A parceria entre a empresa Dimitra e a COOPERCABRUCA, localizada na Bahia, maior produtor de cacau do Brasil, visa justamente o uso de blockchain para garantir práticas agrícolas mais responsáveis e monitoramento ambiental no cultivo de cacau.
A produção de cacau no Brasil é uma atividade tradicional e economicamente importante, especialmente nas regiões da Bahia e Pará, responsáveis pela maior parte da produção nacional. Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores de cacau da América Latina, ocupando uma posição relevante no mercado mundial. Nos últimos anos, a produção de cacau tem se diversificado com a expansão de técnicas de cultivo sustentável e práticas de melhoramento genético, que aumentam a resistência das plantas e a produtividade.
Após 5 anos, a Bahia retomou a liderança nacional na produção de cacau em amêndoa, ultrapassando o estado do Pará com uma produção de 139.011 toneladas em 2023, segundo a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), realizada pelo IBGE. O segmento responde por 80% dos estabelecimentos rurais dedicados ao cultivo do cacau e foi impulsionado por mais de R$ 100 milhões em investimentos do Governo do Estado, através da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), no sistema produtivo.
A cultura do cacau enfrenta desafios significativos, como o impacto de pragas (exemplo, vassoura-de-bruxa), mudanças climáticas e a necessidade de práticas mais sustentáveis. A inovação tecnológica é uma tendência essencial para o setor, com iniciativas como o uso de blockchain para rastreabilidade e certificação de origem sustentável. A parceria entre a empresa Dimitra e a COOPERCABRUCA visa justamente o uso de blockchain para garantir práticas agrícolas mais responsáveis e monitoramento ambiental no cultivo de cacau.
Para falar sobre esta parceria e explicar como a tecnologia pode ser uma aliada poderosa para superar os problemas que afetam o mercado atual de cacau, o Diretor de Conteúdo do Compre Rural, Thiago Pereira, conversou com Carlos Ribeiro, Diretor de Vendas da Dimitra Brasil.
A Dimitra, uma solução global de tecnologia agrícola para agricultura sustentável, está se associando à Cooperativa dos Produtores de Cacau do Sul da Bahia (COOPERCABRUCA) no Brasil. A COOPERCABRUCA incentiva seus membros não apenas a vender grãos de cacau, mas também a produzir e comercializar derivados de alta qualidade. Além de promover práticas mais sustentáveis na região, a parceria visa melhorar a subsistência dos pequenos agricultores e garantir-lhes acesso a mercados essenciais.
Entrevista completa:
Quais foram os principais desafios observados no processo de produção de cacau no Sul da Bahia que impulsionaram essa colaboração?
“A principal motivação para essa colaboração foi a implantação de um sistema de rastreabilidade, de forma a demonstrar que o cacau produzido pelos produtores da cooperativa é um cacau que respeita a natureza e é produzido com sustentabilidade. Além disso, a COOPERCABRUCA entende que o uso de novas tecnologias pode trazer melhorias na condução das áreas de cacau de seus cooperados. O desafio é a implantação do uso dessas tecnologias entre os cooperados, e, como toda nova tecnologia, exige um tempo para sua completa adaptação.”
Como o uso da tecnologia blockchain agrega valor aos produtores, além de proporcionar rastreabilidade na cadeia produtiva?
“A tecnologia blockchain, através da plataforma Dimitra Cacau Conectado, oferece total rastreabilidade desde o plantio até a comercialização do cacau. Isso agrega valor ao produtor ao garantir a transparência e a autenticidade dos produtos, permitindo que o consumidor final tenha confiança na qualidade e origem sustentável do cacau. Além disso, a rastreabilidade melhora a competitividade dos agricultores no mercado internacional, posicionando o cacau do Sul da Bahia como um produto premium.”
Como as funcionalidades da plataforma, como monitoramento via satélite e gestão de pragas, impactam o cotidiano dos pequenos produtores de cacau?
