A raça Nelore representa muito bem a Pecuária brasileira, pecuaristas tem garimpado marmoreio e maciez para melhorar qualidade da carne.
Quatro grandes criadores de Nelore “garimpam”, em uma iniciativa pioneira, raçadores com potencial para produzir qualidade de carne, característica que pode elevar o zebuíno a um novo patamar. Muitas pessoas ainda acreditam que a raça predominante nas pastagens brasileiras é desprovida de tal capacidade, entretanto, provas de ultrassonografia de carcaça comprovam a existência de linhagens com percentuais de marmoreio surpreendentes. Essa gordura entremeada é essencial na alta gastronomia por favorecer caraterísticas sensoriais da carne, como a maciez, sabor e suculência.
Um dos projetos mais conhecidos no meio, talvez, seja o Nelore do Golias, desenvolvido pelo criador Fábio Souza de Almeida Filho, em Araçatuba (SP). Através de cruzamentos endogâmicos, ele resgatou a linhagem que dá nome ao projeto e fora importada da Índia, em 1962, por Torres Homem Rodrigues da Cunha. Golias, principal referência em qualidade de carne na zebuinocultura nacional, viveu por 22 anos, sem deixar material genético à posteridade, sendo que pouquíssimos filhos seus chegaram a se tornar touros de central.
Pela dificuldade em adquirir essa genética, o criador fez uma incansável busca pelos rebanhos brasileiros. Os primeiros nascimentos ocorreram em 2004 ao reunir, dois anos antes, um volume considerável de descendentes. “Temos indivíduos com o Golias usado 20 vezes no seu pedigree.
É uma linhagem pioneira, extraordinária e recordista em marmoreio dentro do Nelore”, garante.
Uma defesa de mestrado na USP/Pirassununga (SP) endossou seu trabalho, quatro anos mais tarde, em 2008. O grupo responsável analisou os treze principais genearcas que compõem a base da raça Nelore no Brasil para qualidade de carne e o grupo de contemporâneos de Golias consagrou-se campeão absoluto, com médias extraordinárias para Área de Olho de Lombo e Marmoreio. Naquele mesmo ano, o projeto ganhou novos horizontes com a formação do Condomínio Teles de Menezes, que compreende o nascimento de 700 prenhezes/ano e gerou mais de 16 touros de central.
“Agora que descobrimos essa virtude preservada em determinadas linhagens, é preciso fazer um amplo trabalho de capilarização dessa genética através do touro”, entende o Shiro Nishimura, titular da Fazenda Araponga, em Jaciara, no Mato Grosso, que também busca pelo “Nelore Macio”. Ele pretende começar um trabalho semelhante com o touro Ubinag Prudeindia (linhagem Nagpur), adquirido de Hiroshi Yoshio.
Ao participar do Geneplus/Embrapa, que considera a ultrassonografia de carcaça ao sobreano, Nishimura descobriu uma concentração interessante de animais com percentual de marmoreio entre 4% e 6%. Ao investigar a genealogia dos exemplares com assessoria da DGT Brasil – empresa de capital norte-americano líder no desenvolvimento e comercialização de softwares para interpretação de imagens de ultrassonografia de carcaça – acabou se deparando com Ubinag, amplamente utilizado no repasse de sua vacada. “Inicialmente, escolhi este animal pela alta herdabilidade em ganho de peso e não marmoreio. Por recomendação da Dra. Liliane, diretora técnica da DGT Brasil, vamos ampliar e direcionar melhor esse trabalho”, prevê Nishimura, que possui uma reserva de 600 doses de sêmen de Ubinag, além de filhos e netos do touro.