Novo estudo revela impacto da mosca-dos-chifres no desempenho do gado Nelore

Embrapa divulga estudo sobre a influência da mosca-dos-chifres no ganho de peso e no comportamento de bovinos Nelore e avaliação de controle estratégico de longa duração

A mosca-dos-chifres destaca-se como um dos parasitos de maior importância à pecuária nacional, ocasionando potenciais prejuízos estimados em US$ 2,56 bilhões anuais. Seu impacto no ganho de peso está relacionado principalmente ao estresse causado pelas picadas, as quais interferem no pastejo, diminuem a ingesta e aumentam o gasto energético na defesa contra as moscas.

Apesar de sua reconhecida importância, poucos estudos têm sido realizados no Brasil visando avaliar a influência das infestações da mosca-dos-chifres no desempenho dos bovinos. Além disso, resultados conflitantes demandam estudos adicionais.

Independente do real nível de infestação, tratamentos táticos são geralmente realizados quando as infestações são consideradas “altas” ou aproveitando algum manejo do gado no curral/mangueiro. Teoricamente, tratamentos táticos são recomendados com base no limiar econômico de infestação do parasito, ou seja, quando o número de moscas por animal indica uma vantagem econômica na realização do tratamento.

Entretanto, na prática, a inviabilidade da contagem de moscas nos animais pelos produtores, assim como a ausência de limiar econômico adequado às distintas regiões e sistemas de produção, limita sobremaneira uma adequada tomada de decisão e a consequente eficiência desses tratamentos.

De modo geral, a sazonalidade das infestações no Brasil caracteriza-se por baixas infestações no período seco e maiores infestações na época chuvosa, com dois picos populacionais anuais coincidentes com o início (primavera) e final (outono) da estação chuvosa, épocas recomendadas para o controle estratégico deste parasito.

O efeito do controle da mosca-dos-chifres no ganho de peso em bovinos nelore foi avaliado apenas durante a estação chuvosa, portanto, não há informações sobre o impacto da mosca no ganho de peso dos animais durante todo o seu período de desenvolvimento, do desmame à terminação.

Bovinos da raça Nelore e seus cruzamentos correspondem a mais de 80% do rebanho de corte nacional e cerca de 90% dos bovinos abatidos anualmente são terminados em pasto.

Assim, objetivou-se neste estudo:

  • a) avaliar o efeito das infestações da mosca-dos-chifres no ganho de peso de bovinos Nelore do desmame à idade ao abate,
  • b) estudar a relação entre infestação e comportamento animal (movimentos defensivos de cabeça) e seu potencial uso como indicador prático do tratamento tático da mosca-dos-chifres e
  • c) avaliar o efeito do tratamento estratégico de longa duração, com brincos inseticidas, no controle da mosca e no ganho de peso em bovinos Nelore.
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Foto: Ederson Roberto da Costa

Conclusão do estudo

Infestações da mosca-dos-chifres aumentam com a idade dos animais e causam prejuízos econômicos, reduzindo significativamente o ganho de peso de bovinos Nelore do desmame à idade de abate. Infestações relativamente baixas (40-50 moscas/animal), em épocas com adequada disponibilidade de pastagem, não afetam significativamente o ganho de peso e não justificam o tratamento inseticida do rebanho, o que tende a ocorrer em bovinos Nelore até cerca de um ano e meio de idade. No entanto, estes níveis de infestação podem influenciar negativamente o ganho de peso em situações de estresse alimentar, como nos períodos de seca.

Infestações médias próximas a 80 moscas/animal reduzem significativamente o ganho de peso de bovinos Nelore com cerca de dois anos de idade. Esta perda é observada quando aproximadamente um terço do rebanho (35,6% dos animais) apresenta este nível de infestação, entretanto, não é observado quando tal infestação ocorre em até 15% dos animais do rebanho.

O incômodo causado pela mosca tende a aumentar com as infestações. Baixas infestações geralmente causam pouco incômodo, sem implicações significativas no ganho de peso. Entretanto, maiores infestações causam alterações comportamentais que afetam o pastejo e o descanso dos animais. O movimento lateral da cabeça é a reação defensiva mais característica e pode expressar um nível de incômodo associado à redução no ganho de peso.

O tratamento tático do rebanho com produto inseticida comercial é recomendado quando 20% a 25% dos animais (1 em 4-5 animais) do rebanho apresentarem pelo menos um movimento defensivo de cabeça em um minuto de observação.

O controle estratégico de longa duração com brincos inseticidas tende a apresentar eficácia inicial elevada, com gradativa redução se utilizado repetidamente. Após a retirada do brinco, as infestações retornam rapidamente (≤ 2 semanas) a níveis semelhantes aos observados em animais não tratados.

O tratamento estratégico por seis semanas no início do período chuvoso, em animais com cerca de dois anos de idade, não resulta necessariamente em maior ganho de peso em relação a animais não tratados.

Atuais problemas e limitações relativos ao controle químico da mosca-dos-chifres, tanto tático quanto estratégico, denotam uma premente necessidade de abordagens mais eficientes e sustentáveis, as quais dependem primariamente do desenvolvimento de alternativas não químicas e estratégias integradas.

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Os autores da pesquisa são: João Batista Catto, Gelson Luís Dias Feijó, Paulo Henrique Duarte Cançado, José Alexandre Agiova da Costa e Antonio Thadeu Medeiros de Barros

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