impossível melhorar a maneira como produzimos, comercializamos e consumimos alimentos. É, antes de tudo, um lembrete de que, sem inovação, não há uma agricultura viável no presente, tampouco haverá no futuro. Se há ferramentas que já demonstraram eficácia e a indústria agrícola trabalha para aumentar sua segurança e reduzir possíveis impactos no meio ambiente, não há razão para vê-las como inimigas. A sofisticação de uma economia globalizada, exige um olhar econômico, político, social e, sem dúvida, ambiental para pensar em alternativas. O povo cingalês, o agricultor brasileiro e a população crescente do mundo merecem e, sobretudo, precisam de um futuro próspero e sustentável. Para tanto, os arcabouços regulatórios precisam ser fortalecidos e as tecnologias que aumentam a produtividade devem ser vistas como parte da solução, não do problema.
*Christian Lohbauer é presidente executivo da CropLife Brasil