Megafazenda Roncador aumenta produção em 66 vezes

Em entrevista recentemente divulgada, o produtor Pelerson Penido Dalla Vechia, revela como a agropecuária regenerativa transformou a propriedade, uma das maiores do Brasil. E anuncia investimentos, que incluem uma biofábrica e até uma esmagadora de soja

Com 152 mil hectares, metade dos quais matas nativas e áreas de preservação permanente, a Roncador é uma das maiores propriedades agropecuárias do país, encontrou uma solução inteligente e lucrativa para a prática da sustentabilidade no agronegócio. A empolgação do empresário Pelerson Penido Dalla Vecchia ao mostrar gráficos, indicadores e imagens dos resultados das práticas sustentáveis no campo é evidente. Quem contou foi a equipe da AgFeed, que foi recebida no escritório na Vila Madalena, em São Paulo, onde o pecuarista acompanha em duas telas de computador algo bem mais complexo do que meros dados financeiros.

Já imaginou uma “cidade” em formato de fazenda? Escola, supermercado, igreja, quadra de esportes, clínica odontológica e estação de tratamento de esgoto. Não é exatamente numa cidade que moram cerca de mil pessoas com toda essa infraestrutura em Mato Grosso, mas sim na Fazenda Roncador, uma das maiores propriedades produtivas do mundo.

O primeiro indicador apresentado foi aquele que mede “a vida no solo” que, na visão do empresário, nas áreas de integração de lavouras e pecuária que possuem, “deve ser parecida com a vida na floresta”.

Por diversas vezes a Fazenda Roncador, em Querência, Mato Grosso, é apontada como “a maior do Brasil”, considerando uma única matrícula. Entretanto, esse é um título que pouco importa para o atual diretor do Grupo Roncador, que ainda é sócio de empresas como a companhia de concessões rodoviárias CCR, da construtora Serveng e da Zarvos, incorporadora de imóveis de alto padrão de São Paulo. O grupo ainda possui minas e usinas de beneficiamento de calcário, importante na recuperação do solo na agricultura.

Um outro título indiscutível, apontado pela AgFeed, é que a Roncador mantém um dos maiores, mais consolidados e reconhecidos projetos de agropecuária regenerativa do País – eventualmente do mundo -, iniciado ainda antes de o termo virar uma tendência no setor.

Dos 76 mil hectares produtivos, 26 mil são de pecuária e 30 mil do sistema integrado soja-boi, em que durante cinco meses vigora a agricultura e nos sete meses restantes, a pecuária, com capim plantado nessa mesma área. Os outros 20 mil hectares são dedicados a uma joint venture para a produção de soja e milho. Nessas terras, também se começa a praticar a integração entre plantio e gado.

Primeiro a intenção era diminuir o impacto (ambiental), mas depois vimos que era possível não apenas fazer isso, mas também gerar um impacto positivo para a natureza”, explicou “Peleco” à AgFeed, como é conhecido o diretor da Roncador por quem trabalha com ele.

Pelerson Penido, avô do empresário Peleco, comprou as primeiras terras em Mato Grosso durante os anos de 1970. Naquele período, as políticas governamentais encorajaram a movimentação para as áreas nortenhas do Brasil. Ele distribui um sistema completo de pecuária, abrangendo a cria, recria e engorda de gado nelore.

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Foto Divulgação.

A estratégia do meu avô era reformar 10% do pasto a cada ano, usava até acabar. Mas ao longo do tempo isso foi ficando insustentável e por volta do ano 2000 a fazenda já estava 80% degradada“, segundo informou em entrevista a AgFeed o atual administrador do grupo.

A rotatividade soja-boi surgiu na Fazenda Roncador, como uma alternativa para equacionar um problema comum aos fazendeiros: o esgotamento da terra e a consequente perda de lucratividade. A implantação do modelo na fazenda foi se dando aos poucos, como explicou Pelerson Penido Dalla Vecchia, CEO do grupo e neto de Pelerson Soares Penido, que deu início à fazenda em 1978. “Subimos degrau por degrau, de olho nos resultados e corrigindo a rota”, diz ele. Um percurso que fez a Roncador saltar em 25% a produção de carne, saindo de 4.150 toneladas em 2009 para 5.040 toneladas em 2021. Já a colheita de soja passou de 45 mil toneladas em 2014 para as atuais 119 mil toneladas.

Pelerson Penido Dalla Vecchia, diretor do Grupo Roncador. Foto: AgFeed

O sistema traz o “tripé” defendido por Dalla Vecchia de uma sustentabilidade econômica, ambiental e social. “Trouxemos os conceitos da agricultura para a pecuária, pensando nas etapas de plantar, colher e principalmente cuidar, já que aquilo que não se repõe, acaba, adubamos o pasto assim como a lavoura”, afirma.

Produtividade avança 66 vezes em 12 anos na Fazenda Roncador

O ciclo dos sistemas integrados começa com o plantio da soja em outubro, que depois é colhida em fevereiro e, em seguida, na mesma área, é plantado o capim. “A soja fixa o nitrogênio no solo e o capim utiliza este nutriente, crescendo com mais vigor. Os animais se alimentam lá durante período da seca com condição nutricional muito boa, colocam vida no sistema através da urina e fezes. Em outubro o gado sai e se planta soja novamente, recomeçando o ciclo”, relata o produtor.

