O método utilizado pelos produtores é australiano e oportuniza inúmeras vantagens para toda a família e eficiência na mão de obra dentro da fazenda
Jovem casal de produtores de leite de Xanxerê, município do Oeste de Santa Catarina, implantam sistema de gestão em sua propriedade e consegue algo incomum de imaginar na atividade: tirar férias anuais. Método australiano utilizado pelos produtores favorecem várias vantagens a toda a família e trazem eficiência na mão de obra nos serviços da fazenda.
Em intercambio pela Austrália onde o casal se conheceu, a Celis Gasparetto, médica veterinária, adotou o método na propriedade que herdou após o falecimento do avô e do pai.
“Por ter conhecido o sistema de produção de leite na Austrália, já estava em nossos planos de que quando estivéssemos com o rebanho formado, iniciaríamos a estação de monta. Começamos do zero, não contávamos com nenhuma estrutura. Anteriormente uma parte da terra era arrendada para lavoura, então começamos com plantio de pastagens perenes, construção de cercas e aos poucos fomos adquirindo animais. A ordenha era em local improvisado. Tínhamos de pegar um trator emprestado, conseguir recursos de investimentos no banco, construir a sala de ordenha, tudo aos poucos”, afirma a produtora.
No início, o projeto do casal foi implantado com 50 vacas de lactação, e toda a área, de 12 hectares da propriedade eram utilizada. Ao longo do tempo o processo foi se ajustando e hoje em dia, com 200 litros de leite ao ano, utilizando 40 vacas e 14 novilhas. “Projetamos para ser eficiente, para ordenhar nove vacas ao mesmo tempo e através de um sistema automático as vacas já receberem ração enquanto ordenham. O resfriador possui capacidade para armazenar dois mil litros e utilizamos a área total da propriedade mais alguns hectares arrendados”, destaca Celis.
Estação reprodutiva
A produção é sincronizada com o processo reprodutivo, a estação de monta, permite que as vacas fiquem prenhas na mesma época, facilitando o trabalho e evitando que seja necessário empregados nas atividades. “Limitamos a inseminação das fêmeas entre 20 de junho a 30 de agosto, para a parição acontecer em abril e maio, assim o período seco de dois meses pré-parto, que toda vaca tem, se dá em fevereiro e março”, diz Celis.
“A grande vantagem é a concentração e uniformidade dos lotes em cada categoria. Na maior parte do ano temos um único lote, o lote das vacas lactantes. Dois lotes só temos quando inicia a secagem até o dia de secar 100% das fêmeas, em torno de 30 dias, e depois, quando começam a parir tem o lote das lactantes e das vacas secas, que fica por 60 dias. Isso facilita o fornecimento de alimentos e otimização da mão de obra”, salienta a produtora.
“Trabalhamos também com o lote das novilhas que por terem idade bem próxima facilita o fornecimento de alimentos e todos os manejos até chegar a reprodução todas juntas. São várias vantagens que ocorrem ao longo do ano e cada serviço fica concentrado. Uma grande vantagem que vivenciamos ano passado foi o índice de mortalidade de bezerras igual a zero, pois o vazio sanitário no bezerreiro nos permitiu o maior controle de patógenos. Também tivemos uma evolução no valor pago pelo leite, já que vendemos um maior volume no inverno quando o leite teve a maior cotação do ano e no verão quando produzimos um volume bem menor o preço teve uma queda significativa, mas com toda certeza, a qualidade de vida é a vantagem pessoal que resulta de todo este conjunto de fatores”, afirma a produtora.
O dia a dia e as férias
A família consegue tirar férias com o método, e André, responsável pelo manejo aproveita o período para visitar familiares em são Paulo. “No período pré-parto, em março, todas as fêmeas estão prenhas no período seco. É o período em torno de 30 dias que podemos ter as nossas férias. O manejo nesse tempo se resume em trocá-las de piquete, verificar água, sal mineral, tratar as novilhas. Portanto, podemos contratar mão de obra para tal serviço e sair viajar”, diz.
É adaptável a rotina na propriedade, André no manejo e Celis, cuida dos filhos, Valentin e Martin, além da parte mais burocrática da fazenda. “A rotina muda a cada mês. Por exemplo, maio é o mês mais agitado já que tem vacas e novilhas recém-paridas. Tem em torno de 15 bezerras para alimentar, vacas ainda parindo, realizamos o manejo reprodutivo com ultrassonografia, o trato diário com volumoso. O André ordenha alimenta as bezerras. Eu cuido da casa e dos meninos. À tarde, eu trato as bezerras. Fazemos manejos e trato dos animais. Parte de gestão de planilhas, software, controles e financeiro eu faço. A ordenha o ano todo geralmente André faz sozinho. Leva em torno de 40 minutos. Eu faço a ordenha quando precisa”, comenta a produtora.
Celis alerta que existem mudanças na rotina ao longo do ano . “A rotina no inverno muda, pois as bezerras são desmamadas. O tempo gasto com elas é menor. Nesse período também ocorre a estação de monta, onde tem o manejo reprodutivo. Após o última ultrassom, em outubro, não há mais manejos. A rotina fica bem mais leve, onde fazemos mais atividades com a família. Então até tiramos uns dez dias para viajar. De outubro a março é bem tranquilo”, frisa a produtora.
Como unidade de referência técnica, em Santa Catarina, a propriedade recebe visitantes de diversos municípios e estados. “Recebemos para visita técnica produtores de Santa Catarina e outros estados também. O modelo se torna uma opção para quem está iniciando na atividade ou quer modificar o manejo para ter mais qualidade de vida e eficiência na mão de obra”, conclui Celis.