Montes Claros, com 40 abalos nesse período 2014-2022, aparece como o município com o maior número de ocorrências, seguido de perto por Jaíba
O Núcleo de Estudos Sismológicos da Universidade Estadual de Montes Claros (NES/Unimontes) passa a disponibilizar, no site da instituição, os boletins mensais sobre os tremores naturais e artificiais registrados pelas estações sismográficas que a instituição coordena no município. Os dados referentes ao Norte de Minas no período de 2014 a 2021, e ainda, de janeiro e fevereiro de 2022, já podem ser acessados na seção “Projetos e Serviços” do portal eletrônico da Unimontes. (https://unimontes.br/projetos-e-servicos/nucleo-de-estudos-sismologicos-nes). Os relatórios oferecem tabelas e mapas explicativos sobre os abalos, com datas, localizações e magnitudes, e com informações também sobre os tremores artificiais, que são gerados pelas detonações de jazidas e pedreiras.
Vinculado ao Centro de Estudos de Convivência com o Semiarido (CECS) e ao Departamento de Geociências, o NES/Unimontes atua na coleta de dados, monitoramento, trabalhos de campo e produção de estudos e pesquisas sobre os tremores naturais e artificiais na área de abrangência da Universidade. O Núcleo funciona no anexo do prédio 6 (Projetos Especiais), no campus-sede, com atendimento presencial de 8 às 12h e de 13h30 às 17h30. O Norte de Minas teve dois fenômenos sismológicos que chamaram a atenção do Brasil. Em 9 de dezembro de 2007, um tremor de 4.9 na escala Richter foi registrado na comunidade rural de Caraíbas, no município de Itacarambi. Uma criança morreu com o desabamento de uma parede, sendo a primeira vítima fatal após um abalo sísmico no País. Desde então, o local passou a ser monitorado por um sismógrafo da Universidade de Brasília (UnB),
E, em 19 de maio de 2012, foi registrado um abalo de 4.2 na Escala Richter, considerado o de maior intensidade já ocorrido no município, o que provocou uma série de estudos de especialistas do Brasil e do exterior sobre a causa dos incidentes. A partir de um sistema de nove sismógrafos instalados temporariamente em Montes Claros, foi identificada uma falha geológica sob Montes Claros. Esta falha possui orientação Norte/Noroeste-Sul/Sudeste (NNW-SSE), com extensão de aproximadamente dois quilômetros, e profundidade entre dois e três quilômetros, abaixo da camada de calcário (mais rasa). Está localizada na região Noroeste da cidade, bem próxima ao Bairro Vila Atlântida.
Em 2014, após a retirada da rede provisória de estações sismográficas de outras instituições, a Unimontes passou a contar com duas estações definitivas e próprias instaladas em Montes Claros: nas dependências do Parque Estadual Lapa Grande e no Haras do Chico (às margens da BR-135, saída para Januária). Os equipamentos foram importados da Inglaterra e financiados pelo Governo do Estado de Minas Gerais, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
O acesso aos dois locais é restrito a pesquisadores e os dados gerados pela estação são compartilhados para a Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), que conta com instituições parceiras da Unimontes como o Observatório de Sismologia da Universidade de Brasília (Obsis/UnB) e o Centro de Sismologia, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP), duas referências nacionais na área.
No período entre 2014 e fevereiro de 2022, desde a instalação das duas estações sismográficas definitivas e próprias, a Universidade Estadual de Montes Claros registrou 151 tremores naturais de terra em 32 municípios diferentes do Norte de Minas. As maiores incidências foram nos anos de 2014 (26), 2015 (60) e 2016 (36). Em 2017 e 2018 foram 11 abalos naturais em cada ano. E no último triênio, houve uma redução considerável, com apenas sete tremores: 2019 (5), 2020 (0) e 2021 (2). Destes, apenas sete foram de magnitude considerada mais forte e perceptível na superfície: acima de 3.0 na Escala Richter. Outros 12 tremores registraram magnitude entre 2.5 e 2.9 na mesma escala.
Os demais, considerados de baixa magnitude, foram abaixo dos 2.4, representando 87,4% do total de registros em quase oito anos de monitoramento contínuo pelo NES/Unimontes. Nos dois primeiros meses de 2022, não houve tremores naturais em Montes Claros. Mas o relatório de março, a ser divulgado na primeira semana de abril, já terá um registro: o sismo de 2.3 de intensidade na Escala Richter, ocorrido na madrugada do dia 5/3. Quando aos tremores artificiais, provocados pelas detonações das jazidas de pedras ao redor de Montes Claros, foram 12 em janeiro e 17 em fevereiro, conforme o boletim do NES. Todas estas explosões são previamente agendadas pelas empresas responsáveis pelas pedreiras, inclusive quanto ao dia e horário.
Ranking
Montes Claros, com 40 abalos nesse período 2014-2022, aparece como o município com o maior número de ocorrências, seguido de perto por Jaíba (38). Outras três localidades também chamam a atenção pela maior incidência de abalos naturais: Itacarambi (12), Januária (7) e Curral de Dentro (6). Manoel Reinaldo reforça que os estudos sobre Sismologia no Norte de Minas não se resumem a estes números isolados. Ele sugere a possibilidade de se investir em mais equipamentos, em capacitações e intercâmbios para novos desdobramentos práticos – como em políticas públicas – e científicos – com a ampliação do NES/Unimontes. “O Núcleo de Estudos Sismológicos da Unimontes é uma base permanente para os estudos, com reais possibilidades de maior incremento”, acrescenta.
Como exemplo, Maykon Fredson reforça uma necessidade: de pelo menos mais um sismógrafo coordenado pela própria Unimontes. Com três aparelhos, a partir do cruzamento e triangulação de dados sísmicos, a Universidade teria capacidade de calcular a magnitude correta dos tremores, identificar o epicentro de forma precisa e determinar alguns parâmetros da falha geológica. A incidência maior de tremores nas regiões de Jaíba e de Curral de Dentro também fomentaria mais estudos específicos, até mesmo para se apurar se há correlação entre os abalos registrados em Montes Claros e os destas áreas. “Há particularidades parecidas em termos de relevo e hidrografia, mas ainda é muito cedo para associar estes pontos entre si. Demandaria estudos mais precisos, trabalhos in loco com uma equipe maior e, claro, mais equipamentos, para se chegar a uma causa comum dos abalos nestas outras regiões”, finaliza Manoel.
Fonte: Unimontes