“O monitoramento por satélite ajuda principalmente no monitoramento da cobertura vegetal e estresse hídrico. Como o cacau nessa região é cultivado no sistema Cabruca, que é realizado sob a sombra da mata nativa, o uso de imagens de satélite torna-se limitado, então é necessário o uso de outras tecnologias, como sensores em campo, para auxiliar o produtor rural. Mas utilizamos os satélites para comprovar que os agricultores estão preservando as florestas nativas, agregando valor ao produto.”
Quais estratégias estão sendo implementadas para garantir que pequenos produtores adotem essas inovações?
“Junto com a equipe da COOPERCABRUCA, estamos implementando treinamentos contínuos e suporte técnico para garantir que os produtores estejam capacitados a usar as ferramentas da plataforma de forma eficiente. Pequenos vídeos e tutoriais facilitam a compreensão do produtor sobre o uso da plataforma e a importância de registrar todos os tratos culturais. Além disso, a plataforma foi desenvolvida para ser intuitiva e pode ser usada tanto online quanto offline, facilitando o acesso de agricultores em áreas com pouca conectividade.”
Como a parceria está contribuindo para reposicionar o cacau do Sul da Bahia como um produto de excelência no mercado internacional?
“Com a plataforma Dimitra, estamos ajudando a garantir que o cacau do Sul da Bahia atende a rigorosos padrões de qualidade e sustentabilidade exigidos pelo mercado global. A rastreabilidade total oferece transparência e confiança aos compradores internacionais, e a tecnologia blockchain traz transparência e segurança ao processo.”
“A Dimitra possui uma plataforma exclusiva que permite aos agricultores comprovar que estão alinhados com a nova regra europeia de zero desmatamento e, com isso, no futuro a COOPERCABRUCA buscará exportar seus produtos para a Europa, aumentando o reconhecimento da marca e o valor percebido.”
“Isso permite reposicionar o cacau local como um produto premium, valorizado não apenas por sua excelência, mas também por sua produção sustentável.”
Quais são os critérios de benchmarking usados para garantir padrões de qualidade e sustentabilidade?
“Além da certificação de produtos orgânicos, estamos avançando para comprovar que os produtores estão 100% alinhados à nova lei europeia, uma das mais exigentes e que diversos produtores em todo o mundo estão com dificuldades em comprovar sua adequação.”
“Para isso, a plataforma utiliza dados inseridos pelos produtores, coletados via satélite e inteligência artificial para garantir que os agricultores estejam cumprindo padrões de sustentabilidade e conservação ambiental, como o uso consciente de recursos naturais e o controle adequado de pragas. Além disso, trabalhamos para garantir que as práticas de manejo sejam continuamente melhoradas, elevando os padrões de produção.”
Como a plataforma Dimitra apoia a gestão e comercialização dos derivados de cacau?
“A plataforma facilita a gestão da produção junto ao produtor rural e garante a rastreabilidade de derivados de cacau. Isso proporciona maior controle sobre o processo de fabricação e uma melhor visibilidade no mercado. Além disso, com a rastreabilidade garantida, é possível promover os produtos com transparência, o que agrega valor e aumenta a competitividade no mercado, tanto local quanto internacional.”
Como vocês estão medindo o impacto socioeconômico da parceria?
“Estamos monitorando indicadores como aumento da produtividade por hectare e da renda dos agricultores. Nossa plataforma conta com um painel de gestão que permite aos gestores da cooperativa acompanhar essas e outras informações quase em tempo real e assim melhorar os serviços prestados para garantir uma melhoria contínua dos produtores.”
Esse modelo de uso de blockchain no setor agrícola pode ser replicado para outras culturas no Brasil?
“Sem dúvida. O modelo que estamos utilizando para o cacau já é utilizado em outras culturas que enfrentam desafios similares, como café, frutas e até soja. Essas culturas também se beneficiaram da rastreabilidade e da gestão eficiente que a tecnologia blockchain oferece, agregando valor e assegurando padrões de sustentabilidade.”
Qual é a visão da Dimitra para o futuro da agricultura sustentável com tecnologias emergentes?
