Mercado da soja ganha criptomoeda, a Soya!

Criada pela startup argentina Agrotoken e lastreada em grãos de soja, a Soya é a primeira moeda digital do setor. Veja como funciona e a segurança!

Os criptoativos já estão presentes em bancos, como o Morgan Stanley, que foi a primeira das grandes instituições americanas a permitir que seus clientes milionários possam investir em fundos de bitcoin. E acabaram de chegar à Nasdaq, com a abertura de capital da Coinbase.

O próximo passo, agora, é em direção ao agronegócio. Essa é a proposta da startup argentina Agrotoken, que lançou a Soya, primeira criptomoeda com lastro em grãos de soja. “O produtor é muito tecnológico da porteira para dentro. Mas nem tanto da porteira para fora”, diz Maria Gabriela Roberto Baró, cofundadora e CEO da Agrotoken, ao NeoFeed.

A Agrotoken foi fundada em abril de 2020, quando a pandemia já havia chegado à América Latina e Baró acompanhava a maneira como o bitcoin e outras criptomoedas vinham se valorizando.

“Ao mesmo tempo, olhávamos para o setor agrário e percebemos que muita coisa continuava igual”, diz a empreendedora. “Queremos mostrar ao produtor que é possível fazer negócios de outras maneiras.”

Com a Agrotoken, Baró decidiu unir a tecnologia, o mercado de criptoativos e o agronegócio, setor importante para a Argentina. O negócio funciona da seguinte maneira. O produtor deposita uma tonelada de soja, por exemplo, no armazém de uma das tradings parceiras da Agrotoken, como a Cargill.

Quando esses grãos são armazenados, a trading gera um certificado que atesta a procedência e a localização da soja. Esse certificado é levado à plataforma da Agrotoken, que faz a validação e emite o token para o produtor.

No modelo atual, a Agrotoken cobra uma taxa cada vez que o produtor “tokenizar” ou “destokenizar” sua produção, revertendo o processo e “devolvendo” a moeda para retirar os grãos armazenados.

Ele pode usar o token como forma de pagamento em insumos, ou no financiamento de um novo maquinário, desde que o vendedor aceite criptoativos.

Outra possibilidade é manter a moeda em sua carteira digital, esperando pela valorização, já que o valor do token está atrelado ao preço da saca de soja. Uma terceira opção, no futuro, será trocar o ativo em exchanges, como são chamadas as corretoras de criptoativos.

Maria Gabriela Roberto Baró, cofundadora e CEO da Agrotoken

Os tokens de Soya, como são chamadas as representações digitais dos ativos, usam a tecnologia blockchain, a mesma usada em outros criptoativos, como bitcoin. É também uma “stable coin”, uma moeda lastreada em um ativo real. No caso, os próprios grãos de soja.

O uso em larga escala do ativo, no entanto, ainda está distante. Até agora, menos de mil toneladas foram convertidas em tokens. E o criptoativo ainda não está sendo negociado. Gabriela Baró espera anunciar as parcerias com as primeiras plataformas de exchange em breve.

Atualmente, a startup atua apenas na Argentina, onde tem parcerias com produtores locais, como La Fe Vieja, Espartania e El Boyero, além da produtora de alimentos AdecoAgro, que tem operações no Brasil.

A Agrotoken recebeu apenas um investimento pré-seed, de valor não divulgado. Nos próximos meses, a startup pretende abrir uma captação para levar suas operação a outros países da América Latina. A expansão geográfica prevê a abertura de escritórios locais, além da parceria com produtores, tradings e exchanges que operam em cada país.

O Brasil e o Paraguai devem ser os próximos destinos. Como maior produtor de soja do mundo, o mercado brasileiro é estratégico. Na safra 2019/2020, o País produziu 124.845 milhões de toneladas do grão. A produção dos Estados Unidos, segundo no ranking, foi de 96.676 milhões de toneladas. Na quinta-feira, a saca de soja, com 60 quilos, era cotada a R$ 176,19.

Antes de fundar a Agrotoken e traçar os planos para chegar a outros países, Baró trabalhou no mercado financeiro argentino, com passagens pelos bancos Comafi e Patagônia.

A empreendedora também esteve envolvida em projetos de empreendedorismo. Foi coach da aceleradora NXTP Labs, focada em startups latino-americanas, e trabalhou para o governo da cidade de Buenos Aires como professora em uma iniciativa de fomento ao empreendedorismo. Além disso, chefiou a área de desenvolvimento de negócios da fintech Ripio, focada em tecnologia blockchain.

Da soja ao café

Para Jeff Prestes, especialista em blockchain no Mercado Bitcoin Digital Assets e mentor da startup, o potencial da tecnologia é grande. Para o produtor, a maior vantagem é a liquidez, especialmente à medida que as criptomoedas se tornarem mais aceitas como formas de pagamento.

“Aqui no Brasil, pode resolver um problema comum no Centro-Oeste que é o pagamento de maquinário com sacas de soja”, diz Prestes. O token também abre uma nova opção de investimentos. “É uma oportunidade para quem não está no campo investir no agro por meio de um ativo seguro.”

A Soya pode ser a primeira criptomoeda com lastro em grãos do agro, mas outra iniciativa segue pelo mesmo caminho. A cooperativa Minasul, de Varginha, Minas Gerais, lançou em agosto de 2020 a Coffee Coin, uma moeda digital que, no estágio atual, funciona como barter, mecanismo de financiamento da safra em que o produtor paga pelos insumos com os grãos que vai colher.

O café dos cooperados é convertido em um padrão monetizado: cada Coffee Coin equivale a um quilo de café verde no padrão comoditizado. Essas moedas podem ser trocadas em lojas da cooperativa por insumos, maquinário ou outros produtos.

As negociações são feitas apenas entre cooperativa e cooperado. Mas, no segundo semestre de 2021, a Minasul quer transformar a Coffee Coin em um criptoativo lastreado no grão, de maneira semelhante à Soya. Da mesma maneira, a cooperativa quer que o ativo seja transacionado em plataformas internacionais de criptoativos.

Fonte: NeoFeed

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