Nova seca histórica pode paralisar o fluxo do rio Amazonas e aumentar os custos

A indústria já projeta um aumento significativo nos custos de transporte, estimados em pelo menos R$ 500 milhões até o final do ano.

Com a nova onda de seca severa afetando o rio Amazonas, a navegação de carga enfrentará restrições nas próximas semanas. Os operadores logísticos preveem que, por volta de meados de setembro, as embarcações possam ser impedidas de transitar por trechos críticos da hidrovia. A indústria já projeta um aumento significativo nos custos de transporte, estimados em pelo menos R$ 500 milhões até o final do ano.

Atualmente, os níveis dos rios na região de Manaus estão abaixo dos registrados no mesmo período do ano passado, quando a seca alcançou níveis históricos. Diante disso, há preocupações de que a situação crítica observada no último ano possa se repetir.

“A importância da rota que liga Manaus ao Nordeste e ao Sul do Brasil é imensa. Cerca de 47% do volume total de cabotagem de contêineres no país passa por essa rota, e 80% da carga que entra e sai do polo industrial de Manaus também utiliza esse modal. O impacto econômico da seca na região é considerável, assim como suas repercussões sociais, visto que a maior parte da carga de consumo básico que chega a Manaus é transportada por via marítima”, destaca Gustavo Paschoa, presidente da Norcoast, uma empresa de cabotagem formada pela Hapag-Lloyd e pela Norsul.

As rotas de cabotagem que atravessam a hidrovia conectam Manaus a portos estratégicos, como Pecém (CE), Suape (PE), Salvador, Rio de Janeiro, Santos (SP) e Itapoá (SC).

A indústria está se preparando para um cenário inicial em que a passagem de navios pelo rio poderá ser interrompida por um período mínimo de 60 dias. No entanto, considerando que em 2023 a interrupção se estendeu até o final do ano, há uma expectativa de que o prazo possa novamente se prolongar. Essa previsão é de acordo com Augusto Rocha, diretor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam).

Terminais Temporários

Diante da situação iminente, as empresas atuantes na região já estão implementando seus planos de contingência. Um dos principais esforços envolve a criação de terminais portuários temporários no rio Amazonas, especificamente na área de Itacoatiara (AM). Estão sendo preparados píeres flutuantes para lidar com a situação.

A proposta é que os navios maiores façam uma parada em um ponto estratégico para transferir a carga para balsas, que podem navegar em águas com menor profundidade, possibilitando o transporte dos contêineres até a capital Manaus.

A SuperTerminais e a Norcoast, que se uniram para desenvolver um terminal flutuante em Itacoatiara, já iniciaram o transporte dos equipamentos para a base provisória. Eles planejam instalar os píeres flutuantes no final deste mês, com a expectativa de ter a estrutura operacional no início de setembro, conforme informado por Paschoa. O executivo prevê que a operação temporária pode se estender até dezembro, com base na situação vivida em 2023.

“Não se trata de uma solução definitiva, mas sim de uma medida para atenuar os efeitos da restrição no rio. No entanto, a estrutura tem limitações operacionais e deve acrescentar um tempo adicional de 48 horas na viagem da carga”, explica ele.

Com as restrições iminentes no rio, as empresas de navegação já começaram a aplicar as chamadas “taxas de seca” deste ano, que são encargos adicionais para cobrir os custos gerados pela crise. Segundo Rocha, esses valores superaram o dobro das taxas cobradas em 2023.

Considerando a possibilidade de interrupções no tráfego da hidrovia durante setembro e outubro, a Cieam estima que o custo logístico adicional será de R$ 500 milhões. Contudo, esse valor pode aumentar dependendo da gravidade da crise. No ano passado, a entidade havia calculado que o impacto para a indústria chegou a R$ 1,4 bilhão.

Luis Resano, diretor-executivo da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (Abac), comenta que as sobretaxas mais elevadas deste ano visam cobrir os custos da operação temporária sendo montada em Itacoatiara. “Em comparação com o ano passado, os custos aumentaram significativamente. No ano passado, a taxa cobrada era relacionada à capacidade reduzida dos navios, que não podiam operar com sua carga total. Este ano, além dessa taxa, há cobranças adicionais para o transbordo da carga do navio para a balsa e o descarregamento no terminal. A diferença é que agora estamos oferecendo uma solução logística completa”, afirma.

Congestionamento

Além das medidas tomadas nos terminais provisórios no Amazonas, os terminais em Vila do Conde (PA) também estão se preparando para enfrentar a seca. Em 2023, o porto se tornou o principal ponto de transbordo devido à alta demanda, o que resultou em congestionamento.

Neste ano, a Santos Brasil, que gerencia um terminal de contêineres na região, está implementando uma operação para transbordar carga para barcaças e captar parte do fluxo proveniente de Manaus. “No ano passado, fomos surpreendidos pela situação. Agora, com seis meses de antecedência, estamos dialogando com os clientes para ajudar a aliviar o sistema dentro da nossa capacidade”, explica Daniel Dorea, diretor financeiro da empresa.

Durante o período da seca, o terminal pretende expandir sua capacidade em 30%, passando de 8,5 mil TEUs (contêineres de 20 pés) para 11 mil TEUs mensais. Para isso, a empresa deslocará uma área de manutenção de contêineres vazios para fora do terminal, liberando espaço para a movimentação de carga.

A estrutura deverá estar em operação na segunda quinzena de setembro, quando se antecipa que o tráfego no rio seja interrompido.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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