Mudamos a forma de selecionar os animais; destaque para o quase total abandono da percepção humana para inaugurar a era do computador
Por Luiz Antonio Josahkian* – Computadores ajudam, mas sozinhos não resolvem nossos problemas porque ainda é um ser humano que toma a decisão final. Computadores também não saem por aí observando e interpretando o mundo à sua volta. Quem faz isso é gente.
Um programa de seleção deve seguir alguns passos, entre eles, conhecer o sistema de produção até enxergar qual é o tipo de animal adequado e analisar o mercado para saber se esse produto tem demanda. Pronto, já sabemos o que podemos e o que devemos produzir e agora estamos habilitados a definir os critérios de seleção. É sempre bom lembrar que as características ligadas à reprodução são inegociáveis e precedem quaisquer outras, simplesmente porque não se seleciona o que não existe.
Agora sim, podemos determinar o que medir, como medir e em quem medir, adotando características com boa resposta à seleção, fácil mensuração, baixo custo para obtenção e reconhecimento pelo mercado. Bom, mas até agora discorremos sobre como deve ser feito. Mas será que fazemos assim? O mais provável é que (sem generalizar) negligenciamos ou subestimamos todos esses passos, o que nos traz novamente a nossa pergunta: por que TOP 0,1 nem sempre é o melhor? Primeiro, é preciso entender como se obtém o TOP. Ele é baseado em um índice de seleção, é expresso em percentual e representa a posição de um determinado indivíduo em uma população.
O que se faz é obter o índice de cada animal, considerando todas as características, e depois classificá-lo em uma segmentação que vai de 0,1 (os melhores) a 100 % (os piores). Mas isso ainda diz pouco. Isso é só matemática. Biologicamente, sobre o que estamos falando? Índices de seleção traduzem um agregado genético onde atribuímos diferentes ponderações para cada característica, sempre tentando dar maior peso às características biologicamente mais efetivas e de maior valor de mercado.
Como atribuímos diferentes ponderações para as características, é possível que um animal seja negativo em uma característica dentro do índice e seja muito bom em outra. Neste caso, ele pode chegar a ser um TOP 0,1 porque houve uma compensação. E finalmente chegamos à resposta para o questionamento do por que nem todo TOP 0,1 é sempre o melhor. Isso não faz do conceito TOP o vilão da história.
Como qualquer informação, ela precisa ser bem utilizada. Índices são necessários para lidar com muitas características e com muitos animais. O que precisa ser mudado é a interpretação do TOP. Sempre que se deparar com essa informação, lembre-se que ela está indicando a posição do animal em uma população, com base em um critério. Isso é muito eficiente para uma primeira apartação, mas depois você precisa analisar todos os valores genéticos dos indivíduos que te interessaram. Ao fazer isso, temos dois benefícios imediatos:
- conhecer quais características foram analisadas e se elas interessam à sua seleção e,
- saber se o animal é negativo para alguma característica. Por fim, é preciso admitir que não temos avaliação numérica para todas as características e, por isso, uma vez feitas as análises dos dados objetivos, volte a olhar para os animais e avalie o que não foi contemplado com números (e nem por isso menos importante), tais como a funcionalidade, os aprumos, a pelagem, o valor adaptativo (“fitness”), a harmonia.
Top 0,1 é um bom começo, mas não é um fim em si mesmo. Então, da próxima vez que se deparar com um Top 0,1 pergunte-se: “certo, e o que mais temos aqui?”.
Luiz Antonio Josahkian é Superintendente Técnico da ABCZ.
Fonte: Revista Globo Rural, ed. Fevereiro 2017