Milho: perspectivas do mercado no Brasil e no mundo

O Brasil, deve registrar um aumento na demanda devido à crescente busca global por biocombustíveis, nos quais o milho é uma matéria-prima fundamental.

1. Uma análise macro do mercado no mundo e no Brasil, para os próximos anos

O mercado global de milho apresenta um cenário promissor, impulsionado pela crescente demanda do grão pelo seu papel como alimento básico e seu papel na produção de ração animal. Além disso, o uso do milho como matéria-prima na produção de etanol, sua aplicação nas indústrias de processamento de alimentos e sua utilidade no setor de insumos agrícolas têm aumentado a procura, o que reforça uma perspectiva de mercado sólida.

Por exemplo, a crescente preocupação dos consumidores em se alimentar de maneira saudável e a busca por alimentos ricos em nutrientes, o movimento de preferência por produtos com ingredientes naturais, sem conservantes e ingredientes artificiais, tem impulsionado a demanda por sêmola de milho, amplamente consumida como alimento matinal e utilizada em produtos assados devido à sua textura e propriedades de ligação. A América do Norte lidera o mercado, apoiada pelo grande setor de café da manhã nos Estados Unidos da América. Já a região da Ásia-Pacífico deve emergir como o mercado de crescimento mais rápido, impulsionado pelo aumento da população preocupada em cuidar melhor da saúde, especialmente em países como Índia e China. 

Uso de biotecnologias reprodutivas para aumentar a eficiência da cria

O Brasil, deve registrar um aumento na demanda devido à crescente busca global por biocombustíveis, nos quais o milho é uma matéria-prima fundamental. A demanda interna, da mesma forma, deve fomentar-se, devido ao crescente número de usinas de etanol que utilizam o milho como matéria prima. Além disso, o aumento no consumo de produtos alimentícios à base de milho também deve impulsionar o mercado. 

No âmbito da produção, a pujança do setor agrícola brasileiro, através de inovações em biotecnologia e métodos agrícolas mais eficientes prometem melhorar a produtividade das lavouras de milho, o que fortalece a posição do Brasil no mercado mundial, além de aumentar a oferta, fazendo frente à demanda. Entretanto, os efeitos adversos no clima resultantes das mudanças climáticas vão gerar impactos temporários em algumas áreas produtoras, com quebra de safras esperadas de tempos em tempos, o que altera a dinâmica do mercado. Cabe às instituições de pesquisas brasileiras e entidades privadas o desenvolvimento de variedades e métodos de manejo para a superação desse problema, o que está em andamento.

2. Cotações e exportações

Após um período de alta nas cotações do milho no começo do ano, a cotação caiu e manteve-se em relativa estabilidade até meados de setembro. Entre setembro e dezembro, as cotações no mercado interno passaram por oscilações significativas, influenciadas por diversos fatores climáticos e de oferta e demanda (figura 1). 

Figura 1.
Cotações de milho de dezembro de 2023 a dezembro de2024 (até o dia 13).

Fonte: Scot Consultoria

No início de outubro, os preços subiram, sugerindo uma retração dos vendedores, que limitaram os negócios à espera de valorização, enquanto compradores buscavam recompor estoques em um cenário de clima quente e seco no Centro-Oeste. Esse movimento elevou o preço médio para R$66,63/saca na primeira quinzena do mês, uma das maiores cotações desde o começo do ano.

No último dia de outubro (31), a cotação atingiu R$72,94 e acumulou alta de 13,0% no mês, impulsionado pela baixa disponibilidade no mercado físico e pela cautela de vendedores. Apesar das preocupações iniciais com o clima, a regularização das chuvas favoreceu o avanço da semeadura, que superou o ritmo do ano anterior. 

No entanto, em meados de novembro, a tendência de alta perdeu força com o afastamento de compradores, influenciados por exportações lentas e quedas nos contratos futuros. A produção na safra 2024/25 foi ajustada em 3,6% para cima, o que contribuiu para expectativas de maior oferta futura, segurando os preços. 

Agora, em dezembro, os preços enfrentam pressão de baixa, com os consumidores ainda retraídos e os impactos climáticos minimizados pelas condições favoráveis à semeadura e ao desenvolvimento da safra verão. Apesar disso, no início do mês, a retração de vendedores equilibrou parcialmente o mercado, resultando em liquidez limitada. O período também foi marcado pela cautela nas negociações devido a questões fiscais, um comportamento típico nessa época do ano. 

No ano que vem, as incertezas sobre a oferta no ciclo 2024/25 reforçam a tendência de alta, mesmo com a expectativa de maior produção. A área semeada na primeira safra está menor, o que torna a produtividade um fator para manter os níveis de produção. Apesar da menor preocupação com a semeadura da segunda safra, o potencial produtivo da safra ainda está para ser anunciado. Sendo assim, num contexto de alta demanda e oferta incerta, as cotações em 2025 deverão ter poucas chances de cair, com exceção para eventos sazonais. 

