Variedades resistentes a pior doença da cultura são pesquisadas há mais de uma década; entidade defende maior prevenção sobre circulação do cupuaçu
Em um momento onde os preços do cacau estão em altos patamares e o Brasil atrai olhares do mundo diante de seu potencial produtivo, uma palavra causa arrepios no campo: monilíase do cacaueiro.
A doença fúngica que já devastou lavouras de cacau em diversos países da América Latina é considerada quarentenária no Brasil, ou seja, embora haja registro no país, sua presença não está amplamente distribuída entre todas as regiões e está sob controle oficial.
Contudo, o receio e os cuidados devem ser redobrados. Dentre as doenças que ocorrem no cultivo do cacau, a monilíase está entre as mais drásticas, podendo resultar em perda de até 100% da produção. Embora os casos, até então, tenham sido detectados em localidades (no Amazonas e no Acre) distantes de grandes produções comerciais, os riscos são potenciais, uma vez que a proliferação da doença pode ocorrer tanto pelo ar, quanto pelo contato direto com os esporos do fungo, que podem chegar a 44 milhões por centímetro quadrado.
“O fungo que causa a monilíase é um fungo que sobrevive meses e anos. Ele fica no celular, na roupa, no sapato […] Ele também sobrevive em amêndoas não fermentadas, sobrevive a pleno sol, à baixa temperatura ou alta temperatura, sobrevive independente da altitude- se baixa ou alta – e os dados históricos mostram que ele dizima as plantações porque os frutos ficam todos incrustados. É uma doença de dentro pra fora, de difícil detecção”, explica a Agro Estadão a Coordenadora Regional de Pesquisa e Inovação da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Karina Peres Gramacho.
Atualmente os pesquisadores da Ceplac seguem na busca por variedades de cacaueiros resistentes à doença. Eles também desenvolvem ações integradas para estabelecimento de várias medidas de manejo para controle com demais pesquisadores do Brasil e do exterior, principalmente dos países onde a monilíase já ocorre, como Equador, Peru e Costa Rica. Essas ações estão inseridas no Programa Preventivo à Monilíase do Cacaueiro.
O ambicioso programa de melhoramento que visa a desenvolver variedades resistentes à monilíase iniciou há mais de dez anos, antes que a doença chegasse ao país. Conforme explica Uilson Lopes, pesquisador da Ceplac, os estudos desenvolvidos no campo experimental localizado em Ilhéus, Bahia, têm obtido resultados promissores a partir do cruzamento genótipo. “Além de maior resistência à pragas, as pesquisas também buscam obter variedades mais produtivas”, diz o pesquisador.
Assim como na cadeia do cacau, orientações devem ser reforçadas quanto ao trânsito do cupuaçu
O cupuaçu também é uma fruta suscetível à monilíase. Por isso, a presidente executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), Anna Paula Losi, alerta para a necessidade de campanhas voltadas à orientação, não somente de produtores, mas também de consumidores. Como o trânsito do cupuaçu acontece em maior escala, quem compra e/ou transporta a fruta pode servir como vetor da doença.
“É muito raro o cacau transitar como fruta, mas o cupuaçu já transita bastante. A gente está trabalhando a comunicação não só com o produtor mas com o cidadão comum, que pode ir passear no Amazonas, depois vai para a casa dele em São Paulo, pode passar um mês lá, e depois vem para a Bahia e pode trazer o esporo da doença, que pode estar na roupa, no sapato […]”, exemplifica a presidente executiva.
Focos de monilíase do cacaueiro no Brasil
O primeiro foco da praga no Brasil foi identificado em julho de 2021 em área residencial urbana no município de Cruzeiro do Sul, interior do Acre. Em novembro de 2022, o segundo foco foi detectado no município de Tabatinga, no estado do Amazonas, e no dia 2 de julho de 2024, teve a ocorrência do terceiro foco no município de Urucurituba, também no Amazonas. Conforme o Ministério da Agricultura e Pecuária, ambos os estados se encontram sob ações permanentes de controle, com vistas à sua erradicação.
Devido à proximidade com o Amazonas, o estado do Pará foi incluído no status de emergência fitossanitária relativa ao risco de introdução da monilíase do cacaueiro. Para especialistas, a entrada da doença no estado seria uma catástrofe, pois, além da perda dos frutos, a introdução da doença em uma lavoura acarretaria na elevação do custo de produção, tornando inviável o controle da praga.
“O produtor rural vai precisar ter de um a dois homens para cada hectare somente para ficar na árvore de cacau vendo se tem fruto doente, porque você tem que tirar o fruto quando dá a mancha marrom, porque a [mancha] branca já são os esporos. O manejo cultural é a melhor prática de controle, pode ser que o senhor ‘João Maria’ encontre uma planta altamente resistente, mas sem o manejo cultural, que é retirar e desacatar o fruto [seguindo orientações técnicas]”, comenta Karina Peres Gramacho.
Fonte: agro.estadao.com.br
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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