Marcas mais baratas continuam ganhando força e estimativa é que o consumo das famílias subam 2,8% nesse ano, segundo Márcio Milan
Mesmo que o cenário de preocupação com a inflação esteja pairando, consumidores tem buscado, segundo constatado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), antecipar as compras em supermercados para início do mês. “Os pagamentos ocorrem até o quinto dia útil. Temos visto movimento muito maior nos primeiros dias do mês. O consumidor está aproveitando o dinheiro que acabou de receber e os preços e ofertas do início do mês. Até porque ele não tem certeza se vai comprar depois no mesmo preço”, disse o vice-presidente da Abras, Marcio Milan, em conversa com jornalistas ontem.
Esse movimento é visto como reflexo da memória inflacionária do brasileiro. Quando o mercado sente o descontrole na inflação, 50% das vendas, segundo Milan, costumam acontecer nos primeiros 10 dias do mês. “Outra coisa que estamos vendo é que o consumidor está indo menos vezes ao mercado”, disse.
No entanto, Márcio Milan explica que não é possível dizer que essa concentração de idas ao supermercado no início do mês, represente redução no consumo. “Hoje ele [cliente] tem outras alternativas que não tinha no passado, como aplicativos. Estamos medindo esse efeito”, disse.
Apesar disso, o consumo nos lares brasileiros tem apresentado alta de 1,23% em janeiro em comparação com o mesmo mês em 2021, de acordo com a Abras. O que se espera na verdade é que o consumo das famílias suba 2,8% nesse ano. Milan diz não esperar uma alteração nesta previsão mesmo diante dos conflitos na Ucrânia. “A gente acredita em uma negociação [na Ucrânia]. E a gente acredita que esse caminho da paz vai chegar. Além disso, acreditamos em outros caminhos, como esforços internos que o país [Brasil] precisa fazer”, disse, apontando a redução dos impostos sobre a cesta básica – cujas conversas já se iniciaram com o governo.
“Enquanto aguardamos o fim da guerra, o movimento de troca de produtos Premium por marcas mais baratas continua ganhando força. No óleo de soja, por exemplo, cerca de 59,4% do faturamento entre janeiro e fevereiro deste ano era de produto de baixo valor. Em igual período de 2021, o percentual era de 54,9%.”, enfatiza Milan
O dado importante que vem chamando a atenção é a troca de carne bovina por ovo, frango e carne suína. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), apontam, segundo Milan, que o consumo de carne bovina entre os brasileiros caiu significativamente desde o início da pandemia chegando a 26,5 quilos por habitante em 2021, menor volume em 25 anos. Já em 2006, quando houve um pico de 42,8 quilos por habitante, o recuo é de quase 40%. Em 2021, foram 255 ovos por habitante. Em 2010, eram 148, número que passou a crescer ano a ano desde então.
A cesta composta por 35 produtos de largo consumo nos supermercados, segundo informa a Abrasmercado, apresentou alta de preço de 11,50% em janeiro, em comparação com o mesmo período em 2021. Comparando a dezembro, a cesta subiu 1,30%, e fechou o primeiro mês de 2022 em R$ 709,63.
Os produtos que apresentaram maiores altas no mês, desde dezembro, estão a cebola (12,43%), a batata (9,65%) e o tomate (6,21%). As maiores quedas de preço foram do queijo prato (5,96%) e do arroz (2,66%).