Manta de couro feita na fazenda facilita vida do vaqueiro; confira como método pode melhorar o dia-a-dia do manejo de maternidade entre vaqueiro e vaca
Medir, medir e medir – Este é um o mantra cada dia mais aplicado na Pecuária de corte brasileira. O controle zootécnico é crucial para quem quer ser produtivo, e as avaliações começam logo nas primeiras horas de vida do bezerro. As primeiras horas do nascimento do bezerro são cruciais para que possa crescer e desenvolver-se com toda a saúde necessária. Um dos procedimentos que mais exige cuidado do vaqueiro é a pesagem dos bezerros recém-nascidos, muitas vezes não realizada na fazenda devido a dificuldades de manejo. Dificuldade essa, hora por conta da falta de estrutura, hora pelo temperamento das vacas podem ser decisivos na vida do recém-nascido. Nem sempre o manejo é tranquilo, como neste vídeo:
- A produção de bezerros sadios é um dos fatores da maior importância para o pecuarista e que pode decidir se ele terá lucro ou não.
Evoluir para manejos sanitários mais efetivos é uma forma de tornar a produtividade nas fazendas ainda mais lucrativa. A Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) ajuda o processo de cria e recria por concentrar os nascimentos em um único período na propriedade, o que, em consequência, gera bezerros mais pesados no período de desmama. Com essa bezerrada nascendo todas ao mesmo tempo, ter uma maternidade na fazenda, capacitar os envolvidos nos manejos é fundamental para o sucesso da empreitada.
Com todas essas ações preventivas é possível reduzir a taxa de mortalidade, que geralmente é superior aos 5%. A taxa de mortalidade pode aumentar muito quando os cuidados indicados não são adotados. “Em sistemas com maiores riscos sanitários, com muitas falhas de manejo e higiene ambiental precária, o indicador de mortalidade pode chegar a 28% nas primeiras semanas de vida do bezerro” – Ingo Mello, gerente técnico da Ourofino Saúde Animal.
Manejo de bezerros com manta de couro
Problemas com o manejo de bezerros recém-nascidos é coisa do passado. Com uma instalação simples, montada em um cercadinho específico para isolar os bezerros de suas mães, é possível fazer essa pesagem rapidamente, sem retirar o animal do pasto, e ainda efetuar todos os manejos sanitários como cura do umbigo, aplicação de medicamentos e identificação. Durante esses processos, o animal fica imobilizado e a segurança é total para o vaqueiro.
Essa instalação está sendo usada com sucesso em várias fazendas acompanhadas por Fernanda Macitelli, professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), co-fundadora da empresa BE.Animal, e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (Etco), da Unesp de Jaboticabal, SP. Praticidade e conforto a ideia da manta surgiu, em 2014, quando o professor Mateus Paranhos, coordenador do Etco, estava fazendo um trabalho na Fazenda São Marcelo, pertencente ao Grupo JD, em Tangará da Serra, MT, que participa de programas de melhoramento genético, e queria coletar o peso ao nascer dos bezerros.
A instalação mencionada consiste em um portal de sustentação munido de gancho com balança digital portátil, no qual o bezerro é dependurado. Para suspendê-lo no ar, usa-se uma manta de couro, com quatro furos para passagem das patas do bezerro e uma abertura no centro para deixar o umbigo à mostra. Assim que o animal é “vestido”, o vaqueiro junta as argolas metálicas costuradas nas pontas de quatro fitas laterais da manta e acopla todas elas no gancho pendurado no portal, de sustentação que lembra um pequeno gol de campo de futebol.
O portal ou “gol” não tem segredo. É composto por dois postes simples de madeira, com 2 m de altura cada, dos quais 60 cm são enterrados no chão. Eles são unidos por uma tábua contendo um furo, no qual é amarada uma corda com a balança digital provida de gancho, equipamento facilmente encontrado no mercado.
A manta também é muito simples, mas sua confecção exige alguns cuidados. Deve ser feita com material resistente e na medida correta. O ideal é usar uma peça de couro, mas, caso isso não seja possível, pode-se empregar lonas ou tecidos de polipropileno (ráfia plástica), desses usados na confecção de sacos de sal ou big bags.
