Relatório vai na contramão do consenso de mercado e aponta riscos para frigoríficos brasileiros que dependem da China; Alerta importante para a pecuária de corte!
O bom momento das exportações de carne bovina da América do Sul está fortemente relacionado ao apetite voraz da China, que desde que abriu seu mercado se tornou o maior cliente dos países dessa região, em especial do Brasil. O boom chinês da carne bovina já passou? Confira abaixo o alerta!
Depois de quatro anos espetaculares, o boom chinês que catapultou os preços da carne bovina e as exportações dos maiores frigoríficos brasileiros pode estar chegando ao fim. Relatório do analista Leandro Fontanesi, do Bradesco BBI, vai na contramão do consenso de mercado e aponta riscos para frigoríficos brasileiros que dependem da China.
O mercado já vem sentindo um “ensaio” do possível recuo das compras chinesas.
A primeira advertência veio de Leandro Fontanesi, analista do Bradesco BBI que foi um dos primeiros no Brasil a chamar atenção para a disrupção que seria provocada pela epidemia de peste suína africana na China — o vírus dizimou o plantel do maior consumidor e produtor de carne de porco, mudando a dinâmica do comércio global de carnes.
A tese do analista do Bradesco BBI, que escreveu pela primeira vez sobre o tema em 30 de agosto, parece estar ganhando adeptos.
Agora, a aposta de Fontanesi é que a recuperação dos estoques de suínos da China — que já estão em nível 20% acima do pré-epidemia, em 2019 —, vai começar a prejudicar também as exportações brasileiras de carne bovina já a partir do quarto trimestre, tirando um importante suporte para os frigoríficos nacionais. A China responde por mais de 60% das exportações de carne bovina do Brasil.
O relatório publicado na última quinta-feira (8 de setembro) pelo escritório local de Beijing do USDA trouxe algumas preocupações, a nosso ver infundadas, pois baseia-se em projeções muito pessimistas para a importação de carne bovina da China em 2023, implicando numa queda de 20% em relação a 2022. Cabe destacar que o relatório oficial final do USDA deve sair em 12 de outubro (The Livestock and Poultry: World Markets and Trade).
Não à toa, as ações dos frigoríficos brasileiros de carne bovina operam em forte queda ao final desta semana. Às 10h52, a ação recuava 5,3%, com a companhia dos Vilela de Queiroz avaliada em R$ 8,5 bilhões. JBS e Marfrig registravam queda de 4,6% e 2,9%, respectivamente.
Diante dos amplos estoques de suínos da China, a expectativa é que o país asiático tenha um excedente na oferta de carnes em 2023, o que não acontece desde 2017.
O argumento vai na contramão de grande parte de analistas e executivos da indústria, que defendem que houve uma mudança estrutural nos níveis de consumo de carne bovina na China graças ao incremento de renda. No entanto, é inegável que a peste suína deu alguma força nesse movimento.
Indústria se diz “contra a queda”
Vamos nos ater primeiramente aos fatos. A China vem apresentando expressivo crescimento anual das importações de carne bovina. Inclusive quando os preços do suíno despencaram no país, após a recomposição do rebanho afetado pela Febre Suína Africana (ASF), a partir de meados de 2020, a importação de carne bovina ainda assim se manteve em alta de volumes e preços.
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O recuo projetado pelo relatório do USDA não se sustenta com a realidade do mercado atual, conforme demonstram todas as estatísticas oficias, especialmente porque implica num retrocesso de pelo menos 3 anos nas importações daquele país, levando o volume para um patamar abaixo até do reportado em 2020, ano de início da pandemia, quando o país aumentou em 28% sua importação.
A América do Sul representa cerca de 70% de toda a carne bovina importada pela China e o Brasil detém 36% de participação nesse mercado; na contramão do que diz o relatório não oficial do USDA, o rebanho bovino brasileiro está em franca expansão, resultado do atual ciclo pecuário, após anos de grande retenção de fêmeas e portanto, de nascimentos de bezerros.