“Um processo de certificação convencional é muito caro para alguns pequenos agricultores, e acreditamos que tecnologias emergentes como blockchain e inteligência artificial têm o potencial de transformar a agricultura em países em desenvolvimento, oferecendo transparência e garantias suficientes para que a certificação não seja necessária. A inteligência artificial pode coletar informações de forma imparcial, além de auxiliar o produtor rural e tirar suas dúvidas, diminuindo a necessidade de uma assistência técnica presencial.”
“A tecnologia blockchain traz segurança e transparência à rastreabilidade do produto, gerando mais confiança nos consumidores. Nosso objetivo é promover uma agricultura mais eficiente, sustentável e inclusiva, ajudando pequenos agricultores a acessar mercados globais e a otimizar suas operações com base em dados. O futuro da agricultura sustentável está diretamente ligado à inovação tecnológica, e a Dimitra quer liderar essa transformação.”
Como é feito o treinamento dos agricultores?
“A Dimitra treina os técnicos da cooperativa que ficam responsáveis por coletar as informações necessárias e treinar os agricultores, visto que eles já possuem relacionamento e a confiança dos produtores. O treinamento dos técnicos é realizado de forma virtual, enquanto o treinamento dos produtores é realizado de forma presencial pelos técnicos da cooperativa.”
Como a Dimitra garante o acompanhamento contínuo dos produtores?
“Temos uma equipe dedicada de suporte técnico disponível para atender às demandas dos agricultores. Além disso, a plataforma permite o monitoramento remoto das atividades nas fazendas, o que possibilita intervenções rápidas e eficazes pelos técnicos e gestores da COOPERCABRUCA.”
Quais foram os maiores desafios enfrentados na implementação da plataforma?
“O maior desafio sempre é a resistência inicial de alguns agricultores à adoção de novas tecnologias. É sempre complexo a implantação de uma nova rotina e uma nova tecnologia no dia a dia do produtor rural. Apenas com o tempo adequado os produtores começaram a ver os benefícios, como o aumento da produtividade e a melhoria na qualidade do produto.”
“Outra grande dificuldade nesse projeto é a forma de cultivo do cacau cabruca, que, por ser em áreas de vegetação nativa, limita o uso de imagens de satélite em todo o seu potencial.”
Quais oportunidades a parceria pode trazer para fortalecer o mercado de cacau no Brasil?
“O Brasil já foi um dos principais produtores de cacau no mundo e hoje está apenas da 6ª ou 7ª posição. Este declínio se deu em grande parte em virtude da praga “Vassoura de Bruxa”, que dizimou plantações inteiras. Com a adoção de tecnologia, podemos ajudar os agricultores a prevenir, identificar antecipadamente e tratar efetivamente qualquer praga, reduzindo os riscos desses agricultores.”
“A parceria também pode abrir novas oportunidades de mercado, especialmente com o crescente interesse por produtos sustentáveis e rastreáveis no mercado global. Além disso, há a oportunidade da comercialização de créditos de carbono, por ser um cultivo de plantas fixadoras de CO₂ e em áreas preservadas de mata nativa.”
“Outra oportunidade que estamos avaliando é a tokenização das áreas de cacau, através de RWA (Real World Assessments), que nada mais é que a digitalização das áreas de cacau, permitindo que investidores ou interessados em produção sustentável possam investir na produção de cacau brasileira. Além disso, essa colaboração posiciona o Brasil como um player inovador no mercado internacional de cacau, destacando-se não apenas pela qualidade do produto, mas também pelo uso de tecnologias avançadas e práticas agrícolas sustentáveis.”
A produção de cacau no Brasil, impulsionada por investimentos em tecnologia e sustentabilidade, busca reposicionar-se no mercado global como referência em qualidade e práticas responsáveis. Parcerias como a da Dimitra com a COOPERCABRUCA contribuem para tornar o cacau do Sul da Bahia um produto premium, valorizado não apenas pela sua excelência, mas pela rastreabilidade e certificação de sustentabilidade. Esse novo modelo de cultivo, alinhado com exigências internacionais, fortalece o cacau brasileiro em um mercado competitivo e estimula o crescimento socioeconômico dos pequenos agricultores.
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