Mudanças impactam seleção da vaca holandesa moderna

Revisão e alteração da fórmula do GTPI e seus impactos na seleção da vaca holandesa moderna

A formulação de índices em melhoramento serve para ranquear o grupo de touros que melhor combinam características desejáveis de acordo com os critérios adotados por associações de raça e que indiretamente representam os criadores e selecionadores. Nos Estados Unidos os índices mais populares de seleção para ranqueamento de touros são GTPI (Índice de Desempenho Total) e o Mérito Liquido (Net Merit). No Canadá os mais comuns são o GLPI (Índice de Desempenho Vitalício) e o Pro$ (que mensura rentabilidade estimada até sei anos de idade do animal).

Esses índices são populares ao redor do mundo, sendo que nos últimos tempos o GTPI se tornou muito globalizado e passou a ser considerado a ferramenta de seleção que tem norteado o ranqueamento de touros ao redor do mundo. Para produtores com foco mais comercial o Mérito Liquido tem sido mais popular. Além disso, cada propriedade pode estabelecer um critério de seleção que esteja mais coerente com suas expectativas. Contudo, apesar de algumas controvérsias esses índices ainda tendem a ser o parâmetro predominante no ranqueamento dos touros.

Uma questão bastante importante a salientar é que de tempos em tempos os índices são revisados e ajustados. Neste caso é levado em consideração as necessidades do mercado, evidências cientificas e opiniões de criadores, buscando uma forma mais coerente e eficiente de ranquear os touros. O último ajuste do GTPI foi realizado em 2015 e, considerando a velocidade do ganho genético e as necessidades do mercado, um novo ajuste e, neste caso significativo, será realizado na rodada de provas de agosto de 2017. Esse artigo visa explicar e discutir essas mudanças.

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Foto: Divulgação

A busca de conformação considerada mais funcional

De maneira geral a raça holandesa tem sido bastante eficiente em atingir altos patamares de produção. Além disso, tem melhorado de forma eficiente e constante itens de saúde e fertilidade, desde que em 1994 esses itens foram introduzidos nas provas dos touros. No entanto, um grande questionamento atual da maioria dos produtores ao redor do mundo é que as vacas estão ficando grandes demais e que é necessário diminuir ou cessar o incremento de estatura nas próximas gerações.

Portanto, é quase um consenso nesse sentido de produtores mais progressistas. Levando em consideração essa “pressão “por parte do mercado, o Comitê de Avanço Genética da Holstein USA (Associação de Gado Holandês dos Estados Unidos) adotou medidas significativas para continuar o melhoramento em úberes, pernas e pés, mas com ênfase em dissociar essas características de estatura, o que potencialmente ocasionará a diminuição do incremento em estatura.

Estatura tem tido uma correlação alta com outros itens de conformação como úbere e pernas e patas. Uma explicação possível seria as linhagens, porém existe um clamor de alguns produtores de que classificadores, jurados e técnicos tendem a pontuar vacas mais altas com melhores pontuações de úberes e pernas.

Dessa forma, como pode ser visto nas tabelas 1 e 2, no composto final de úbere e pernas e pés do novo índice ajustado, foi colocado um peso negativo para estatura, portanto realizando assim um ajuste que dissocia as características morfológicas mais importantes que são úberes e pernas e pés de estatura. Com essa alteração a correlação de estatura com úberes caiu de 0.56 para 0.37 e de pernas e pés caiu pela metade, de 0.46 para 0.23.

TABELA 1. COMPOSTO DE ÚBERE

CaracterísticaANTERIOR2017
 %%
ALTURA ÚBERE POSTERIOR0.160.23
PROFUNDIDADE UBERE0.350.20
LARGURA DE UBERE POSTERIOR0.120.19
INSERÇÃO UBERE ANTERIOR0.160.16
LIGAMENTO CENTRAL0.090.08
COLOCAÇÃO TETOS POSTERIORES0.070.05
COMPRIMENTO TETAS/0.05
COLOCAÇÃO TETOS ANTERIORES0.050.04
ESTATURA/-0.20

TABELA 2. COMPOSTO PERNAS E PÉS

Caraterística ANTERIOR 2017
 %%
ESCORE PERNAS E PÉS0.500.70
PERNAS VISTA DE TRÁS0.1850.21
ANGULO DE CASCO0.240.09
PERNAS VISTA LATERAL0.0750
ESTATURA/-0.20

No composto de úbere algumas outras mudanças importantes foram implementadas. De agora em diante tetas muito curtos serão penalizados o que tem sido um questionamento cada vez mais comum de vários produtores. Além disso, tetas posteriores muito próximas também serão pontuadas negativamente. Nas características Altura e Largura de úbere posterior houve incremento do peso em detrimento de profundidade de úbere.

