Pesquisadores do Cepea destacam que, no geral, vendedores negociaram com muita cautela ao longo do ano, fechando volumes maiores apenas de forma pontual.
A redução na produtividade e a firme demanda externa sustentaram os valores do complexo soja ao longo de 2019, apontam pesquisas realizadas pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. A safra 2018/19 foi cultivada no ritmo mais acelerado já registrado e o menor volume de chuva no final de 2018 favoreceu a colheita da temporada. Porém, o baixo índice pluviométrico acabou prejudicando a produtividade, reduzindo a oferta em 2019 em relação ao ano anterior. Segundo a Conab, a produção brasileira foi estimada em 115,03 milhões de toneladas, 3,5% inferior à prevista no início do ciclo.
Pesquisadores do Cepea destacam que, no geral, vendedores negociaram com muita cautela ao longo do ano, fechando volumes maiores apenas de forma pontual. Do lado da demanda, as exportações estiveram firmes, com o deslocamento das compras chinesas para o Brasil, e a procura interna para esmagamento também esteve mais ativa.
Nos Estados Unidos, as frequentes chuvas dificultaram o avanço no semeio da safra 2019/20, deixando produtores brasileiros ainda mais afastados das vendas, com expectativas de obter preços maiores em meses posteriores – o que, de fato, aconteceu. Segundo o Cepea, a alta no valor do frete brasileiro, observada no terceiro trimestre do ano, também desestimulou parte dos produtores em comercializar a oleaginosa – houve maior demanda para transporte de milho, reduzindo a disponibilidade para outros grãos e cereais.
A partir de setembro, a quebra na safra 2019/20 nos Estados Unidos foi se confirmando, ao mesmo tempo que a falta de chuva já preocupava os agricultores no Brasil, que seguiram afastados da comercialização, inclusive para o grão da temporada 2019/20, aponta o Cepea.
PREÇOS
No balanço do ano, as médias dos Indicadores da soja ESALQ/BM&FBovespa Paranaguá e CEPEA/ESALQ Paraná caíram 2,7% e 2,2% frente às do ano anterior, a R$ 82,17/sc e a R$ 76,79/sc de 60 kg, respectivamente. As médias mensais dos Indicadores de dezembro, no entanto, superam em 8,8% e em 10,2% as do mesmo período de 2018, em termos nominais.
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, quando considerados os valores anuais, as cotações da oleaginosa ficaram estáveis no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e recuaram ligeiro 0,4% no de lotes (negociações entre empresas). Entre dezembro/18 e dezembro/19, contudo, os preços de soja subiram 12% em ambos os mercados, em termos nominais.
A elevação nos preços esteve atrelada à expressiva valorização do dólar frente ao Real, que atingiu, no segundo semestre, o maior patamar nominal desde o início do Plano Real. A média do dólar foi de R$ 3,94 em 2019, alta de 7,9% em relação à de 2018.
FRONT EXTERNO
Esse cenário favoreceu, por mais um ano, as exportações brasileiras. O ritmo de embarques esteve especialmente aquecido entre maio e julho de 2019, quando, inclusive, chegou até mesmo a faltar cotas para exportação. No agregado do ano, o Brasil exportou 77,28 milhões de toneladas, 7,6% abaixo do embarcado em 2018 (83,6 milhões de toneladas), mas ainda foi o segundo maior volume anual escoado pelo Brasil, segundo dados da Secex. O preço médio nominal, em 2019, foi de R$ 85,03/sc de 60 kg, 2,3% abaixo do observado em 2018.
Os principais destinos do Brasil em 2019 foram a China (recebendo 78,6% do volume), a Espanha (3,1%) e Holanda (2,3%). Do volume exportado no ano, 24,17% foram escoados pelo porto de Santos (SP), 17,58%, pelo porto de Rio Grande (RS) e 15,31%, pelo porto de Paranaguá (PR). Vale observar que, em 2019, houve crescimento das exportações pelos portos de Manaus (de 24,14%), Belém (17,43%) e Santarém (15,39%).
De farelo de soja, o Brasil embarcou 16,72 milhões de toneladas em 2019, 0,8% inferior ao volume exportado em todo o ano anterior (16,86 milhões de toneladas), segundo a Secex. Os embarques de óleo de soja foram ainda menores, devido à baixa disponibilidade interna. De janeiro a dezembro, o Brasil escoou 999,08 mil toneladas de óleo, 25,6% inferior ao exportado em 2018. Os preços médios recebidos pelas vendas de farelo e óleo de soja cederam 4,3% e 2,4%, respectivamente em 2019 – conforme dados da Secex.
DERIVADOS
De acordo com levantamento do Cepea, a maior demanda por parte das indústrias domésticas deu suporte aos preços internos dos derivados de soja. No último trimestre do ano, os baixos estoques levaram algumas fábricas a adquirirem volumes do grão a preços mais elevados, devido ao maior interesse na produção e na venda de óleo de soja, especialmente para a produção de biodiesel.
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A mistura de biodiesel ao óleo diesel passou de 10% (B10) para 11% (B11) em 1º de setembro de 2019, medida aprovada pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural, e Biocombustíveis) no início de agosto. Esse cenário elevou a liquidez de óleo de soja no Brasil, dado que esse produto corresponde a 70% das matérias-primas utilizadas para a produção de biodiesel.
Diante disso, o preço médio do óleo de soja bruto degomado na cidade de São Paulo levantado pelo Cepea foi de R$ 2.977,79/tonelada no acumulado de 2019, 7,2% superior ao de 2018 e o maior valor nominal desde 2016. Entre dezembro/18 e dezembro/19, a valorização do óleo de soja foi de 28,7%.
Com a firme demanda por óleo de soja, representantes de indústrias temiam quanto ao escoamento do farelo de soja. Entretanto, a firme procura de farelo pelo setor pecuário limitou a queda dos preços deste derivado. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços de farelo de soja recuaram 4,2% entre 2018 e 2019. Entre dezembro/18 e dezembro/19, no entanto, os preços do farelo subiram 7,7%.
Fonte: Cepea