Essa valorização do leite se deve à maior competição entre as indústrias de laticínios para garantir a compra de matéria-prima nos últimos meses.
O preço do leite ao produtor na “Média Brasil” líquida do Cepea registou alta acumulada real de 29,2% de janeiro a julho de 2020. Esse avanço no preço neste ano foi acentuado pelo forte aumento de 15,7% observado de junho para julho, quando o valor ao produtor chegou a R$ 1,7573/litro, o maior registrado para um mês de julho e o segundo mais alto de toda a série histórica do Cepea (desde 2004), atrás apenas da média de agosto/16 (R$ 1,7815/litro), em ter- mos reais (dados deflacionados pelo IPCA de julho/20).
Apesar do patamar já elevado, o preço do leite captado em julho e pago em agosto deverá ultra- passar com folga o recorde. A expectativa é de alta de cerca de 10% na “Média Brasil” do Cepea de agosto.
Essa valorização do leite se deve à maior competição entre as indústrias de laticínios para garantir a compra de matéria-prima nos últimos meses. A concorrência acirrada, por sua vez, esteve atrelada à necessidade de se refazer estoques de derivados lácteos, num momento de oferta limitada no campo e de recuperação da demanda.
É importante ressaltar que existe uma tendência típica de aumento das cotações ao produtor entre março e agosto, devido à sazonalidade da produção. Neste período, a captação de leite é prejudicada pela baixa disponibilidade de pastagens, em decorrência da diminuição das chuvas no Sudeste e Centro-Oeste. No entanto, neste ano, a situação foi agravada pelos efei- tos encadeados associados à pandemia de covid-19.
Normalmente, as indústrias empenham esforços em compor estoques antes de abril, prevendo que a captação caia nos meses posteriores. Contudo, em abril deste ano, as perspectivas negativas sobre o consumo no médio e longo prazos diante da pandemia aumentaram o nível de incerteza e fizeram com que in- dústrias diminuíssem seus investimentos em estoques.
No entanto, o consumo de lácteos se recuperou em maio e até se aqueceu nos meses posteriores, ancorado nos programas de auxílio emergencial, contexto que reduziu ainda mais os estoques. Diante disso, os preços dos derivados lácteos seguiram avançando em julho e também na primeira quinzena de agosto. O maior destaque é o queijo muçarela, derivado que registrou preço médio mensal recorde em julho – e que deve ser superado também em agosto.
A competição pela compra da matéria-prima e a baixa disponibilidade de leite resultaram em aumento das cotações no campo. O valor do leite spot (negociado entre indústrias) em Minas Gerais saltou de R$ 2,24/litro na primeira quinzena de junho para R$ 2,75 na segunda quinzena de agosto, expressiva elevação de 22,6%. A média mensal de agosto, de R$ 2,66/litro, superou em 12,2% a de julho e em significativos 68,1% a de agos- to de 2019, em termos reais. É, também, o maior valor da série histórica do Cepea, iniciada em julho em 2004.
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Seria correto compreender que, com preços mais altos, a ampliação do fornecimento de concentrado e silagem seria estimulada até que o volume de leite ofertado se equilibre à demanda – o que, por sua vez, poderia segurar o avanço nos valores do leite. De fato, essa resposta da produção tem ocorrido, conforme apontam os dados do ICAP-L – houve alta de 4,55% na captação de junho para julho. Entretanto, ao aumento da oferta tem ocorrido de forma mais lenta neste momento, devido aos efeitos desencadeados pela incerteza no início da pandemia.
A queda de preços ao produtor atípica em maio, a própria defasagem temporal no repasse das con- dições de mercado ao produtor (característica da cadeia do leite) e o aumento dos custos de produção em 2020 deixaram pecuaristas mais cautelosos – muitos secaram as vacas ou diminuíram os investimentos. Essas ações dificultaram a retomada do crescimento da produção, já que a atividade leiteira é diária e seu planejamento tem efeitos tanto imediatos quanto nos meses posteriores.
Fonte: Cepea – Boletim do Leite