A peça de formato retangular (de 1,1 m de comprimento por 95 cm de largura), deve ser furada com precisão para se adaptar adequadamente ao bezerro. As cintas de sustentação também devem ter dimensão correta (de 40 cm cada), para que o animal não se apoie no chão e se machuque. Fernanda lembra que a colocação do bezerro na manta deve ser feita com muito cuidado, pois se trata de um recém-nascido. Há duas formas de “vestir” o animal. Se ele estiver deitado ou sentado, basta encaixar suas pernas nos furos. Se estiver de pé, o vaqueiro deve apoiá-lo em suas pernas e direcionar suas patas para os buracos certos, sempre segurando o animal pela virilha e pelo pescoço.
O brasileiro é muito criativo, por isso, o conjunto portal/manta tem sido usado em várias outras propriedades. Algumas foram além e aperfeiçoaram a ideia. É possível usar roldanas para suspender o animal, reduzindo o esforço físico do materneiro. Em outras fazendas foi construído um piquete para que todo os manejos fossem conduzidos separado da mãe, indicado quando há no lote animais mais reativos no pós-parto.
Veja a seguir os procedimentos essenciais para as primeiras horas de vida do bezerro e podem determinar se sua vida será longeva ou não:
- Tenha cuidado no manejo – A recomendação de Fernanda Macitelli é não manejar os recém-nascidos nas primeiras 6 horas após o parto; se possível até 12 horas e nunca arrastá-los. O laço deve servir para capturar e não para enforcar. Se fazendo necessário, pode servir para conduzir o animal com calma, até mesmo preso ao arreio do cavalo.
- Saiba imobilizar o bezerro – Segure-o pela virilha e o pescoço, apoie-o na perna e faça-o escorregar cuidadosamente até o chão. Quando o animal estiver deitado, use o peso de seu corpo de forma a evitar que ele tente se levantar. Jamais solte seu peso sobre o bezerro. Caso a fazenda tenha manta de contenção, o animal deve ser segurado pela virilha e pescoço e apoiado na perna do manejador para facilitar a colocação de suas pernas nos buracos da manta, que fica suspensa em um suporte munido de balança.
- Faça a cura do umbigo bem-feita – O cordão umbilical não precisa ser cortado, se seu tamanho não oferecer risco de pisoteio pela vaca ou o bezerro. Ele deve ser limpo com iodo diluído e tratado com um cicatrizante/repelente, aplicado na parte que entra em contato com a pele do abdômen.
- Identifique o bezerro – Se o método utilizado for a tatuagem, lembre-se de que o indicado é passar primeiro a tinta entre as nervuras da orelha do bezerro e só então usar o tatuador. Na sequência, espalhe a tinta novamente para fixá-la bem.
- Aplique o endectocida prescrito pelo seu veterinário – Geralmente, o medicamento é ministrado por via subcutânea (embaixo da pele). Nesse procedimento, devem ser usadas seringa e agulha limpas. O local mais indicado é na região da tábua do pescoço.
- Observe se o bezerro ingeriu colostro – De olho no vazio do animal e no úbere da vaca, verifique se o bezerro mamou. Caso não tenha, ajude-o. Para tanto, a mãe pode ser amarrada no pasto, quando é mansa, ou levada para o curral para ser presa no tronco de contenção.
- Mantenha o olhar sempre atento – Mesmo os bezerros que já passaram pelo manejo pós-parto podem apresentar problemas como diarreia, bicheiras, dificuldade de respiração ou infestação por carrapatos. Na rotina de visitas à maternidade, verifique como está sua condição sanitária.
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Outro ponto fundamental, é o fator humano. Em um país com índices de mortalidade de bezerros do nascimento à desmama ainda muito altos, os chamados “materneiros” – nome que se dá aos vaqueiros responsáveis por cuidar dos partos e das crias em seus primeiros dias de vida – têm ganhado status crescente nas fazendas, por fazerem real diferença na rentabilidade do negócio.
Por fim, para reduzir o índice de mortalidade na fazenda é fundamental seguir algumas diretrizes, como a escolha correta dos pastos maternidade, que devem ser baixos, mas de qualidade; próximos à sede ou ao curral, para que os animais fiquem à vista, e limpos, livres de grutas, valetas fundas e matas fechadas.
O bem-estar animal proporcionado aos bezerros não custa quase nada, e traz grande rentabilidade ao produtor rural. A sustentabilidade do seu negócio passa pelos bons cuidados e dignidade que você proporciona aos seus animais.
Algumas partes do texto foram retiradas do artigo da Marina Salles na Revista DBO