Médico veterinário Fábio Frigoni apresenta os números do cruzamento industrial no Brasil; fala de números, padronização e qualidade no gancho.
A pecuária de corte nacional passa por um momento ímpar na história. A exportação de carne bovina bateu recorde em outubro, registrando um total de 185,5 mil toneladas, volume 15% maior que o exportado no mesmo mês do ano passado, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). O mercado de sêmen vem acompanhando esse bom momento, impulsionado principalmente pela crescente demanda das raças de corte, em especial as taurinas, destinadas ao cruzamento industrial. Para entender um pouco melhor a evolução do mercado e as raças utilizadas.
No começo dos anos 2000, o “herói virou vilão”. Quem não lembra da crescente onda do cruzamento industrial na qual as principais raças utilizadas eram as taurinas continentais, as quais têm um desempenho de ganho de peso excelente? Em contrapartida, são extremamente exigentes nutricionalmente e necessitam de dietas energéticas para terem um bom acabamento de carcaça. Resultado: uso indiscriminado do cruzamento industrial e falhas nutricionais que acarretavam penalizações no gancho do frigorífico devido à falta de acabamento mínimo de gordura. O ano de 2005 foi o “fundo do poço”, quando as vendas não chegaram a 1 milhão de doses no ano.
A partir de 2006, com a entrada de novas raças e um melhor direcionamento na utilização da estratégia, o cenário começou a mudar, atingindo a comercialização de mais de 6,1 milhões de doses em 2018, impulsionado, principalmente, pela raça Aberdeen Angus, que representa quase 77% de todo o mercado das raças de corte taurinas. Essa demanda crescente pela raça é devido, principalmente, aos resultados obtidos com o cruzamento industrial (Angus x Nelore), obtendo-se produtos de alto desempenho zootécnico aliados à produção de carcaças de qualidade para atender a um mercado consumidor cada vez mais exigente.
Na figura acima estão as cinco maiores raças na questão volume de doses comercializadas ao ano e a evolução do mercado no período de cinco anos (de 2014 a 2018). Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Pará e Rio Grande do Sul são os cinco estados com a maior demanda de sêmen da raça Aberdeen Angus. Juntos, representam 67% do mercado. As regiões Centro-Oeste e Norte direcionam o uso da genética Angus, principalmente, para a produção do cruzamento industrial, também conhecido como animais F1. Esses animais estão com a demanda muito aquecida, visto que os principais programas de carne gourmet preconizam por, pelo menos, 50% de sangue europeu nos animais abatidos. As fêmeas, que são muito precoces e têm maior facilidade de acabamento de carcaça, são sua grande fonte de matéria-prima.
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Outro fator que está contribuindo para a demanda do uso da raça é a exportação de machos F1 desmamados, principalmente para a Turquia, aumentando o preço de venda no mercado. A região Sul é a principal fonte de genética Angus no Brasil. Excelentes cabanhas que, aliadas a importantes programas de melhoramento genético, estão revolucionando a raça no País. A genética nacional tem um desempenho excelente, aliado à fertilidade e à maior adaptação à nossa realidade. As perspectivas para o fechamento de 2019 e mercado 2020 são as melhores possíveis. A arroba do boi gordo sendo negociada a mais de R$ 200,00, o mercado chinês aquecido e a demanda maior que a oferta são realidades que sustentarão o mercado no próximo ano. O mercado de sêmen cresceu 18% no acumulado janeiro-setembro, impulsionado, principalmente, pelas raças de corte, que cresceram 23,6% – entre elas, destaque especial para Aberdeen Angus e Brangus.
O crescimento expressivo na raça Brangus deve-se à estratégia adotada por vários pecuaristas: emprenhar a novilha F1 com 12 a 14 meses, pois ela tem muita precocidade sexual. Dessa forma, ela deixa um produto three-cross e agrega, em média, quatro arrobas no peso final de abate, além de receber bonificação por ser jovem. Sendo assim, a raça Brangus vem apresentando um crescimento importante, pois um fator muito valorizado pelo mercado é a padronização dos animais. Outras opções de raças para serem usadas com essa finalidade são: Braford, Senepol, Bonsmara, Caracu e Santa Gertrudis.
Estima-se que serão vendidas 18 milhões de doses de sêmen em 2019. Dessa forma, os pecuaristas precisam traçar as melhores estratégias genéticas para os seus rebanhos. Devem pensar quais são seus sistemas de produção e qual será o destino da sua produção (vender na desmama, engordar as fêmeas e vender os machos, confinamento etc.) .
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Isso porque, além das diferenças existentes entre as raças, existem muitas diferenças entre indivíduos da mesma raça, o que deve ser levado em conta para que o produtor de bezerros otimize seus negócios, aumente sua rentabilidade e invista no segmento, pois o mundo precisa da proteína produzida pelo Brasil.
Por Fábio Frigoni (Med. Veterinário, Gerente de Produto Corte Europeu – CRV Lagoa) / Fonte: Publicada na AG – A Revista do Criador, Edição Dez/2019
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