A interdependência nada transparente quanto as negociações do valor pago pelo litro de leite ao produtor, na quase totalidade do país, deverá sofrer mudanças profundas em 2022.
O ano que termina impactou todos os setores da economia nacional e mundial. Alguns cresceram alicerçados nos serviços que atenderam as famílias nos seus lares, outros encerraram seus negócios em função das disrupturas desencadeadas pela pandemia.
Não diferentemente, a cadeia láctea nacional descortinou as relações frágeis que existem entre produtores e agroindústrias. Essa interdependência nada transparente quanto as negociações do valor pago pelo litro de leite ao produtor, na quase totalidade do país, deverá sofrer mudanças profundas em 2022.
Com um cenário extremamente desafiador, 2021 foi sem dúvida um ano histórico para os produtores de leite, quando analisamos os prejuízos sistemáticos acumulados por eles. A escassez de chuvas somada às geadas nas regiões de maior produção de leite no Brasil e agravadas por aumentos significativos nos custos de produção – estabelecidos pelos preços dos insumos atrelados ao dólar – trouxeram à tona questões que haviam sido deixadas de lado em um passado nada recente e repetitivo.
O desequilíbrio financeiro entre os elos da cadeia produtiva de leite nacional evidenciou uma relação que deixou de ser pragmática entre seus agentes.
Reforçando esta questão, avolumam-se os Encontros de Produtores de Leite no Brasil exigindo o cumprimento da Lei 12.669, de 19 de junho de 2012, que determina que a empresa de beneficiamento e comércio de laticínios informe ao produtor de leite o preço pago pelo litro do produto até o dia 25 (vinte e cinco) do mês anterior a sua entrega.
Além do cumprimento da lei, discute-se também que o preço do litro de leite informado esteja correlacionado a um índice de referência validado por ambas as partes.
Nestas discussões demonstrou-se o quão ineficazes são os índices atualmente desenvolvidos em conselhos paritários, como os “Conseleites”. Se em alguns casos não existem atualizações satisfatórias dos custos de produção, em outros não existe validação do modelo matemático adotado.
Essa condição, que sempre foi conflituosa, tende a ser minimizada à medida que cada um dos agentes entendam as mudanças internas necessárias para fortalecer as relações de interdependência.
Se cabem aos produtores produzir leite com eficiência e qualidade, também cabem às agroindústrias estabelecer uma negociação transparente que propicie equilíbrio financeiro entre as partes, além da previsibilidade do preço do litro do leite a ser pago.
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Em plena era da inteligência artificial, a manutenção do mecanismo que impõe ao produtor a informação do valor recebido pelo seu produto após um mês de entrega da sua produção descola a eficiência da transparência, permitindo inclusive questionamentos quanto à violação da Lei 12.529 de 30 de novembro de 2011. Percebe-se que as terminologias como “viés de baixa”, “estabilidade” ou “viés de alta” não são mais suficientes para estabelecer uma parceria duradoura.
Em cenários desafiadores os mais preparados entendem antes o que tende a acontecer depois. E há fortes indícios de que nada será como antes.
Fonte: Milk Point