Nativo da Europa, o animal chegou ao Brasil na década de 1950 e não encontrou predador natural, o que levou à rápida expansão. Será esse o próximo “Javali” da destruição?
Produtores do interior de São Paulo têm tido problemas com com um animal desconhecido para muitos, conhecido popularmente como “lebrão”. Também chamada de lebre-comum ou lebre-europeia, a espécie é nativa da Europa e foi levada primeiro à Argentina e, posteriormente, introduzida no Brasil para a caça esportiva, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, nos anos 1950. Por não possuir um predador natural, a espécie pôde se reproduzir de forma acelerada no Brasil e hoje é encontrada até em Mato Grosso.
Todo esse relato é para mostrar a preocupação de mais uma espécie invasiva que se alastra como os javalis, animal de tamanho pequeno em relação ao javali, porém promete bastante estragos em nossas culturas. Você é a favor da caça?
De pelagem marrom, o animal mede entre 47 e 67 cm de comprimento e cerca de 30 centímetros de altura, pesando entre 3 e 5 quilos. O lebrão se abriga em tocas pouco profundas e usa de sua coloração como camuflagem para esconder-se de predadores. Ele é parecido com um coelho, mas não é! O lebrão tem patas traseiras mais longas, um corpo maior e tem hábitos peculiares.
O lebrão recebe esse nome aumentativo pelo porte “atlético”. Sentado com as patas encolhidas, e desconsiderando as orelhas de pontas negras, ostenta cerca de 25 centímetros de altura. Pesa de dois a cinco quilos. E, em pleno salto, chega a uns 70 centímetros de comprimento, o que faz lembrar um gato. Tem uma plasticidade ecológica alta, isto é, adapta-se a diferentes ambientes, embora prefira campos abertos.
Prejuízo gigante
Agricultores do Sul e do Sudeste do Brasil estão sofrendo com os ataques da lebre europeia, vulgo “lebrão”. Os prejuízos chegam a 100% da produção em regiões de cultivo de brócolis e couve-flor, por exemplo. Plantações de citrus também amargam prejuízo alto, na casa dos 20%, segundo cálculos dos próprios agricultores.
A lebre rói o caule de pés de laranja, limão e tangerina, que morrem poucos dias depois, por falta de seiva. Produtores rurais reclamam ainda da presença do animal em cultivos de soja, maracujá, feijão, hortaliças, melancia, abóbora, melão, pupunha, mandioca, mandioquinha, batata-doce, café, quiabo e seringueira.
“Os Estados que mais sofrem com a invasão são Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná”, afirma a ecóloga Clarissa Alves da Rosa, pesquisadora da Universidade Federal de Lavras (MG).
Chegou a hora de fazer a caça e controle desses animais, antes que sua população se torna tão grande quanto a dos Javalis!
A lebre-europeia possui hábitos noturnos e costuma se alimentar ao anoitecer, por conta dessa condição muitos produtores não conseguem afastar esses animais e têm suas hortas prejudicadas.
De acordo com o Ricardo Bruxellas, médico veterinário da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) de Ribeirão Preto (SP), as fêmeas entram no período reprodutivo com aproximadamente seis meses de idade, tendo em média de 4 a 5 filhotes por ninhada, com sua reprodução estimulada pela oferta de alimentos. As lebres se alimentam preferencialmente de brotos.
“Aqui em Ribeirão Preto, segundo relatos de produtores, elas frequentam vários tipos de plantações como de cana-de-açúcar, café e abacate. No entanto, os produtores apresentam maiores problemas em cultivos de hortas e leguminosas, que precisam ser cercadas para que não ocorram perdas significativas”, comenta Bruxellas.
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Marco Fante, produtor de soja na região de Bragança Paulista, teve problemas com o animal em sua propriedade. “Eu tenho uma produção de soja com 150 hectares e o lebrão afetou cerca de 1 hectare. Eles esperam o broto se desenvolver e afetam os cultivos aos poucos. Meus cachorros avistaram os lebrões na propriedade mas não conseguiram alcançá-los, são animais muito rápidos”, diz.
Segundo Bruxellas, devido ao declínio das queimadas nos canaviais da região de Ribeirão Preto, há estudos que indicam um aumento na população de predadores, como cachorro do mato, jaguatirica, lobo-guará e onça-parda. Esses predadores não naturais têm se adaptado aos hábitos dos lebrões e atacado ninhadas.