
A aproximação recente do Governo Lula – com visita do presidente Lula ao acampamento do grupo – e a chegada do Abril Vermelho, período em que o movimento intensifica as invasões de áreas, deixam o agro em alerta.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) reforça a pressão sobre o governo federal e promete intensificar as invasões no próximo Abril Vermelho. Após reuniões com representantes do governo e um pedido por “mais paciência”, o grupo alega que suas demandas seguem sem atendimento adequado e que novas ocupações são inevitáveis.
A aproximação do governo Lula com movimentos de reforma agrária gera preocupação entre representantes do agronegócio e parlamentares ligados ao setor. Além das dificuldades enfrentadas por produtores, como a estiagem e enchentes no Rio Grande do Sul, a possibilidade de novas invasões de terras consideradas improdutivas – pelo julgo do próprio movimento do MST e não necessariamente pelos órgãos competentes – intensifica o clima de insegurança jurídica.
Paralelamente, em alguns estados, avançam propostas de taxar a atividade agropecuária, o que eleva ainda mais as tensões.
Em resposta, a bancada ruralista apresentou um pacote anti-invasão, com medidas para punir e impedir ocupações de terras. O grupo também monitora os desdobramentos do Abril Vermelho, quando o MST tradicionalmente aumenta suas ações.
Visita de Lula ao MST aumenta tensão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou o Acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio (MG), onde participou do Ato Nacional em Defesa da Reforma Agrária. A visita, que ocorreu nesta sexta-feira (07), contou com a presença de ministros como Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), parlamentares e apoiadores do movimento.
Durante o evento, Lula anunciou investimentos de R$ 1,6 bilhão para assentamentos rurais, incluindo habitação, apoio a jovens e mulheres e fomento à produção agrícola. Além disso, o governo confirmou a desapropriação da Usina Ariadnópolis, onde o acampamento está instalado desde 1996. Segundo o prefeito de Campo do Meio, Samuel Azevedo (PSD), a ocupação não ocorreu sobre uma propriedade produtiva, mas sobre uma área de uma empresa falida.
A visita também tem um peso político importante. O Deputado Federal Luciano Zucco (PL/RS) avalia que o encontro faz parte de uma estratégia do governo para reorganizar sua base aliada em meio à queda na popularidade do presidente.
“É um governo que está derretendo sob o ponto de vista da avaliação popular e que precisa buscar apoio de setores mais radicais”, declarou ao Notícias Agrícolas.
Aumento das invasões preocupa setor agropecuário
Dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostram um aumento de 213% no número de invasões de terras entre 2022 e 2023. Somente em abril de 2024, o MST ocupou 35 propriedades, um salto significativo em relação ao ano anterior. Esse crescimento gerou preocupação na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que pressiona por soluções que garantam segurança ao produtor rural.
O professor de direito agrário Albenir Querubini critica a influência do MST nas políticas de reforma agrária, argumentando que o movimento perpetua violações ao direito de propriedade e atua de forma ilegal. Para ele, a associação do governo com o MST ocorre em um momento de crise econômica, com desvalorização do real, inflação de alimentos e dificuldades fiscais.
Reação da FPA e novas medidas contra invasões
Em fevereiro, o governo regulamentou, pelo Decreto 12.373/2025, o poder de polícia da Funai, permitindo ao órgão adotar medidas cautelares para proteger terras indígenas, incluindo restrição de acesso e retirada compulsória de terceiros. Em resposta, a FPA solicitou à Câmara dos Deputados a anulação do decreto, alegando risco de conflitos agrários.
Paralelamente, a CNA lançou um canal de denúncias para invasões rurais e, em parceria com a FPA, desenvolveu uma cartilha sobre ocupações de terras, abordando legislação, histórico e consequências das invasões.
A promessa do MST de intensificar invasões no Abril Vermelho coloca o governo em uma posição delicada, tendo que equilibrar as demandas dos movimentos sociais e a pressão do setor agropecuário. Com o aumento das ocupações e o histórico de tensões, a relação entre o MST, o governo e o agronegócio deve seguir como um dos principais focos de embate político nos próximos meses.
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