Megaprodutor de Tocantins com R$ 700 milhões em dívidas paralisa pagamentos

O juiz responsável pelo processo, que ainda está sob sigilo, concedeu 60 dias para o produtor rural João Batista Consentini, da Agropecuária Consentini encontrar uma solução, sob pena de o caso evoluir para uma recuperação judicial; Cenário abalou o Fiagro do Itaú (RURA11) na bolsa em mais um caso de problema com CRA.

Mais uma recuperação judicial no agro está próxima e, com isso, aumenta a preocupação de um colapso maior no setor. Agora, o megaprodutor rural João Batista Consentini, um dos nomes mais conhecidos do agronegócio em Tocantins, que comanda a Agropecuária Consentini, enfrenta um cenário financeiro delicado, com dívidas estimadas em R$ 700 milhões. Menos de quatro meses após levantar R$ 104 milhões por meio da emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Consentini recorreu à Justiça para ganhar proteção contra os credores e tentar reestruturar seu passivo.

O aumento dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio reflete as dificuldades enfrentadas por grandes produtores, especialmente devido à alavancagem excessiva e à volatilidade dos preços das commodities, como grãos. Essa situação tem impactado diretamente o mercado de Fiagros (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais), uma vez que muitos desses fundos possuem ativos atrelados a produtores em dificuldade financeira.

Como resultado, o setor vem registrando desvalorizações expressivas nas cotas dos Fiagros, com fundos como o RURA11 sofrendo perdas significativas. A inadimplência de grandes devedores coloca em risco os retornos dos investidores e a confiança no modelo de financiamento para o agronegócio.

O contexto do endividamento

Consentini, que possui uma área total de 56 mil hectares, dos quais 32 mil são dedicados ao cultivo de grãos, acumulou dívidas durante os anos de expansão de seu negócio, principalmente com a aquisição de fazendas em períodos de alta nos preços agrícolas.

No entanto, a queda recente nos preços das commodities, especialmente dos grãos, expôs o produtor a um risco financeiro elevado. Embora o faturamento de suas safras chegue a R$ 500 milhões por ciclo, os compromissos financeiros assumidos, em um ambiente de baixa, tornaram a situação insustentável.

A proteção judicial e o prazo crítico de João Batista Consentini

O processo judicial, ainda mantido sob sigilo, foi revelado pelo portal The AgriBiz, que obteve a decisão do juiz Adriano Morelli, da Justiça de Tocantins. O magistrado concedeu 60 dias para que Consentini encontre uma solução para suas dívidas, o que pode incluir a venda de parte de suas fazendas para gerar liquidez. Fontes próximas ao produtor afirmam que ele está disposto a negociar, mas que o risco de uma recuperação judicial é real, caso uma solução não seja encontrada no prazo estipulado.

Uma das fontes ouvidas pela reportagem destacou que, apesar da gravidade da situação, Consentini continua comprometido com a busca por uma saída. “Ele se atrapalhou muito, mas é um cara do bem. Está na mesa para negociar”, afirmou a fonte, reforçando que a proteção judicial foi necessária para evitar que o produtor ficasse sem recursos até para pagar seus funcionários.

Impacto nos investidores e o Fiagro RURA11

Entre os credores de Consentini, destaca-se o fundo imobiliário Fiagro RURA11, administrado pela Itaú Asset, que possui R$ 51 milhões aplicados no CRA emitido pelo produtor. Essa posição representa 3,2% do portfólio do fundo, que conta com mais de 80 mil cotistas e um patrimônio total de R$ 1,6 bilhões. Mesmo com a diversificação do Fiagro, a inadimplência de Consentini causou uma significativa desvalorização no valor das cotas. Nos últimos dias, o RURA11 acumulou uma queda de 8,3%, sendo uma das maiores perdas registradas recentemente na Bolsa de Valores.

O fundo agronegócio distribuiu 13,99% em dividendos aos cotistas nos últimos 12 meses, superando o CDI em 2,48 pontos percentuais, com um spread médio de CDI + 4,2% ao ano. No caso específico do CRA de Consentini, a taxa de remuneração foi de CDI + 4,8% ao ano, e o vencimento original do papel está previsto para 2030. A securitizadora Canal foi responsável pela emissão dos papéis.

O futuro incerto

Se, ao final dos 60 dias, o produtor João Batista Consentini não conseguir renegociar suas dívidas, a empresa Agropecuária Consentini poderá ingressar com um pedido de recuperação judicial, um processo que permitiria ao produtor reorganizar suas finanças sob supervisão judicial, mas que também traria incertezas para o setor agrícola e para seus credores. A decisão final depende das negociações que ocorrem nesse período.

Em meio a esse cenário de instabilidade, os impactos de casos como o de Consentini reforçam os riscos da alavancagem excessiva no agronegócio, especialmente em tempos de volatilidade no preço das commodities.

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