Risco de desabastecimento interno de carne está afastado, diz Scot Consultoria. “Não há nenhuma possibilidade de faltar carne para o consumidor”, afirmou.
A elevação no ritmo de exportações de carne bovina para a China provocou uma alta nos preços internos da proteína, mas não gera risco de desabastecimento, disse o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, minutos antes do início do Encontro de Analistas da Scot, realizado na capital paulista. “Não há nenhuma possibilidade de faltar carne para o consumidor”, afirmou.
A avaliação vem na esteira de declarações da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que cogitou a possibilidade de importação da proteína, caso fosse necessário recompor a oferta nacional. A fala da ministra ocorreu durante evento em Mato Grosso do Sul, no início desta semana.
“Não há nenhuma possibilidade de faltar carne para o consumidor”, afirmou.
Segundo o diretor da Scot, o posicionamento de Tereza Cristina não surtiu nenhum evento negativo sobre os preços da arroba no mercado. “Vimos uma acomodação nas cotações em patamares altos porque os frigoríficos diminuíram as compras por medo de não conseguirem repassar as despesas de matéria-prima para os demais elos da cadeia”, explicou.
No mercado futuro, Torres acredita que o recuo nos valores da arroba bovina nada mais é do que realização de lucros pelos investidores, considerando que os preços atingiram níveis muito elevados.
Passada a euforia maior no mercado físico, a tendência é de que o ritmo dos negócios mantenha os preços da arroba do boi próximos dos atuais níveis até o fim deste ano, estima o especialista.
Preço da carne não vai baixar, diz ministra
O preço da arroba do boi gordo, que em São Paulo teve aumento real de 35% em um mês, não vai mais retornar ao patamar anterior. A afirmação é da ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ela disse que a alta das exportações para a China teve forte impacto na valorização da carne. O que também ajudou a puxar o aumento, segundo ela, teria sido a falta de reajuste nos preços nos últimos três anos.
O presidente Jair Bolsonaro, em transmissão pela internet, declarou que a ministra garantiu que, daqui a três ou quatro meses, o preço da carne voltaria à normalidade.
Algumas redes de supermercados têm afirmado que a exportação de carne está limitando a oferta da proteína no País, além de inflacionar o produto. A rede paraense Líder colocou cartazes em suas 20 lojas de supermercados alertando os consumidores sobre problemas com o abastecimento de carne bovina, a alta dos preços e a falta dos produtos nas lojas.
Nos avisos, é informado que os frigoríficos sobem os preços diariamente alegando aumento nas exportações. “Recebíamos tabelas de preços dos fornecedores duas vezes por mês”, diz Oscar Rodrigues, diretor do Grupo Líder. “Agora, elas chegam de dois em dois dias, com a carne sempre mais cara.”
Segundo ele, o grupo abateu todas as cabeças de gado de suas fazendas para minimizar o impacto da alta do preço. Havia cerca de 1.000 cabeças que estavam em condições de abate. “Nossas margens estão bastante reduzidas e fizemos o informativo em respeito ao cliente que, quando perceber o aumento, pode se sentir enganado”, diz Rodrigues. “Nosso cliente é muito fiel e prezamos pela transparência.”
A ministra nega falta de oferta para o mercado nacional. “Não é verdade. Primeiro, o Brasil tem 215 milhões de cabeças de gado. Então, não é um rebanho para acabar amanhã. Segundo, realmente o mercado chinês mexeu com as exportações, e não só da carne brasileira, mas da carne argentina, paraguaia, uruguaia. É muito grande a necessidade da China.”
“Além de o Brasil abrir as exportações, temos de lembrar que o boi tinha um preço represado há três anos. O pecuarista estava tendo prejuízo nesse período”, declarou a ministra. “Antes, o produtor vendia uma arroba por R$ 140, em média. O que aconteceu é que, nesse primeiro momento de abertura, com a China pagando um preço muito bom, houve esse momento, digamos, de euforia. Em São Paulo, uma arroba está sendo vendida a R$ 231.”
Em menos de três meses, o contrafilé registrou índices de aumento acima de 50% e o coxão mole, de 46%, no preço de custo que acaba sendo repassado ao consumidor, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
O Ministério da Agricultura afirmou que está acompanhando de perto a situação e acredita que o mercado “vai encontrar o equilíbrio”. “Não é papel do Ministério intervir nas relações de mercado. Os preços são regidos pela oferta e procura. Neste momento, o mercado está sinalizando que os preços da carne bovina, que estavam deprimidos, mudaram de patamar”, afirmou, em nota.
Questionada se continua a consumir carne vermelha, Tereza Cristina respondeu em tom de brincadeira: “Estou comendo frango. Agora, é só frango”.
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Inflação
Na avaliação de economistas, a alta não só da carne bovina como de outras mercadorias agrícolas – como feijão (de 38,1%, no atacado, até a metade de novembro), café (5,6%) e frango (3,2%) – deve colaborar para uma aceleração da inflação nos próximos meses.
“Deve haver alguma pressão na inflação”, diz Fabio Silveira, da Macro Sector. Ele estima que as altas dos preços dos alimentos, somadas aos dos combustíveis e energia elétrica, devem fazer com que 2020 comece com uma inflação de 4% a 4,2%.
Fonte: Estadão Conteúdo/ F. de S. Paulo