Mudança climática favorece fungo causador da Brusone no trigo

A brusone, doença causada pelo fungo Pyricularia oryzae Triticum (Magnaporthe oryzae patótipo Triticum), que pode comprometer até 100% da produção em áreas infectadas.

As mudanças climáticas estão trazendo desafios preocupantes para a produção de trigo global. Uma das ameaças mais emergentes é a brusone, doença causada pelo fungo Pyricularia oryzae Triticum (Magnaporthe oryzae patótipo Triticum), que pode comprometer até 100% da produção em áreas infectadas. As informações são baseadas em dados divulgados pelo ClimaTempo.

A doença tem o potencial de afetar 13,5 milhões de hectares globalmente e, de acordo com o estudo “Production vulnerability to wheat blast disease under climate change” (Vulnerabilidade da produção de trigo à brusone sob mudanças do clima), publicado na revista Nature Climate Change, há um risco de redução de 13% na produção mundial de trigo até 2050.

O que é a Brusone?

A brusone é uma doença de grande impacto econômico que afeta a cultura do trigo, atacando folhas e espigas, e foi identificada pela primeira vez no Brasil em 1985, no estado do Paraná. Desde então, o fungo se espalhou para outras regiões brasileiras, como Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás e Minas Gerais, e para diversos países da América do Sul. Em condições ideais, com altas temperaturas e umidade, o fungo se desenvolve rapidamente, causando danos severos às plantações.

Segundo o pesquisador José Maurício Fernandes, da Embrapa Trigo (RS), o avanço do fungo em áreas com clima tropical e subtropical é notável. No entanto, o que mais preocupa é a capacidade do fungo de se adaptar a regiões de clima frio, como observado no norte de Bangladesh, onde sobrevive ao clima seco e baixas temperaturas.

Impactos da Brusone no Trigo no Brasil

No Brasil, a brusone tem se manifestado com mais frequência, especialmente no Rio Grande do Sul, onde surtos foram relatados na safra de trigo de 2023, particularmente no noroeste do estado. As altas temperaturas no inverno gaúcho, com mínimas acima de 15ºC, favoreceram o desenvolvimento do fungo. Esse comportamento é um reflexo direto das mudanças climáticas, que estão aumentando as temperaturas e alterando os padrões de precipitação em várias partes do mundo.

“Num cenário de mudanças climáticas globais, com aumento de temperaturas e variação do regime de chuvas, o fungo vai encontrar novos ambientes para se instalar”, alerta Fernandes. Ele ainda destaca que a dispersão dos esporos do fungo pode ocorrer pelo vento ou pelo comércio internacional, através de grãos e sementes contaminadas.

Brusone no trigo pode chegar a novos continentes

A brusone, que já é uma ameaça significativa em países da América do Sul, pode se expandir ainda mais com o aumento das temperaturas globais. Projeções indicam que, até 2050, as áreas vulneráveis à brusone podem crescer de 13% para 30% nos países sul-americanos. A doença também poderá atingir áreas de cultivo de trigo nos Estados Unidos, México, Uruguai, Itália, Espanha, França, Japão, e até na Austrália e África.

Expectativas para a Safra de Trigo no Brasil em 2024

Mesmo com os desafios climáticos e a ameaça da brusone, as expectativas para a safra de trigo no Brasil em 2024 são otimistas. Segundo dados divulgados ontem, 12 de setembro de 2024, pelo IBGE, a produção nacional de trigo deverá crescer 5% em relação ao ano anterior, com uma estimativa de colheita de 10,4 milhões de toneladas. Esse aumento é reflexo de investimentos em tecnologias de manejo e controle de doenças, como a brusone, além de um cenário climático mais favorável em algumas regiões produtoras.

A continuidade desse crescimento, no entanto, depende da capacidade dos produtores em mitigar os impactos da brusone e das mudanças climáticas.

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