Na verdade, vacas jovens cada vez mais produtivas são a motivação dessas mudanças de úbere. Na questão de pernas e pés, a característica Pernas Vista Lateral não é mais considerada no composto e houve um aumento significativo no Escore de Pernas e Pés, visando dar mais importância a questão de locomoção como um todo.

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Vacas Holandesas

Livability (Capacidade da vaca permanecer viva)

Em agosto de 2016 foi introduzida uma nova característica, Livability, que determina a capacidade da vaca permanecer viva no rebanho. Portanto, existe diferença dessa característica com Vida Produtiva, que indica o tempo de permanência da vaca em lactação no rebanho antes de morrer ou ser descartada. Foi decidido pelo comitê, após um ano de introdução dessa característica, de incluir Livability no GPTI, portanto Vida Produtiva que antes representava 7% no índice, passa a ser 4% e 3% será para Livability. Existe uma correlação alta de 0.7 entre as duas características.

Mas adicionar Livability na equação vai ser útil pois com menos mortalidade há um impacto positivo na operação leiteira em geral, pois diminuir mortalidade é sempre desejável e além do mais há um incremento com o faturamento com vendas de vacas de descarte. O número de Livability indica a porcentagem de mortalidade em relação à média de raça. Quando um animal é 2% positivo para Livability indica que suas filhas permanecem 2% vivas a mais que a média da raça. Dessa forma, a diferença de um touro de -2% a 2% seria 4% mais de filhas que permanecem vivas.

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Foto: Divulgação

Eficiência Alimentar

O índice de eficiência alimentar foi implementado há alguns anos para provas de touros e a formulação do índice foi baseada em opiniões e bom senso. Na verdade, baseia-se no conceito de que um animal com menor mantença e produzindo a mesma quantidade de leite é mais eficiente. Uma questão promissora nesse sentido é que um grande trabalho cientifico está sendo conduzido atualmente em conjunto por várias universidades na América do Norte. Nesse trabalho estão sendo avaliadas filhas de vários touros e eficiência alimentar, o que vai trazer muita informação de qualidade e confiabilidade para essa característica nos próximos anos.

Sendo a fórmula original:

Eficiência alimentar= (Valor do leite produzido) – (Custos Alimentares) – (Custo Mantença).

O índice revisado em 2017 é:

Eficiência alimentar= -0.0187x Produção de Leite + 1.28 x Produção de Gordura + 1.95 x Produção de Proteína – 12.4 x Composto de Corpo.

O peso de Eficiência Alimentar no índice final de GPTI aumentou de 3 para 8%, um incremento significativo e que corrobora em benefício de touros com menor composto corporal no índice final de GTPI, alinhado assim com a tendência de diminuir o incremento de estatura na raça Holandesa. No caso do GTPI parte do que aumentou em Eficiência Alimentar foi diminuído do peso para produção de proteína (27 foi para 21%), sendo assim ficou mais equilibrado proteína e gordura (incremento de 1%) no índice final (21 % para proteína e 17 % para gordura) (tabela 3).

Resumo

As alterações devem gerar um impacto no ranqueamento dos touros, no entanto de maneira geral o grupo de touros líderes deve permanecer similar com alguns realinhamentos e alguns touros e linhagens devem ser mais beneficiados que outros. Como toda mudança, poderá ter impacto e será no primeiro momento um ajuste numérico. O que é importante frisar é que a médio prazo deve nortear algumas alterações nas próximas gerações de vacas.

Por último, esta alteração parece ter sido motivada por solicitação do mercado e de vários questionamentos que o comitê achou coerente e pertinente. No dia a dia de seleção o produtor deve saber que caminho a seguir e ter suas prioridades e este ajuste pode se tornar uma ferramenta a mais nas escolhas e decisões da estratégia genética de cada rebanho. Na tabela 3 temos uma comparação das principais mudanças no GTPI:

Tabela 3. Comparação do GTPI – Agosto de 2017 e anteriores.

CaracterísticaANTERIOR2017
 %%
LEITE00
GORDURA1617
PROTEÍNA2721
EFICIÊNCIA ALIMENTAR38
VIDA PRODUTIVA74
LIVABILITY03
CCS-5-5
INDICE FERTILIDADE1313
FACILIDADE PARTO FILHAS-2-2
NATIMORTOS FILHAS-1-1
PTA TIPO88
FORMA LEITEIRA-1-1
COMPOSTO ÚBERE1111
COMPOSTO PERNAS E PÉS66
RESUMOANTERIOR2017
PRODUÇÃO4646
SAÚDE E FERTILIDADE2828
CONFORMAÇÃO2626

Flávio Marcos Junqueira Costa 
Médico Veterinário e Coordenador Semex Progressive
(47) 9.9653-6064
flavio@semex.com.br

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