O Sistema de Plantio Direto que começou no Paraná revolucionou a agricultura brasileira, permitindo um avanço de produção e sustentabilidade
O Sistema de Plantio Direto (SPD) transformou a prática agrícola contemporânea. A semeadura diretamente na palha e a adoção de uma cobertura de matéria vegetal sobre o solo nu e sem revolvimento contribuíram para avanços na produção e na sustentabilidade das lavouras. Para celebrar os 50 anos da adoção desse sistema o Museu do Plantio Direto de Mauá da Serra, com apoio do Sistema FAEP, promoveu em outubro um evento para marcar a data, que, em 1974, registrou o primeiro plantio direto no Brasil. A escolha coincide com a comemoração do Dia Nacional do Plantio Direto.
- O Plantio Direto é a técnica de semeadura na qual a semente é colocada no solo não revolvido (sem prévia aração ou gradagem leve niveladora) usando semeadeiras especiais. Um pequeno sulco ou cova é aberto com profundidades e larguras suficientes para garantir a adequada cobertura e contato da semente com o solo.
Além de resgatar a história de pioneirismo dessa prática, o evento comemorativo que contou com a presença de produtores rurais, representantes de cooperativas e empresas que atuam na área, autoridades municipais e estaduais, fortalece a importância do plantio direto na agricultura.
“A agricultura brasileira teve um avanço significativo de qualidade e produtividade com a adoção do plantio direto. Hoje mais de 90% das lavouras paranaenses são cultivadas neste sistema, trata-se de uma estratégia fundamental para conservação do solo e dos recursos hídricos”, destacou o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette.
Na década de 1970, antes do plantio direto, o produtor precisava arar e gradear a terra. Esse tipo de manejo resultava em erosão e perda da fertilidade do solo, empobrecendo a terra.
“Naquela época se praticava a agricultura convencional, que prevê o preparo do solo despovoado e livre de matéria orgânica. Com esse processo, tínhamos compactação e erosão, o que tornava a agricultura impraticável em algumas regiões. Então, ouvimos falar que um alemão de Rolândia estava plantando sobre a palhada, em um sistema completamente diferente”, recorda Sérgio Higashibara, presidente do Sindicato Rural de Mauá da Serra.
O alemão em questão era Herbert Bartz, um dos pioneiros do SPD no Brasil e responsável por levar a prática para diversas regiões do Paraná. Ao lado de Franke Dijkstra, de Castro, e Nonô Pereira, de Ponta Grossa, Bartz consolidou a prática, ensinando a nova técnica e demonstrando as máquinas utilizadas no processo. Hoje esse maquinário utilizado pelos pioneiros está conservado no Museu do Plantio Direto de Mauá da Serra, sediado ao lado do sindicato rural do município.
Bodo Bartz, filho de Herbert Bartz, lembrou dos tempos de menino quando seu pai desbravava uma nova realidade da prática agrícola no Estado, causando espanto entre outros produtores. “Para eles, meu pai e meus tios eram os ‘alemães loucos’. Inclusive, teve muita resistência no começo”, recorda.
Com a técnica difundida pelo país, o maquinário utilizado evoluiu, dando suporte para que os produtores pudessem cultivar áreas cada vez maiores. “Essa é uma história de coragem. Os pioneiros que iniciaram a prática no Paraná não sabiam se iria dar certo, muito menos que estaríamos comemorando 50 anos depois o sucesso”, ressaltou o prefeito de Mauá da Serra, Hermes Wicthoff.
Relação do Plantio Direto com o Meio Ambiente
O Plantio Direto é a mais importante ação ambiental brasileira em atendimento às recomendações da conferência da Organização das Nações Unidas (Eco-92) e da Agenda 21 brasileira, indo ao encontro do que foi acordado na assinatura do Protocolo Verde.
Em algumas regiões do Brasil o plantio direto é conhecido há muito tempo, desde o início dos anos 1970, quando chegou ao país pela Região Sul. Desde então, a adoção por parte dos agricultores tem sido cada vez mais crescente, chegando ao Cerrado. Hoje, a área agrícola sob Plantio Direto no Brasil é de aproximadamente 9 milhões de hectares.
Porém não é somente pelos benefícios ao meio ambiente que muitos agricultores que plantam milho, soja, trigo, feijão e arroz estão adotando o Plantio Direto. Há uma série de outras vantagens como:
- Melhor retenção de umidade havendo maiores rendimentos em anos secos.
- Não ocorrência de erosão e, portanto, não há necessidade de replantio, que implica em novo preparo de solo com conseqüente maior gasto de combustível, sementes e adubos. Isto levará a um aumento considerável nos custos de produção e não livrará o agricultor de fracasso na safra devido ao plantio fora de época.
- Mais tempo para semear (enquanto no Plantio Convencional é possível semear 3 a 6 dias após uma chuva forte, no Plantio Direto é possível semear 6 a 12 dias após uma chuva).
- Aproveitamento de melhores épocas de plantio e no plantio de maior área no mesmo espaço de tempo, principalmente quando ocorrem chuvas esparsas.
Para o secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, Natalino Avance de Souza, o SDP promoveu uma revolução na fertilidade das lavouras paranaenses.
“Conseguimos transformar terra ‘de samambaia’ na melhor agricultura do Brasil. Não temos o maior território, mas temos a maior receita por hectare do país, graças a ousadia dos agricultores impulsionados por um arranjo institucional favorável”, elencou. “Se hoje temos uma agricultura competitiva e sustentável, isso foi graças a esse espírito empreendedor destes pioneiros”, complementou Carina Rufino, chefe de inovação e transferência de tecnologia da Embrapa Soja.
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