A raça Nelore é, com certeza, a mais difundida no país. Veja a qualidade, importância e mérito que tem essa raça como pai da pecuária brasileira
O gado nelore é a raça mais difundida e lucrativa no Brasil, graças a sua rusticidade e adaptabilidade na maioria das regiões brasileiras. Por suas características físicas, se adaptou muito bem a diversidade de climas locais, por possuir excelente capacidade de aproveitar alimentos grosseiros.
A popularidade é tanta que o Nelore é o “garoto propaganda” de uma campanha nacional de valorização da pecuária que está sendo desenvolvida pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB). Conheça um pouco mais da história dessa raça que hoje, equivale a 80% do rebanho de corte nacional. São mais de 150 anos de história em solo brasileiro!
A beleza da raça Nelore está nas suas características raciais com animais sadios e vigorosos, ossatura leve, robusta com musculatura compacta e bem distribuída, com o temperamento ativo e dócil. Apresenta resistência natural a parasitos, devido às qualidades de seus pêlos que dificultam a penetração de insetos na sua pele. A pele escura e fina produz secreção oleosa repelente dificultando a ação dos insetos sugadores.
As vacas Nelore por terem boa angulosidade de garupa e boa abertura pélvica e por produzir bezerros pequenos apresentam facilidade de partos e têm excelente habilidade materna: oferecem ótimas condições para o desenvolvimento dos bezerros até o desmame, instinto forte de proteção e baixo custo de manutenção. Os bezerros nelore logo após o nascimento já procuram suas mães para a mamada do colostro que lhe fornece imunidade por 30 dias.
A raça Nelore tem a carcaça dentro dos padrões exigidos pelo mercado; apresentam porte médio, ossatura fina, leve e menor proporção de cabeça e vísceras, conferindo ótimos rendimentos nos processos industriais dos frigoríficos além da padronização que otimiza a valorização dos cortes. A distribuição homogênea da cobertura de gordura confere a precocidade de terminação das carcaças protegendo contra o encurtamento das fibras no momento do resfriamento.
Essa é a raça que produz naturalmente a carne de qualidade e com alto teor de sabor. Diante dessa raça “quase completa” o processo de criação com suas práticas de alimentação a pasto ou não, manejo, sanidade e reprodução é que nos colocará de frente com a decisão do que melhorar e do que preservar para maximizar a LUCRATIVIDADE do sistema de produção.
Ongole, a origem do Nelore Brasileiro
Os zebuínos, que conhecemos hoje como Nelore, são animais descendentes de uma raça radicada na Índia, a Ongole. Esses animais foram levados para o continente indiano pelos arianos ainda antes de Cristo.
Por conta dos aspectos culturais indianos, o gado Ongole não era utilizado para a produção de carne. Naquele país, suas principais funções eram a produção leiteira e o transporte de cargas pesadas.
No Brasil, o Ongole passou a ser conhecido como Nelore, já que faz referência a localidade de onde esses animais foram importados. Os primeiros representantes desses zebuínos que foram enviados para o Brasil saíram de Nelore, distrito da antiga província de Madras, Estado de Andra, na costa oriental da Índia.
O Nelore Brasileiro
A história dessa raça no Brasil começa ainda no século XIX. A história conta que, em 1868, um navio com destino a Inglaterra aportou em Salvador com um casal desses animais a bordo. Os zebuínos acabaram sendo comercializados com produtores locais e permaneceram no país.
Dez anos depois, o criador Manoel Ubelhart Lemgruber decidiu importar mais um casal de Nelore, após conhecer esta espécime em um zoológico de Hamburgo, na Alemanha. No início do século XX alguns exemplares foram importados diretamente da Índia.
Karvadi, o pai da linhagem
Em 1962, desembarcam no Brasil animais trazidos pelos zebuzeiros brasileiros, que protagonizaram uma verdadeira epopeia para incrementar o rebanho do país.
A bordo do navio Cora, touros que formariam a linhagem brasileira da raça, chegam à Fernando de Noronha: Karvadi, Taj Mahal e Godhavari.
O touro Kavardi foi considerado o pai da linhagem Nelore no Brasil. Reprodutor da raça Ongole na Índia, já tinha sido largamente premiado como tetracampeão nacional indiano e campeão da Ásia.
Adquirido pelo criador e selecionador Torres Homem Rodrigues da Cunha, da fazenda VR (situada em Uberaba-MG), foi considerado o melhor touro da história da raça Nelore, transmitindo beleza racial aos seus filhos, sendo na época apto aos mais diversos cruzamentos. Kavardi deixou milhares de descendentes.
Expansão do Nelore
No começo, a raça teve uma expansão lenta. Já que o gado predominante no país era o de origem europeia, que chegaram junto com os colonizadores.
Além disso, entre as raças indianas, como o Guzerá, Gir e Indubrasil, por possuírem orelhas médias/grandes, eram mais difundidas. Já o gado Nelore, por ter orelhas menores, não se encaixava nos padrões do período.
Somado à ausência de um serviço de registro genealógico oficial e organizado, levou, por algum tempo, a raça Nelore a ser preterida pelos criadores brasileiros em relação às demais. O registro só ocorreu em 1938, quando começaram a ser definidas as suas características.
Mesmo assim, aos poucos foi ganhando espaço. Primeiro, no estado do Rio de Janeiro, graças a proximidade com o porto onde eram desembarcados. Depois, São Paulo e Minas Gerais.
Foi o principal agente pelo desbravamento e ampliação das fronteiras agrícolas e pecuárias, e do povoamento do centro-oeste e norte do país.
A consolidação desse novo cenário cerrados-brachiárias formou o ambiente adequado para que a raça Nelore prosperasse.
