Lei: Queda na temperatura para pausa térmica em frigoríficos

Proposta de 2011, que havia sido incluída sem sucesso em Medida Provisória no ano passado, terá debate retomado em comissão da Casa nesta terça-feira.

Um projeto de lei de 2011 para restringir como pausas térmicas concedidas aos trabalhadores frigoríficos voltou à pauta da Câmara dos Deputados na última semana e terá suas retomadas nesta terça-feira (30/3) na Comissão de Trabalho, Administração de Serviço Público da Casa (CTASP).

O movimento ocorre dez meses após uma tentativa frustrada de aprovar a mudança por meio da inclusão do projeto na Medida Provisória 927, editada de forma emergencial em junho do ano passado.

Caso aprovado, a proposta mudará o artigo 253 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que passará a considerar como câmara fria apenas ambientes com temperatura inferior a 4 ° C.

Em nota técnica divulgada na última semana, o Ministério Público do Trabalho (MPT) classificou a mudança como um “profundo retrocesso social, em violação aos arts. 6º, 7º e 196 da Constituição Federal que asseguram a saúde como direito fundamental das trabalhadoras e dos trabalhadores ”.

“Sobrariam as pausas nos setores de paletização e expedição, que deslocam produtos com empilhadeiras, e que são setores onde os patamares de adoecimento são relativamente baixos quando comparados às salas de corte, onde o ritmo é intenso, como posturas são inadequadas, há umidade, o frio intenso ”, aponta o procurador do trabalho em Santa Catarina e gerente do projeto nacional de frigoríficos do MPT, Sandro Sarda.

Caso o seja projeto aprovado, o MPT estima que as pausas térmicas se restringiriam a cerca de 5% dos trabalhadores do setor frigorífico, principal atingido pela mudança.

“Essas pausas no setor de frigoríficos incomodam muito os empresários porque tem que parar aquela sessão e os trabalhadores sair daquele local durante um certo espaço de tempo – e eles entendem que isso causa um grande atraso na produção e querem de qualquer forma tirar isso”, explica o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação e Afins (CNTA), Artur Bueno Camargo.

Segundo ele, a aprovação do texto levaria a um desmonte da Norma Regulamentadora 36, ​​que parâmetros de saúde e segurança do trabalho no frigorífico ambiente.

“Enquanto categoria, a gente está disposto a discutir essa NR 36 para fazer uma revisão, mas não em plena pandemia. Agora o que temos que fazer é discutir alternativas para garantir a vida das pessoas e a produção de alimentos com mais proteção – e não querer revisar a NR 36 e também vir com esse projeto de lei que pode, inclusive, tirar essas pausas ”, pontua o presidente da CNTA.

O contexto de pandemia também foi destacado pelo procurador do trabalho gerente do projeto nacional de frigoríficos do MPT. “No pico da pandemia e durante a maior crise sanitária do país, ao ampliarmos a proteção à saúde em frigoríficos, corre-se esse risco”, pontua Sarda, ao lembrar que a redução das pausas também eleva o risco de contaminação pelo novo coronavírus.

“Claro que, se você tem um ambiente em que a taxa de renovação do ar é baixa e propícia à propagação da Covid-19, tirando as pessoas desse ambiente por uma hora por dia, que são como pausas térmicas, não elimina, mas reduz um pouco o risco de transmissão da Covid-19 ”, completa.

Durante o estudo conduzido por pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) junto a 410 trabalhadores de um frigorífico do norte do país em 2011, 82% deles relataram desconforto térmico durante suas atividades.

“Essas pausas cumprem também uma função de recuperação psicofisiológica porque também preservam a saúde mental. Por isso, o MPT observa com profunda preocupação esse movimento de retirada dos trabalhadores de frigoríficos da mais importante das medidas de proteção à saúde ”, conclui o procurador do trabalho.

Fonte: Globo Rural

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