Raça de gado é resistente às carências de alimentos e déficit hídricos, além de oferecer muita carne no abate, garante Embrapa.
Após dez anos de pesquisa, feita pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) Meio Norte e pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), com o cruzamento industrial entre touros da raça Curraleiro Pé-Duro e vacas da raça Nelore, foi criada uma nova raça, a do Boi Tropical, com as características do Nelore, de oferecer muita carne, e do Curraleiro Pé-Duro, que é ser resistente às restrições de água e alimentos, típicas do Piauí e do resto do Nordeste.
O chefe-geral da Embrapa Meio Norte, Luiz Fernando Leite, informou que esse modelo de cruzamento foi o primeiro no mundo feito por cientistas.
Segundo ele, os pesquisadores usaram dois métodos de cruzamento já consagrados.
Na primeira fase, foi usado o sistema de monta natural. A segunda etapa acelerou os estudos, e os cientistas passaram a utilizar a inseminação artificial com o uso da sincronia de ovulação.
Nessa fase, a participação do professor Adalmir Souza, coordenador de reprodução animal da UFPI, e de estudantes de mestrado e doutorado de Medicina Veterinária da instituição foi decisiva para o avanço da pesquisa.
Eles trabalharam também na avaliação reprodutiva de machos e fêmeas e no uso das biotecnologias de reprodução, como coleta e congelamento de sêmen, embriões e fecundação in vitro.
Hoje, o resultado dos estudos já está gerando várias teses de mestrado e doutorado, além de qualificar equipes especializadas em biotecnologias da reprodução animal na região Meio Norte do Brasil.
“O novo bovino, criado em pastagens nativas, impressiona pelos números. Ele é mais precoce que o Nelore, vai mais cedo para o abate, com apenas dois anos de idade e pesando nada menos do que 45 quilos de carne a mais nas mesmas condições de pastagem. Se for terminado em regime de confinamento, o período é reduzido em até seis meses, aumentando ainda mais o peso. As pesquisas indicaram que o Boi Tropical produz 20 quilos de carne macia por cada 100 quilos de músculo na carcaça. O estudo revela que o Nelore produz apenas 16 quilos”, informou Luiz Fernando Leite.
Os resultados da pesquisa foram apresentados, na última quarta-feira (12), na sede da Embrapa Meio Norte, em Teresina, durante encontro dos chefes gerais das oito unidades da Empresa Brasileira Pesquisas Agropecuárias no Nordeste.
Eles apresentaram diagnósticos e sugeriram projetos que possam mudar o perfil socioeconômico da agropecuária nordestina.
Luiz Fernando Leite apresentou a proposta do Programa Aliança para a Inovação Tecnológica no Meio Norte, reunindo oito projetos focando sistemas de produção nas áreas de caprino, ovinos, fruticultura, apicultura, manejo de solo e água.
Participaram da reunião os chefes gerais Lucas Antônio de Sousa Leite – Agroindústria Tropical (Fortaleza/CE); Liv Soares Severino – Algodão (Campina Grande/Pb); Marco Aurélio Delmondes Bonfim – Caprinos e Ovinos (Sobral/CE); Maria de Lourdes Brefin – Cocais (São Luís/MA); Luiz Fernando Leite – Meio-Norte (Teresina/PI); Alberto Duarte Vilarinhos – Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas/BA); Pedro Carlos Gama da Silva – Semiárido (Petrolina/PE); e Marcelo Ferreira Fernandes –Tabuleiros Costeiros (Aracaju/SE).
Boi é criado em fazenda no Maranhão
Luiz Fernando Leite informou que o Boi Tropical está sendo criado em fazenda no Maranhão, acompanhada pela Embrapa Meio Norte, e a nova raça está sendo divulgada entre os agropecuaristas.
“O resultado aponta maior lucro para o produtor, à indústria e para o consumidor, que terão à disposição uma carne de melhor qualidade”, diz o pesquisador Geraldo Magela Côrtes Carvalho, que coordena a pesquisa, que resultou na criação do Boi Tropical.
Ele também explica as vantagens da facilidade do ganho de peso em menos tempo.
“O novo bovino tem uma estatura menor que o Nelore, e, por isso, consegue se desenvolver bem em menores piquetes, garantindo uma taxa de lotação na mesma pastagem de até 20% maior na área delimitada. Esse aspecto é muito importante para o conforto do animal”, falou Geraldo Magela, ao assegurar que no comparativo com o Nelore, o novo bovino praticamente ganha em tudo.
O assessor da Presidência da Embrapa, Kleper Euclides Filho, afirmou que os testes realizados nos laboratórios da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, no interior de São Paulo, comprovaram que a carne do Boi Tropical l é macia e saborosa.
