No enredo, o grande produtor rural é apresentado como um mandante de assassinato, grileiro e trapaceiro. Essa caracterização extrema levanta questões sobre a responsabilidade dos meios de comunicação na formação de pontos de vista dos telespectadores; entenda
A televisão, como meio de comunicação de massa, tem o poder de influenciar a opinião pública e moldar a percepção das pessoas sobre diversos temas. Recentemente, a novela “Terra e Paixão”, transmitida pela Rede Globo no horário nobre, trouxe à tona uma polêmica representação do grande produtor rural brasileiro. Os autores Walcyr Carrasco e Thelma Guedes pintaram um retrato contundente e negativo desse personagem, desencadeando uma série de reflexões e críticas.
No enredo, o grande produtor rural é apresentado como um mandante de assassinato, grileiro, ganancioso, adúltero, machista, misógino e trapaceiro. Essa caracterização extrema levanta questões sobre a responsabilidade dos meios de comunicação na formação de pontos de vista dos telespectadores, especialmente quando se trata de setores tão cruciais para a economia nacional, como o agronegócio.
Uma análise mais profunda revela um paradoxo interessante na trama. Enquanto a novela destaca e enaltece o uso crescente da tecnologia nas lavouras brasileiras, servindo como um veículo para impulsionar a venda de máquinas e implementos agrícolas de última geração, ela simultaneamente denigre a imagem do grande produtor rural, figura central como consumidor desse maquinário.
É compreensível que obras de ficção exagerem para criar drama e entretenimento, mas a linha tênue entre ficção e realidade pode ter implicações significativas. No caso de “Terra e Paixão”, a caricatura do produtor rural como um vilão desumano que desrespeita leis e valores democráticos pode influenciar negativamente a percepção pública sobre a classe, que desempenha um papel vital na economia do país.
O mais intrigante nesse cenário é a aparente passividade das instituições representativas dos produtores rurais diante desse ataque à imagem do setor. Enquanto recentemente a FPA, CNA, Abag e outras entidades reagiram à prova do ENEM, alegando “cunho ideológico” e “desinformação” sobre a agropecuária, não houve uma resposta igualmente contundente em relação à novela da Rede Globo.
A falta de questionamento por parte das representações do setor rural pode ser interpretada como um descompasso entre a atenção dada a diferentes formas de crítica. Se as instituições estão dispostas a defender a imagem do agronegócio diante de alegações no âmbito educacional, por que não o fazem quando a crítica surge de uma fonte tão influente quanto uma novela de horário nobre?
Em meio a esse silêncio, surge um incômodo palpável entre muitos produtores rurais. A insatisfação não está apenas relacionada à representação negativa na trama, mas também à ausência de uma voz ativa que contraponha essa narrativa na esfera pública.
Um vídeo da deputada federal Magda Mofatto (PL) traz duras críticas ao enredo do folhetim e foi compartilhado inúmeras vezes por produtores rurais que não se sentem representados pela novela.
“Revoltante. Estão em conluio com o Governo Federal criminalizado o agropecuarista. Nós, como eu, produtora rural, que trabalho para sustentar o país, trabalho para pôr comida na mesa do cidadão. Estão nos criminalizando. Dei ordem a todos meus gerentes que não comprem mais nenhum produto dos patrocinadores nessa novela criminosa”, disse no vídeo.
Para a deputada federal, a novela tem apresentado o produtor rural como “bandido” na visão da deputada.
Desafios enfrentados pelo setor na mídia
Os desafios enfrentados pelo setor agropecuário em relação à sua representação na mídia, especialmente em produções de entretenimento como novelas, são multifacetados e demandam uma abordagem estratégica para mitigar impactos negativos. Dentre esses desafios, destacam-se:
Estereótipos negativos
A perpetuação de estereótipos negativos, como o retrato do grande produtor rural como vilão, contribui para a formação de uma imagem distorcida do agronegócio. Esses estereótipos podem influenciar a percepção pública e, consequentemente, afetar as relações do setor com a sociedade.
Comunicação efetiva
A falta de uma comunicação efetiva por parte das instituições representativas do agro pode agravar a situação. É crucial investir em estratégias que permitam esclarecer mal-entendidos, promover a transparência e destacar os aspectos positivos e sustentáveis do agronegócio.
Engajamento com a mídia
O setor agropecuário muitas vezes enfrenta desafios ao tentar se engajar com a mídia de maneira eficaz. É essencial estabelecer parcerias e diálogos construtivos com veículos de comunicação para garantir que as perspectivas do agro sejam consideradas de maneira equilibrada.
Educação e conscientização
Investir em programas educativos que destaquem a importância do agronegócio para a economia e para a segurança alimentar pode ajudar a criar uma compreensão mais ampla e informada entre o público em geral.
Participação ativa em debates
As instituições representativas do setor agropecuário precisam se posicionar ativamente em debates sobre agricultura, meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Isso permite que o agro tenha uma voz forte e influente em questões que impactam sua imagem.
Responsabilidade social e ambiental
Destacar as práticas sustentáveis adotadas pelo setor pode contribuir para uma imagem mais positiva. A responsabilidade social e ambiental tornou-se uma preocupação crescente, e demonstrar o comprometimento do agro com essas questões pode melhorar sua reputação.
Monitoramento e resposta rápida
Desenvolver sistemas de monitoramento que identifiquem rapidamente representações negativas na mídia e respondam de maneira estratégica é crucial. Isso permite que o setor aborde questões antes que elas se tornem generalizadas na opinião pública.
Alianças estratégicas
Buscar alianças estratégicas com outros setores, organizações não governamentais e influenciadores que tenham interesses comuns pode fortalecer a capacidade do agro de moldar narrativas de maneira mais eficaz.
Em suma, os desafios enfrentados pelo agro em relação à sua representação na mídia exigem uma abordagem proativa, envolvendo tanto ações de comunicação quanto medidas práticas que demonstrem o compromisso do setor com práticas sustentáveis e responsáveis. A construção de uma imagem positiva é fundamental para garantir o apoio público e enfrentar as adversidades apresentadas por representações negativas em produções midiáticas.
Leia a nota da TV Globo na íntegra:
“Um dos ganchos principais de ‘Terra e Paixão’ é justamente o amor pela terra, como o próprio nome diz. O universo do agro, sua tecnologia, força econômica e tradição no país, é inspiração para a criação da novela, e também pano de fundo das histórias e personagens da trama. A cultura rural é mostrada em toda sua completude e de diferentes formas. Do grande produtor rural, que herda o amor pela terra através de gerações, até a paixão inicial de uma nova fazendeira, passando pelo pequeno produtor, que encontra apoio e esperança na rede de cooperativas. Que é uma forma de valorizar o trabalho de profissionais que têm investido em inovação e tecnologia de ponta, empenhados em fazer do agro um agente positivo para suas comunidades e a sociedade em geral.
Na ficção, isso pode ser visto em diferentes tramas, com o a do protagonista Caio (Cauã Reymond), herdeiro das terras, quem entende melhor de plantação e ama a cultura rural. Ele apresenta toda potência da tecnologia já existente no país para o pai, Antônio (Tony Ramos), como o uso do drone em suas plantações. Já Ademir La Selva (Charles Fricks), irmão mais novo de Antônio, é um produtor rural que mostra a força dos trabalhos das cooperativas. O pequeno produtor rural também será mostrado através de Jonatas (Paulo Lessa), que ama suas terras e dedica 100% de sua vida para dividir sua paixão – e seu conhecimento – com outros.”
Escrito por Compre Rural.
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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