Manejando e controlando insetos-praga que atacam pastagem – parte 1

E em praticamente todas as culturas vegetais existem insetos-praga classificadas como ocasionais, como gerais e como especificas.

Desde o início da revolução agrícola, entre 10.000 e 12.000 anos atrás, existem relatos nos escritos de todas as antigas nações dos desafios que o ser humano vem enfrentando com os ataques de insetos-praga em suas culturas agrícolas, sendo o mais clássico as pragas do Egito descritas no livro do Gênesis, da Bíblia.

As pastagens, como qualquer outra cultura cultivada pelo ser humano, são atacadas por insetos-praga. E em praticamente todas as culturas vegetais existem insetos-praga classificadas como ocasionais, como gerais e como especificas.

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Na cultura das pastagens, os insetos-praga ocasionais são a cochonilha-da-pastagem, a lagarta-dos-capinzais e o percevejo-das-gramíneas; os insetos-praga gerais são os cupins, as formigas, os gafanhotos, o percevejo-castanho-das-raízes e a larva de besouro escarabeídeo ou larva coró, e o inseto-praga específico da pastagem são as cigarrinhas que atacam pastagens.

Os insetos-praga ocasionais são típicos da cultura em questão, aqui, das pastagens, mas atacam ocasionalmente, localmente, em uma espécie forrageira especifica. Já os insetos-praga gerais atacam uma variedade muito grande de gêneros, espécies e variedades de culturas vegetais, são polífagas, ou seja, se alimentam de várias espécies de plantas. Por fim, um insto praga específico é aquele que tem um histórico de coevolução com uma espécie vegetal, ou seja, evoluíram juntas. Neste histórico de coevolução por seleção natural, apareceram as variedades vegetais com comportamentos diferentes frente ao ataque de um inseto-praga específico, podendo ser resistente, moderadamente resistente, moderadamente susceptível e susceptível. Esta diversidade genética é o que permite ao melhorista, por meio de métodos de melhoramento genético, selecionar ou fazer cruzamentos para o lançamento de cultivares resistentes a insetos-praga específicas.

Todos os insetos-praga, direta e indiretamente, causam danos às pastagens e prejuízos econômicos à atividade de produção animal em pasto. Basicamente, os insetos-praga que atacam pastagens encontram-se classificados na classe dos insetos: esta classe faz parte do reino animal, do filo Arthropoda, da classe “Insecta” que vem do latim “insectum” que significa “corpo separado por anéis, segmentado. A entomologia agrícola é a ciência que estuda a associação dos insetos com as culturas agrícolas sob todos os aspectos, estabelecendo suas relações com as plantas. E o especialista que estuda a entomologia é o entomologista.

As causas do aparecimento e do ataque de insetos-praga em pastagens são bem conhecidas porque muitas são as mesmas que causam a degradação da pastagem e do solo da pastagem. A saber: o plantio de espécies forrageiras não adaptadas às condições climáticas e dos solos da região; o estabelecimento incorreto da pastagem, com erros cometidos desde o preparo do solo, passando pela compra de sementes de baixo valor cultural, principalmente com baixa porcentagem de pureza, terminando com erros na semeadura; o manejo incorreto do pastoreio durante o seu estabelecimento e durante a sua condução, com superpastejo ou com subpastejo; a queima frequente; a falta de diversificação que provoca o desenvolvimento rápido de insetos-praga e doenças; o cultivo da pastagem em solos com baixa fertilidade natural ou em solos antes férteis, mais já esgotados. E claro, no caso específico de pragas, pela negligência do pecuarista não adotar um programa integrado de manejo e controle de insetos-praga, atuando mais preventivamente. Todas estas causas ao final levam a uma diminuição do vigor da pastagem, tornando a planta forrageira mais susceptível aos ataques de insetos-praga, os quais constituem o tipo de estresse biótico. Um estresse biótico é causado por doenças transmitidas por bactérias, fungos e vírus, e pelo ataque de pragas, tais como os insetos.

As consequências dos ataques de insetos-praga na pastagem também já são bem conhecidas, dependendo do tipo de inseto-praga e das partes das plantas que são atacadas. Existem os insetos-praga que raspam, que mastigam e que cortam folhas e raízes, que são os insetos-praga cortadoras (cupim subterrâneo, formigas, gafanhotos, lagartas e a larva de besouro escarabeídeo ou larva coró); existem aquelas que sugam a seiva da parte aérea (cochonilhas, percevejo-das-gramíneas) e ou subterrânea das plantas, que são as pragas sugadoras, e aquelas que além de sugadoras injetam toxinas nas plantas, são os insetos-praga sugadores/toxicogênicos (cigarrinhas que atacam pastagens, percevejo-castanho-das-raízes).

