Minerva reduz abates e pode alternar operações

Um das maiores produtoras de carne bovina se prepara para alternar as operações de abate entre os Estados, no caso de uma infecção por coronavírus em funcionários.

A Minerva Foods, um das maiores produtoras de carne bovina do Brasil, já se prepara para alternar as operações de abate entre os Estados, no caso de uma eventual infecção por coronavírus em funcionários que leve ao fechamento de alguma unidade da empresa.

“Todos estamos nos preparando para o caso de isso acontecer, substituir (os abates de) uma fábrica por outra, dentro do possível”, disse o diretor de Relações Institucionais da Minerva, João Sampaio, em webinar nesta terça-feira.

Além disso, o executivo disse que a empresa reduziu o total de animais abatidos, uma vez que medidas preventivas também levaram a um menor número de trabalhadores nas unidades.

“Nas fábricas, diminuímos o número de pessoas e animais que podem ser abatidos, tivemos várias plantas fiscalizadas pelo Ministério Publico”, disse.

Na webinar, ele não especificou em quanto a empresa reduziu o total abatido. Após ser procurado pela Reuters, disse que a medida foi adotada em algumas unidades.

Em meados do mês passado, a Minerva anunciou a suspensão de operações de abates em quatro unidades no Brasil, como medida preventiva ao coronavírus e por questões logísticas também relacionadas à doença. Tais paralisações, segundo disse a empresa na época, durariam até 15 dias.

A companhia conta com uma dezena de frigoríficos no Brasil e unidades na Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai e Uruguai, que integram a subsidiária Athena Foods.

Até o momento, nenhum funcionário da companhia testou positivo para o Covid-19, disse o executivo.

PLANOS

Segundo ele, no Minerva, um grupo de executivos se reúne todos os dias para tratar de medidas em meio à crise do coronavírus.

O único gargalo citado por Sampaio, caso seja necessário alternar as operações, é a diferença tributária entre os Estados.

“Embora tenhamos uma vantagem geográfica para fazer alterações, do ponto de vista tributário é dificílimo.”

Nos Estados Unidos, casos confirmados da doença levaram ao fechamento de frigoríficos e estão empurrando o país “perigosamente para perto do limite” em relação à oferta de carnes a mercados, disse a Smithfield Foods, maior processadora de carne de porco do mundo.

Os fechamentos e diminuição do número de funcionários nas unidades contribuíram para a queda do preço dos animais nos Estados Unidos, uma vez que os produtores encontram menos locais para abate.

Caso o cenário que ocorre no mercado norte-americano se replique no Brasil, o sócio diretor da Radar Investimentos, Leandro Bovo, disse que a indústria brasileira tem como vantagem competitiva a distribuição das unidades entre as regiões.

“Aqui o risco não fica tão concentrado… Ao invés de termos frigoríficos maiores, com capacidade para abater 5 mil cabeças por dia, temos um número maior de plantas que não passam de 2 mil cabeças abatidas por dia.”

“Se uma planta brasileira parar, você pode mover aqueles abate para outras plantas com menos dificuldade e menor impacto para o mercado”, acrescentou Bovo na webinar.

Dentre os impactos do coronavírus, a redução dos empregos e a queda na renda média da população afetam a demanda interna por carnes, disse o representante do GPB/Datagro, Leonardo Bacco, mas a oferta de gado está mais restrita devido à retenção de fêmeas, o que pode dar algum equilíbrio para o mercado pecuário.

“O impacto maior está nos mercados de carne premium, geralmente consumida aos fins de semana, em restaurantes e hotéis, um consumo que não está acontecendo neste momento.”

Já sobre a precificação do boi gordo, apesar da queda na demanda por proteína animal, a expectativa de Bacco é que as cotações não cairão abaixo dos níveis verificados em 2019, ou seja, devem permanecer acima dos 150 a 170 reais por arroba.

Para ele, a firmeza nas exportações para a China tem ajudado a precificar melhor a carne comercializada no mercado interno e externo.

Somente em março, os chineses dobraram as importações de carne bovina do Brasil, apoiados pelo aumento no número de unidades habilitadas em relação ao mesmo período do ano passado e pela recomposição de estoques, depois de terem recuado nas compras em fevereiro.

“A demanda da China por carnes do Brasil não é momentânea”, afirmou o diretor da Minerva Foods.

Segundo Sampaio, parte do forte crescimento nas importações chinesas ocorrido no ano passado foi decorrente do avanço da renda da população e do aumento no consumo de carne em centros urbanos do país asiático.

“Nosso concorrente direto para o fornecimento lá (na China) é a Austrália, que passou por incêndios e teve redução no rebanho.”

“Neste momento, pelo tamanho do rebanho e situação geográfica, temos uma condição que nos faz únicos na produção de carne bovina”, disse o diretor.

Soma-se a isso a valorização do câmbio, que tornou as exportações brasileiras mais atrativas para o setor.

Fonte: Reuters

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