Impasse comercial entre França e Mercosul intensifica-se no agronegócio, com protestos na Europa e respostas firmes do Brasil. Presidente francês, Macron reforça que não assinará acordo com Mercosul e reitera apoio ao Carrefour.
A recente declaração do presidente francês, Emmanuel Macron, sobre sua rejeição ao acordo entre o Mercosul e a União Europeia gerou forte repercussão internacional, especialmente no Brasil. Em visita à América do Sul durante a cúpula do G20, Macron reafirmou o compromisso com os agricultores franceses, apontando preocupações sobre os impactos do tratado na competitividade da agricultura local e na reindustrialização de países como a Argentina.
A declaração de Macron ocorre em meio a intensos protestos liderados pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas e pelos Jovens Agricultores. Os manifestantes organizaram bloqueios em rodovias, manifestando temores de que o acordo com o Mercosul prejudique os produtos franceses frente à concorrência internacional.
Como reação às preocupações dos agricultores, o grupo Carrefour anunciou que interromperá a importação de carnes do Brasil para suas operações na França. A medida foi uma tentativa de mitigar o descontentamento no setor agrícola, mas gerou forte impacto nos frigoríficos brasileiros, que decidiram suspender o fornecimento de carne para a rede no Brasil.
Carrefour enfrenta reação do setor agropecuário brasileiro
A decisão do Carrefour desencadeou uma resposta imediata dos principais frigoríficos brasileiros – incluindo JBS, Marfrig e Minerva –, que suspenderam o fornecimento para a rede no Brasil. A justificativa foi respaldada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que declarou: “Se não serve para os franceses, não vai servir para os brasileiros.”
Entidades do agronegócio também reagiram. O presidente da Acrissul (Associação dos Criadores do Mato Grosso do Sul), Guilherme Bumlai, destacou a importância de união na cadeia produtiva: “Este é um momento de mostrar força e coesão.” A FHORESP, entidade que representa o setor de hotelaria e alimentação em São Paulo, convocou boicotes ao Carrefour, argumentando que a postura da rede desvaloriza os produtos brasileiros.
Reações políticas e empresariais contra o protecionismo francês
Governadores e lideranças brasileiras criticaram o movimento francês. Mauro Mendes, governador do Mato Grosso, chamou a decisão de “atitude infeliz” e propôs reciprocidade em relação aos produtos franceses. Antonio Salvo, presidente da Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais), defendeu a preservação ambiental praticada pelo Brasil como exemplo para o mundo.
Especialistas também destacaram o risco para empresas francesas operando no Brasil, como Carrefour e Danone. “Criar uma imagem negativa no mercado brasileiro é um risco significativo,” afirmou Sérgio de Zen, professor da Esalq/USP.
O contexto do acordo Mercosul-UE
O acordo entre Mercosul e União Europeia enfrenta resistência em diversos setores europeus. Líderes franceses, como o CEO do grupo Tereos, Olivier Leducq, argumentam que o tratado cria “concorrência desleal” ao comparar produtos agrícolas submetidos a diferentes normas ambientais e sociais.
Enquanto isso, Macron mantém sua posição firme: a França não apoiará o acordo enquanto houver risco à agricultura local. Em nota, o Carrefour afirmou que a suspensão das importações “aplica-se apenas às lojas na França”, mas não comentou o impacto sobre suas operações no Brasil.
Impactos econômicos e estratégicos
Embora o impacto econômico direto seja limitado, as implicações ideológicas e comerciais preocupam o setor agropecuário brasileiro. Guilherme Bumlai ressaltou: “O Carrefour Brasil é um dos maiores mercados da rede no mundo. Quem deve estar preocupado com a imagem é a própria marca.”
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, destacou a hipocrisia das potências europeias: “Defendem o livre comércio, mas o abandonam quando seus interesses agrícolas estão em jogo.”
Nesse contexto, a postura de Macron e as reações subsequentes acendem alertas sobre a complexidade das relações comerciais entre o Mercosul e a União Europeia. Com o Brasil reforçando sua posição como potência agrícola, o episódio evidencia desafios para equilibrar interesses nacionais e globais em um cenário de crescente protecionismo e demandas ambientais. O desfecho dessas tensões pode redefinir estratégias comerciais e alianças internacionais para os próximos anos.
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