Doença da ‘vaca louca’ volta a assombrar pecuária brasileira

Notícia de mais um caso suspeito da Encefalopatia Espongiforme Bovina EEB, “doença da vaca louca”, começou durante o feriado do carnaval

No meio de muita informação desencontrada vamos fazer um resumo sobre o que se sabe sobre o casa suspeito detectado no Pará. Em 19 de fevereiro de 2023 informações de um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina EEB (popularmente conhecida como “doença da vaca louca”) começaram a rodar no mercado pecuário brasileiro. A confirmação do MAPA para o caso positivo e suspeito de atipicidade para EEB aconteceu no dia 22/02/2023, caso foi detectado em um animal macho de 9 anos em uma pequena propriedade no município de Marabá (PA), não alimentado com ração.

Segundo a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará, Adepará, o rebanho, onde o animal estava, foi completamente inspecionada e interditada preventivamente Segundo a Agência, a sintomatologia indicava se tratar da forma atípica da doença, mas para a confirmação da tipificação do agente causador amostrar foram enviadas para o laboratório da OIE no Canadá. A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) também foi comunicada.

Inclusive, a própria OMSA) já colocou o Brasil como área de risco insignificante para a doença propriamente dita.

No comunicado divulgado pelo MAPA o animal foi abatido e teve sua carcaça incinerada no local, e seguindo o protocolo sanitário oficial, as exportações para a China foram suspensas temporariamente a partir da quinta feira (23/03/2023) mas o diálogo entre as autoridades dos dois países foi intensificada para realizar o mais rápido possível o comércio de carne bovina entre os dois países.

“Todas as providências estão sendo adotadas imediatamente em cada etapa da investigação e o assunto está sendo tratado com total transparência para garantir aos consumidores brasileiros e mundiais a qualidade reconhecida da nossa carne”, ressaltou o ministro do MAPA, Carlos Fávaro

A encefalopatia espongiforme bovina (EBB) também conhecida popularmente como “mal da vaca louca” é uma enfermidade que atinge o sistema nervoso central de bovinos através de lesões degenerativas que dão ao tecido nervoso a aparência de esponja. Por causar sintomatologia nervosa, altera a coordenação motora do bovino e causa intensa vocalização do animal, motivo pelo qual o jargão popular apelidou a doença de “vaca louca”.

A etiologia da EEB pode ter muitas causas, classificadas por sua vez entre transmissíveis e não transmissíveis:

  • EEB clássica (transmissível) – transmissão direta, por via oral, pela ingestão de subprodutos de origem animal (principalmente farinha de carne e ossos) contaminados com o príon. Período de Incubação pelo menos 2 anos, podendo chegar a 10 anos.
  • EEB atípica (não transmissível) – ocorrência esporádica e espontânea normalmente em indivíduos mais velhos, acima de 8 anos. No Brasil, já foram identificados quatro casos de EEB atípica (desenvolvida espontaneamente) que logo foram investigados e totalmente descartada a disseminação da doença e risco para a saúde humana. Nenhum caso de EEB clássica foi diagnosticado em território nacional.
Foto Divulgação

Prazo para volta das exportações?

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) prevê que o caso confirmado não deverá provocar perdas aos exportadores brasileiros, somente um adiamento das vendas. Por se tratar de um caso isolado, a expectativa é que não haja contaminação do rebanho; e o fato do Brasil tornar público o problema e paralisar os embarques, também impacta positivamente na resolução e tende a acelerar a retomada das exportações, que giram em torno de US$ 500 milhões por mês.

“O impacto tende a ser bem menor do que em 2021, último registro de vaca louca no país. O protocolo foi cumprido, tudo está sendo feito com correção e transparência. Além disso, não há carne sobrando no mercado, nenhum país conseguirá suprir a demanda da China em nosso lugar. Por isso, acreditamos que em aproximadamente 30 dias a situação seja normalizada e em abril o comércio de carne bovina volte aos patamares habituais”, afirma José Augusto de Castro, presidente executivo da AEB.

O Brasil é o maior exportador de carne bovina, abastecendo 22% do mercado global. Segundo a AEB, os preços do produto estão em queda — em janeiro desse ano, a cotação era de US$ 4,8 mil por tonelada contra US$ 5,2 mil do mesmo mês do ano passado, uma redução de 7,5%.

“É interessante verificar que a quantidade embarcada da carne aumentou 10,8% em janeiro. As estatísticas mostram a cotação do produto em declínio, inclusive no mercado interno. Se parte do volume que iria para a China for desviado para atender o consumo interno, a queda por aqui pode se intensificar”, conclui Castro.

Genética de animais Nelore contribui para ganho de peso diário de até 1,2 kg e carne de qualidade
/ Foto: Divulgação

Revisão do protocolo sanitário para evitar suspensão de exportações

A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) vai requerer, às autoridades competentes, a revisão do protocolo entre Brasil e China para exportação de carne bovina. O protocolo sanitário, firmado entre os dois países, determina que as exportações para a China sejam temporariamente suspensas a partir da identificação do registro da doença, mesmo que de forma atípica.

O diretor-presidente da Acrimat, Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, explica que essa suspensão é reflexo de um “acordo mal redigido”, que não fez a diferenciação entre a doença, que tem o tipo clássico e o atípico. A doença atípica não causa nenhum prejuízo à saúde humana e, portanto, não oferece risco.

“Um acordo mal redigido em 2015, entre Brasil e China, não separou as duas formas da doença. E quando se identifica um caso ocorre automaticamente o embargo. Isso significa que o Brasil para imediatamente de exportar para a China, provocando um caos econômico em toda a cadeia. No último episódio, em 2021, quando ocorreu situação semelhante, tivemos quase 100 dias para retomar as exportações, com prejuízos incalculáveis para o setor”, afirmou.

Por isso, segundo Oswaldo, a entidade está preocupada com o cenário atual da pecuária – com custos crescentes de produção e preços muito baixos na arroba –, que sofrerá ainda mais com a suspensão das exportações. Hoje o país asiático é um dos principais destinos da carne bovina brasileira – e Mato Grosso é o estado com o maior rebanho bovino do Brasil.

“Estamos solicitando às autoridades competentes que revisem esse acordo, para que não fiquemos reféns de casos semelhantes, que podem ocorrer esporadicamente, principalmente num rebanho grande como o brasileiro, como ocorreu”, disse.

“A Acrimat está muito preocupada com o atual momento pelo qual a pecuária está passando. Agora temos que enfrentar um novo problema, que é o da famosa vaca louca que de louca não tem nada. Trata-se apenas da forma atípica, uma degeneração cerebral causada, principalmente, pela idade avançada dos animais, sem o mínimo risco sanitário para os outros animais e para a população também”, garantiu o diretor presidente da Acrimat.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias

Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM