Desde que abandonou a política dos campeões nacionais e começaram a faltar recursos do Tesouro, o BNDES vendeu R$ 20,5 bilhões em ações. O cálculo inclui os desinvestimentos a partir 2015 até o início deste ano.
O valor é quase 70% superior aos R$ 12 bilhões registrados nos quatro anos anteriores.
A estratégia de reduzir o tamanho do banco de fomento e sua atuação no mercado de capitais começou com o ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ainda no governo Dilma, mas ganhou tração após o impeachment e a posse de Michel Temer.
O BNDESPar, braço de participação em empresas do BNDES, levantou R$ 8,5 bilhões na compra da Fibria pela Suzano no início deste ano, superando os R$ 6,6 bilhões de 2017, que já era um recorde para os últimos 10 anos.
Entre as principais ações vendidas pelo BNDES, estão Petrobras, Vale, Braskem e a Taesa (distribuidora de energia da Cemig). O banco também aderiu à oferta pública de aquisição de ações da CPFL, quando a empresa passou para as mãos da chinesa State Grid.
A orientação não deve mudar com a troca na presidência do BNDES. O economista Paulo Rabello de Castro, que acelerou a venda de ações, saiu e entrou em seu lugar Dyogo Oliveira, que era ministro do Planejamento.
“A ideia continua sendo investir, acompanhar o crescimento e a governança e sair depois que nosso papel estiver cumprido”, disse Eliane Lustosa, diretora da área de planejamento do BNDES.
Os desinvestimentos vem colaborando com o lucro do BNDES e auxiliando o banco na tarefa de devolver recursos para o Tesouro e ajudar a cobrir o rombo das contas do governo federal. Em 2017, o BNDESPar respondeu por 43% do lucro do Sistema BNDES. Nos últimos 10 anos, a média anual foi de 31%.
Os investimentos do banco de fomento também são reveladores da mudança de orientação. Entre 2007 e 2010, auge da política dos campeões nacionais, o BNDES comprou R$ 51 bilhões em ações, com destaque para a capitalização da Petrobras, realizada pelo governo Lula em 2010.
A partir daí, com o mercado já sofrendo os impactos da crise do subprime nos Estados Unidos, o BNDES adquiriu, em média, R$ 3 bilhões em ações entre 2011 e 2014. A partir daí, os desembolsos caíram para R$ 1,86 bilhão em 2015, R$ 639 milhões em 2016 e apenas R$ 289 milhões no ano passado.
Para Sérgio Lazzarini, professor do Insper, a estratégia de desinvestimento faz sentido, mas a carteira do BNDES ainda continua muito grande. Em dezembro de 2017, a carteira de ações da BNDESPar estava avaliada em R$ 78,5 bilhões. Desse total, 54% são ações de Petrobras, Vale, Eletrobras e outros empresas do setor elétrico.
“Um banco de fomento deveria empresas menores em setores transformadores como, por exemplo, energia limpa. Para isso, uma carteira de R$ 1 bilhão a R$ 3 bilhões seria suficiente.”
A tendência é que as vendas de ações cresçam. Para facilitar as decisões, a área de mercado de capitais dividiu as ações na carteira do BNDESPar em quatro categorias: “maduras e prontas para a venda”, “maduras, mas que ainda precisam de avanços”, “não maduras” e “problemáticas”.
Segundo apurou a Folha com pessoas próximas ao banco, na categoria “maduras e prontas para a venda”, estão companhias como Vale e Totvs. A Fibria também estava nessa classificação. No grupo de empresas “maduras, mas que ainda precisam de avanços”, ficam JBS e Marfrig.
No caso dos frigoríficos, as empresas já cresceram o suficiente para viabilizar a saída do banco, mas ainda faltariam melhoras de governança que permitiriam uma valorização mais expressiva dos papeis. Daí a necessidade de esperar para vender um volume mais significativo de ações.
No grupo “não maduras”, está a fabricante de semicondutores Unitec, que foi iniciada pelo empresário Eike Batista, quase foi à lona, mas está se recuperando. Na categoria “problemáticas”, entra a fabricante de etanol de segunda geração Granbio, encontra dificuldade para decolar.
Lustosa confirma que existem essas classificações, mas não comenta as empresas incluídas em cada uma. Ela disse apenas que as empresas podem migrar de um grupo para o outro rapidamente conforme a evolução dos seus negócios e as oportunidades de venda que surgirem.
Com informações da Folha.