O grupo trabalha com 70 mil cabeças de gado e apenas 18 mil hectares de pasto perene, o que dá uma taxa de lotação pecuária “muito acima do normal”, segundo Peleco. A fazenda comercializa, anualmente, cerca de 38 mil bovinos. O trabalho inclui a genética das raças Rubia Gallega e Asturiana de los Valles.

Foto: Grupo Roncador

A combinação promove um solo rico em matéria seca, beneficiando tanto a soja quanto o gado. Dalla Vecchia relata que em 2002, ao iniciar a prática de integrar o gado em áreas onde o milho havia sido colhido, reuniu um aumento diário no peso do rebanho de 833 gramas.

“Isso no período de seca, em que a maior parte da pecuária tem perda de peso”, ressaltou Vecchia.

Utilizando métodos mais avançados hoje em dia, ele observa que o ganho médio de peso do gado é de cerca de 1 kg diário, inclusive durante períodos de seca. Os animais são abatidos com 21 arrobas aos 18 meses de idade. Esse desempenho deve-se ao fato de que, na propriedade Roncador, há uma oferta generosa de nutrição para o gado nesse intervalo.

“Conosco é ao contrário, só temos um pequeno desafio que é momento de transição. Quando o gado volta para o pasto, o capim ainda não cresceu, por isso se faz a suplementação com feno, produzimos na fazenda 102 mil bolas de feno”, relatou durante a entrevista à AgFeed.

Nas áreas de agricultura foram plantados, na safra 2022/2023, 30 mil hectares de soja, com produtividade média de 66,5 sacas por hectares. Já de milho foram 5,5 mil hectares com 110 sacas/ha de média. Dalla Vecchia faz questão de mostrar um gráfico que mostra o ganho total, na “produção de alimentos da Roncador”.

“A produtividade cresceu 66 vezes de 2008 até 2020, considerando toneladas de alimento por hectare, se considerada a soja e o gado”, ressaltou.

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Novos investimentos

A Roncador atualizou o modelo regenerativo diminuindo o uso de produtos químicos e aumentando o emprego de insumos biológicos. A fazenda já dispõe de tanques e um laboratório próprio para a produção desses biológicos. No último ano, foram adquiridos 92 mil litros desses produtos para uso interno.

Com isso, o próximo passo do grupo é construir uma grande “biofábrica”, conforme indicado pelo diretor da empresa, focada na produção de fungos, bactérias e diversas cepas. Observando as dimensões do Roncador, que possui 700 quilômetros de vias e mais de 1.000 moradores com acesso a escola, assistência médica e posto de combustível, espera-se que a biofábrica seja um projeto significativo.

Pelerson Penido Dalla Vecchia não dá detalhes da capacidade de produção, alegando que ela será utilizada em diferentes atividades, não apenas na preparação de defensivos biológicos. O investimento previsto é de R$ 2,5 milhões, trouxe a AgFeed em seu conteúdo sobre o assunto.

“Queremos produzir o suficiente para 20 mil hectares de soja, mas também vamos trabalhar na compostagem da área do confinamento, fazer a sopa de floresta, o probiótico para o gado, então o escopo é em aberto”, explicou.

Outro investimento previsto, mas possivelmente para 2025, é a construção de uma esmagadora de soja, para extrair o óleo e usar o farelo na ração do rebanho. Produzir também o biodiesel, em Mato Grosso, é algo que Dalla Vecchia está considerando.

Como plano de expansão, o CEO do Grupo Roncador também planeja investir em terras arrendadas, “para levar uma parte significativa da cria para fora da nossa fazenda, replicando o modelo de gestão sustentável nestas áreas, pensamos em levar 20 mil vacas para o arrendamento”.

Quanto ao desempenho financeiro, o empresário não gosta revelar detalhes específicos, mas apontou que na safra de 2023/2024 o grupo continuará a se expandir, embora a um ritmo mais lento em comparação com a temporada anterior. Ele atribuiu essa desaceleração à aumento dos preços projetados na agricultura, que anteriormente havia equilibrado os desafios enfrentados pela pecuária nos últimos dois anos.

Nas telas do produtor também estão vários “dashboards” para monitorar preços e estabelecer estratégias de comercialização. Ele diz que, com a forte volatilidade do último ano, “não sabe como alguém pode administrar sem estas ferramentas”.

“Não somos especuladores, travamos a margem desejada no modelo, monitoramos e aproveitamos determinadas oportunidades, altas do dólar, por exemplo. Mas não vamos plantar um ano só, o importante é pagar as contas, seguir crescendo para continuar investindo”, afirmou.

Diferenciais da Fazenda Roncador

Como parte da estratégia de aprimoramento, a Roncador também passou a investir na profissionalização e qualificação de seus funcionários, para que todos pudessem trabalhar tanto na pecuária quanto na agricultura. “O pessoal do gado também colhe soja. Está todo mundo de braço dado”, diz Pelerson. Em 2009, eram cerca de 70 colaboradores; hoje são 426.

Outra iniciativa importante foi reduzir o uso de defensivos agrícolas, com a utilização de controle biológico de pragas. Graças a essas diversas iniciativas, entre as certificações recebidas pela Fazenda Roncador está a “Produzindo Certo” da Aliança da Terra, que atesta o equilíbrio entre a produção, o respeito às pessoas e ao meio ambiente.

O Grupo Roncador fica novamente entre as 500 empresas que crescem mais rapidamente no continente americano, de acordo com o ranking de 2022 do jornal Financial Times (FT Americas).

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Igreja dentro da Fazenda Roncador, com lago ao fundo. (Foto: Fernando Martinho)

Compre Rural com informações da AgFeed e Grupo Roncador

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