O seu comportamento de gado andejo, de alto instinto de defesa própria e de defesa da cria, parindo regular e naturalmente bezerros medianos, saudáveis (se locomovem imediatamente após o parto junto com o rebanho), determinaram o crescimento da raça em uma escala geométrica, até atingir os índices atuais que hoje ela apresenta.
Genearcas do Nelore
As características da raça, como adaptabilidade ao clima variado do Brasil, resistência a parasitas, resistência às altas temperaturas, boa produção de carne, rusticidade e fácil manejo, atraíram mais produtores.
O momento decisivo para a expansão do Nelore no Brasil ocorreu nos anos 60, quando ocorreram as últimas importações significativas desses animais.
Nessa época, o Brasil havia proibido a importação de animais vindos da Índia. Portanto, a chegada desses novos exemplares precisou de uma autorização especial do governo. Assim, os zebuínos tiveram que passar por um período de quarentena de oito meses em Fernando de Noronha.
Entre os animais que chegaram nesse período, estão algumas das Genearcas mais importantes para o Nelore: Kavardi, Golias, Rastã, Checurupadu, Godhavari, Padu e Akasamu. Elas foram as responsáveis pela formação do plantel atual de zebuínos Nelore brasileiro.
Depois disso e aproveitando a expansão agrícola para a região Centro-Oeste, o gado Nelore se espalhou por todo o país.
Linhagens de Nelore
A raça Nelore no Brasil pode ser dividia em três linhagens diferentes, que levam em consideração a origem dos animais e de seus ascendentes. São elas:
- PO (Puro de Origem): quando um Nelore é classificado como PO significa que todos os seus ascendentes constam no livro genealógico da raça.
- POI (Puro de Origem Importado): são os animais que foram trazidos da mesma região que os “originais” e que possuem todas as características do padrão da raça. Os animais nascidos no Brasil com todos os ascendentes POI, também podem ser classificados dessa forma.
- LEI (Livro Especial de Importação): são os animais originários de pesquisas para o aperfeiçoamento genético da raça.
Padrão do Nelore
O padrão da raça são as características que os animais precisam ter para serem enquadrados como Nelore. A seguir apresentamos algumas delas:
- Pelagem curta nas cores branca ou cinza-clara.
- Pele na cor preta ou mais escura, sendo solta, flexível, macia ao toque e oleosa.
- A cabeça apresenta o formato tradicional de ataúde. Seu perfil tem um formato sub-convexo, principalmente nos machos. Os olhos são de cor preta e bastante vivos. As orelhas são simétricas, curtas e terminam no formato de uma ponta de lança.
- Os animais podem ter chifres ou não. Eles têm a coloração escura e estão firmemente presos ao crânio. Os chifres nascem para cima e depois podem se curvar ou apontar para cima, para fora e para trás. Nos espécimes mochos é permitida apenas a presença de calo ou de batoque.
- O pescoço nos machos é musculoso e se encaixa harmoniosamente ao tronco, já nas fêmeas é mais delicado.
- A barbela começa logo abaixo do maxilar inferior e vai até o umbigo do animal, sendo que nos machos ela é maior e mais pregueada. Ambos os sexos apresentam um peito largo e boa cobertura de músculos.
- O cupim é uma das características marcante dos zebuínos. Eles servem como uma reserva de energia para situações críticas. Nos machos eles apresentam um bom tamanho e devem estar apoiados sobre a cernelha. Já nas fêmeas eles devem ser observados em um tamanho reduzido.
- Os machos apresentam um tamanho médio de 1,70 m e ultrapassam os 1.000 kg de peso. Apresentam musculatura compacta e bem desenvolvida, com barbela solta pregueada, umbigo curto, bainha e prepúcio leves.
- As fêmeas têm altura de 1,55m em média e podem chegar aos 800 kg de peso.
Carcaça e carne
O Nelore é a raça, no Brasil, que possui a carcaça mais próxima dos padrões exigidos pelo mercado, por apresentar porte médio, ossatura fina, leve, porosa e menor proporção de cabeça, patas e vísceras, conferido excelente rendimento nos processos industriais.
Precocidade de terminação garante nas carcaças distribuição homogênea da cobertura de gordura, tornando-a muito valorizada no mercado.
A padronização das carcaças Nelore otimiza a estrutura industrial e agrega valor aos cortes. Tendo como principais características o alto teor de sabor e o baixo teor de gordura de marmoreio, a sua carne é exportada para mais de 146 países e cada vez mais apreciada consumidores esclarecidos do mundo todo.
Aliás, pode produzir carnes tão boas ou saborosas quanto qualquer outra raça bovina especializada para o corte, com a vantagem de ser uma raça bovina criada pela própria natureza para a região tropical. Suas principais características são: o alto teor de sabor e o baixo teor de gordura de marmoreio.
O aprimoramento e desenvolvimento de novas técnicas de reprodução, bem como o acelerado melhoramento genético da raça, em muito contribuíram para a elevação do tamanho do rebanho nelore (e de seus descendentes), hoje estimado em mais de 80% do rebanho bovino de corte nacional, cerca de 130 milhões de cabeças.
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O Brasil é hoje o principal produtor mundial desta raça que também serve de base para o cruzamento de espécies focando a produção de carne.
Sempre criado e desenvolvido no sistema intensivo de pastagens, o rebanho nelore vem se ampliando cada vez mais, dado que é menos suscetível a doenças, principalmente aquelas promovidas pelos ecto-parasitas.
O gado Nelore é também, sem dúvida, o responsável pela colocação do Brasil como um dos principais exportadores de carne no ranking mundial.
Com informações do MF Rural e Agências – além do criador José da Rocha Cavalcante