Pensando no próximo ano, a alta do dólar deve favorecer a exportação do grão. Observe na próxima figura as cotações em US$. 

Figura 2.
Cotações do milho em grão em dólares.

Fonte: Scot Consultoria, Ipea

De forma contrária ao que aconteceu com os preços em reais, os preços em dólares nunca atingiram as máximas do ano, fato que demonstra a valorização da moeda norte-americana frente ao real. As exportações tendem a ficarem aquecidas pois os comerciantes brasileiros recebem em dólar, mas honram seus gastos em real. 

Antagonicamente, nesse ano de 2024, as exportações brasileiras de milho têm sido relativamente baixas, com decréscimo de 28,7% quando comparado ao mesmo período de 2023 (tabela 1). 

Tabela 1.
Exportações brasileiras de milho em grãos, de janeiro a novembro (em todos os anos).

Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria

A retração da oferta pelos vendedores esperando preços melhores, como citado, é um dos fatores que ajudam a explicar a redução no volume exportado. Outro fator foi a oferta elevada nos Estados Unidos, o que fez o Brasil perder, ainda que por pouco e breves momentos, a competitividade no mercado internacional. Fechando a lista de fatores, o crescimento de usinas de etanol a base de milho aumentou o consumo e ofertou preços relativamente melhores do que nos portos, direcionando parte do milho que seria exportado para as usinas. 

Pensando no ano que vem, o Brasil tem oportunidade de ampliar a participação no mercado de grãos em alguns países europeus, devido à menor oferta exportável da própria União Europeia e dos países da região do Mar Negro, principalmente Romênia e a Ucrânia, este último, tem a sua menor produção de milho desde a safra 2012/13. 

No entanto, não é um cenário fácil. Neste ano, os Estados Unidos se tornaram um fornecedor muito competitivo, impulsionados por preços CIF (custo, seguro e frete incluídos no valor da compra) mais baixos nos portos da Europa e principalmente nos portos do mediterrâneo, competitividade resultante da produção elevada nos EUA e demanda doméstica no Brasil, conforme citado. Compradores espanhóis, por exemplo, compraram, em 2024, 590 mil toneladas de milho norte-americano, um mercado que tradicionalmente era ocupado pelo Brasil ou pela Ucrânia. 

3. Usinas de etanol de milho e estados produtores

Os principais estados produtores no Brasil são o Mato Grosso, seguido pelo Paraná e por Goiás (tabela 2)

Tabela 2.
Estados por produção de milho em grãos.

Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria

Observe no mapa do Brasil onde o milho é produzido (figura 3).

Figura 3.
Lavouras de milho no Brasil.

Fonte: USDA / Elaboração: Scot Consultoria

A localização geográfica das lavouras de milho está intimamente relacionada a localização geográfica das usinas de etanol, observe a localização dessas usinas (figura 4). 

Figura 4.
Usinas de etanol no Brasil.

Fonte: Rafael Vieira / Elaboração: Scot Consultoria

Essa proximidade é estratégica para reduzir os custos logísticos com transporte de matéria-prima, que representam uma parcela significativa do custo de produção do etanol. Além disso, estar próximo das áreas de produção facilita o abastecimento constante das usinas. Dessa forma, agrega-se valor ao produto localmente antes do transporte. 

Adam Smith, em 1776, no seu livro “A Riqueza das Nações”, já dizia que países do centro da África e do centro da Ásia eram os mais pobres. Mais de 200 anos depois, isso continua valendo. Smith argumentava que o transporte marítimo é muito mais eficiente e barato do que o terrestre e que o acesso ao mar facilitava o comércio internacional, fomentando a economia. 

Mesmo hoje, depois de tantas revoluções tecnológicas e avanços dos meios de transporte e infraestrutura, as distâncias ainda são uma barreira, e ainda possuem um impacto no custo e no acesso aos mercados. Quanto mais a economia se torna globalizada, cada vez mais se depende de uma cadeia de valor de produtos e suprimentos que vem de cada parte do mundo, e, dessa forma, os transportes e a logística são essenciais para o desenvolvimento da economia. 

Qual a relação disso com o milho? A relação é que Mato Grosso está no coração do Brasil, longe dos portos marítimos do Atlântico, como Santos (SP) e dos portos no Norte, como Miritituba, que se conecta ao porto de Barcarena (PA) via o Corredor Logístico Norte. O transporte de milho até esses portos depende majoritariamente de rodovias, que possuem custos elevados à longa distância e à infraestrutura rodoviária deficiente. O elevado custo logístico “reduz” a competitividade do milho mato-grossense no mercado internacional.

O que impressiona é que, mesmo com o fator logístico jogando contra, o Mato Grosso continua sendo o maior produtor de milho do Brasil, devido à sua alta produtividade. Em contraste com a pífia economia brasileira, que possui em seu cerne economistas heterodoxos, a economia agrícola do Brasil é realmente de tirar o fôlego, sobrevive e triunfa mesmo sob a mira destes malfeitores.

Fonte: Scot Consultoria

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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