Os insetos-praga cortadores/mastigadores/raspadores causam danos basicamente por reduzirem o índice de área foliar das plantas, iniciando pelas folhas jovens que são as mais eficientes no processo fotossintético, responsáveis por 78,0% da fotossíntese, desorganizando este mecanismo vital às plantas, impactando na redução da produção de matéria seca da parte aérea e do sistema radicular.

Formigas saúvas (gênero Atta sp) podem cortar o equivalente a 5 kg de matéria seca/ha/dia (MS/ha/dia) e com 18 sauveiros/ha os prejuízos podem alcançar 100,0%.

No caso de lagartas (Mocis latipes e Spodoptera frugiperda), não se tem dados de pesquisa da redução da produção de forragem em pastagens, mas a desfolha provocada por esta praga pode alcançar 100,0% da área foliar das plantas, o que leva a necessidade da retirada de todos os animais do piquete até a recuperação da área foliar da pastagem por meio da rebrota.

Outro inseto-praga cortador que não se tem dados do nível de dano em pastagens, é o cupim subterrâneo (Syntermes spp) também conhecido por cupim-boiadeiro e cupim-cabeçudo, mas em levantamentos de campo em fazendas comerciais, o nível de dano alcançou 100,0%. Também não existem dados do nível de dano causado por gafanhotos em pastagens, mas em campo observa-se desfolha total e nível de 100,0% de dano.

Larva coró é um termo que tem sido utilizado para designar as larvas das famílias de besouros escarabeídeo. É um inseto-praga que consome tecidos das raízes. A sua presença em pastagens está relacionada mais a sistemas de integração lavoura/pecuária em sistema de plantio direto, onde a palhada não é revolvida. Para este inseto-praga também não tem dados do nível de dano causado em pastagens.

Os insetos-praga sugadores injetam seus aparelhos sugadores nos tecidos das plantas, sugando as seivas bruta (água e minerais) e elaborada (carboidratos), e deixando aberturas por onde microrganismos (bactérias, fungos…) penetram, provocando apodrecimento e morte de tecidos. Além de deixarem aberturas por onde sugam a seiva das plantas, injetam toxinas que provocam desorganização total no seu metabolismo.

As cochonilhas (Atonina graminis), também insetos sugadores, provocam redução na produção de forragem entre 20,0 e 38,0%.

O percevejo das gramíneas (Blissus leuchoptero) é um inseto-praga que atacava especificamente os capins Angola ou Bengo (Brachiaria mutica), o Tanner-grass ou Braquiária do Brejo ou Braquiária tóxica (Brachiaria arrecta) e o híbrido natural destes dois capins, o capim Tangola, provocando secamento de toda a parte aérea e podendo matar as plantas. Entretanto, nos últimos dois anos têm ocorrências do ataque desse percevejo em pastagens de outras espécies forrageiras.

O percevejo castanho-das-raízes (Scaptocoris castanea) pode levar uma pastagem a degradações nos níveis de 40,0 a 84,0% da área em dois a quatro anos, dependendo da espécie forrageira e do nível de população desta praga. Até a degradação do estande de plantas, a redução na produção de forragem pode variar entre 20,0 a 80%.

As cigarrinhas que atacam pastagens têm provocado níveis de danos entre 10,0 a 100,0% na redução da produção de forragem e, consequentemente, na capacidade de suporte da pastagem.

Aqui enfatizo que o estresse biótico causado por estes insetos-praga deixa a planta também muito sensível a outro tipo de estresse, o abiótico, provocado por estremos de temperatura (temperaturas muito alta e muito baixa, geadas) e disponibilidade de água (excesso ou déficit hídrico).

No caso de insetos-praga sugadores/toxicogênicos também ocorre redução no desempenho individual dos animais, por causa das mudanças na composição da forragem e da sua aceitação por causa das toxinas injetadas. No caso das toxinas injetadas pelas cigarrinhas que atacam pastagens, ocorrem reduções entre 20,0 a 50,0% nos teores de proteína, extrato etéreo, cálcio, fosforo e zinco, aumento no conteúdo de fibra de baixa digestibilidade e redução na aceitabilidade e no consumo de forragem.

Em consequência das reduções na capacidade de suporte e no desempenho animal, ocorre redução da produtividade por área (kg de peso ou de leite/ha), com consequente redução na receita da atividade. Ao mesmo tempo em que a receita vai caindo ano a ano, os custos de produção vão aumentando na tentativa de controlar os insetos-praga, com frequentes casos de insucessos e de frustrações na maioria das vezes por causa da falta de orientação técnica e consequente adoção de métodos de controle inadequados.

Diante de tantos prejuízos causados pelos insetos-praga que atacam pastagens, é preciso saber se existem manejos preventivos aos seus ataques? Quais são os métodos de controle de melhor relação de benefício/custo?

Na próxima edição escreverei sobre o manejo e os métodos de controle de pragas da pastagem – aguarde.

Fonte: Scot Consultoria

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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