Novo cenário da oferta alimentar mundial, a partir do conflito russo

Em alta desde o segundo semestre de 2020, os preços dos alimentos já atingiram um recorde histórico em fevereiro de 2022, devido aos insumos

A pandemia causada pelo novo coronavírus, nos últimos anos, proporcionou muitos desafios à segurança alimentar global. Atualmente, o conflito Rússia X Ucrânia traz à tona outro grande desafio, uma vez que ambos os países desempenham um papel importante na produção e fornecimento global de alimentos.

A Rússia é a maior exportadora mundial de trigo, e a Ucrânia é a quinta maior. Consequência disso, é que, juntos os dois países fornecem 19% da oferta mundial de cevada, 14% do trigo e 4% do milho e respondem por mais de um terço das exportações mundiais de cereais. Representam, ainda, 52% do mercado mundial de exportação de óleo de girassol. A oferta mundial de fertilizantes também é altamente concentrada, sendo a Rússia o principal produtor.

Interromper a cadeia de suprimentos e a logística da produção de grãos e oleaginosas na Ucrânia e na Rússia assim como restrições às exportações russas pode acarretar implicações significativas para a segurança alimentar. Isso é especialmente verdadeiro para cerca de 50 países que obtêm 30% ou mais de seu suprimento de trigo dos dois países citados. Muitos deles são países menos desenvolvidos ou países de baixa renda com déficit de alimentos no norte da África, Ásia e Oriente Próximo. Muitos países da Europa e da Ásia Central dependem da Rússia para mais de 50% de seu suprimento de fertilizantes, e a escassez pode se estender até o próximo ano.

Em alta desde o segundo semestre de 2020, os preços dos alimentos já atingiram um recorde histórico em fevereiro de 2022, devido à alta demanda, custos de insumos e transporte e interrupções nos portos. Os preços mundiais do trigo e da cevada, por exemplo, aumentaram 31% ao longo de 2021. Os preços dos óleos de colza e girassol aumentaram mais de 60%. A alta demanda e a volatilidade dos preços do gás natural também aumentaram o custo dos fertilizantes. Por exemplo, o preço da ureia, um
fertilizante nitrogenado essencial, aumentou mais de 300% nos últimos 12 meses.

Tudo está incerto no que se refere à intensidade e duração do conflito. As prováveis interrupções nas atividades agrícolas desses dois principais exportadores de alimentos básicos podem agravar seriamente a insegurança alimentar em todo o mundo. Há de se esperar e observar, uma vez que graves consequências já são praticamente certas.

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