“Foram feitos testes de maciez, acidez, perda de peso por cozimento, retenção de água e coloração, que revelaram a excelente qualidade da carne. O mercado sempre quer novidade, e quando a carne do Boi Tropical for divulgada, será facilmente bem recebida no mercado”, falou Kleper Euclides Filho.
Em um frigorífico no município de Timon, no Maranhão, o maior do Nordeste, o Boi Tropical passou por um exigente teste de carcaça, também com resultados positivos.
Em praticamente todos os aspectos, segundo o pesquisador Geraldo Magela Côrtes Carvalho, o Boi Tropical, o “Culore”, tem um perfil diferenciado.
“Ele traz a rusticidade do Curraleiro Pé-Duro, que é adaptado ao ambiente tropical de quase todas as regiões do Brasil – calor, escassez de água e pastagens nativas-; sendo ainda resistente a parasitas, como verminoses, carrapatos, bernes e mosca do chifre”, garante.
Na alimentação, ele aceita muito bem as gramíneas e leguminosas nativas, cactos, arbustos, raízes e cascas de madeira. Enquanto isso, o bovino Nelore, raça de origem indiana e já consagrada como grande produtora de carne, requer uma alimentação à base de pastagens artificiais, segundo Geraldo Magela. (E.R.)
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Projeto pode mudar perfil da carne bovina no Brasil
Esse projeto tem três objetivos, que se alcançados em sua plenitude podem mudar em pouco tempo o perfil da carne bovina no Brasil. O primeiro, praticamente atingido, busca melhorar a qualidade – maciez, sabor e coloração – e a oferta da carne nas regiões tropicais.
O segundo, quer atingir um alvo perseguido pelos cientistas há muito tempo: disponibilizar recursos genéticos adaptados às regiões quentes. O terceiro, é integrar o Curraleiro Pé-Duro ao agronegócio, afastando a raça da ameaça de extinção.
Para enfrentar um possível cenário de aquecimento global, a busca pela sustentabilidade da pecuária bovina nas regiões quentes é outro pilar das pesquisas com o Curraleiro Pé-Duro. Geraldo Magela, que é doutor em Melhoramento Genético Animal, aponta as duas vantagens estratégicas dessa raça para viabilizar a pecuária em ambientes desfavoráveis à atividade.
“A primeira – diz o pesquisador – “é porque ele ocupa pouco espaço, permitindo uma carga animal maior. A segunda, é a rusticidade que ele traz, não necessitando do uso de medicamentos, o que eleva a qualidade da carne”.
Projeto pode mudar perfil da carne bovina no Brasil
O trabalho dos cientistas utilizando o Curraleiro Pé-Duro nos cruzamentos industriais está avançando também em outra direção. Há três anos, estão sendo feitos cruzamentos com as raças Angus vermelho, de origem inglesa, e Senepol, desenvolvido nos Estados Unidos. Os primeiros exemplares dessas experiências têm apresentado animais com excelente performance de peso e tamanho. As avaliações de carcaça e maciez da carne começarão no primeiro semestre de 2016. Também no próximo ano vão começar os cruzamentos entre touros “Tropical” e vacas de raças brasileiras, como a Caracu e a Crioula Lageana. (E.R.)
Embrapa quer melhorar renda domiciliar dos Estados do Nordeste
Entre os 10 Estados mais pobres do Brasil pelo critério do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o IBGE, cinco estão no Nordeste. Pela ordem: Sergipe, Piauí, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Já pelo critério de rendimento real domiciliar abaixo de um mil reais por ano, a região também é muito tímida e tem cinco Estados com menor renda. O Maranhão está no último lugar, com um rendimento médio de R$ 710,00.
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A Embrapa quer ajudar a melhorar essa estatística, alterando a dinâmica da economia da região, transferindo tecnologias e alcançando o maior número possível de produtores rurais. Um plano de desenvolvimento agropecuário para o Nordeste será construído e encaminhado à futura ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, a pedido dela própria, quando participou em novembro último de uma reunião na sede da Embrapa, em Brasília, com os chefes de unidades da empresa.
Números do atraso
Mesmo com alguns avanços na produção de grãos, frutas e cana de açúcar pelo agronegócio, o atraso na agricultura da maioria dos Estados nordestinos tem origem na própria realidade dos produtores. Segundo o Censo Agropecuário 2017, divulgado em julho último pelo IBGE, mostra o Piauí, por exemplo, não muito bem. Vejamos: 41,85% do produtor não sabem ler e nem escrever; e 32,14% têm mais de 60 anos, idade que já pesa negativamente na atividade.
No uso de insumos modernos, apenas 1,6% aplica calcário na correção do solo; e 0,91% faz adubação química e orgânica. O Censo mostra também a fragilidade em áreas de grande importância para o crescimento de qualquer sistema de produção agrícola: apenas 1,35% trabalha com irrigação e 96,56% não recebem assistência técnica. (E.R.)
Fonte: EFRÉM RIBEIRO