Grupo Santa Fé, reconhecido por sua atuação no agronegócio e pela qualidade de seu rebanho, conquista período de renegociação após reduzir dívida significativamente com venda de ativos. De forma resumida, justiça concede blindagem de dívida de R$ 279 milhões a gigante do confinamento até fevereiro.
O Tribunal de Justiça de Goiás concedeu ao Grupo Santa Fé, um dos maiores nomes do confinamento e agricultura tecnificada no Brasil, um “stay period” de 30 dias, prorrogado pelo recesso judiciário até fevereiro. Essa medida, anunciada na última quinta-feira, 19 de dezembro, protege a companhia de cobranças judiciais enquanto busca renegociar suas dívidas. De forma resumida, justiça concede blindagem de dívida de R$ 279 milhões a gigante do confinamento até fevereiro.
Essa decisão ocorre após a negativa inicial da juíza substituta Thalene Brandão Flauzino de Oliveira, que havia solicitado o ingresso direto com pedido de recuperação judicial. O recurso, entretanto, foi aceito pelo desembargador Eliseu José Taveira Vieira, conferindo um fôlego crucial para a empresa agropecuária goiana.
Deterioração financeira e necessidade de proteção legal
O pedido de prazo para renegociação de dívidas sem recuperação judicial expõe a deterioração financeira enfrentada pelo Grupo Santa Fé, resultante de uma combinação de fatores adversos entre 2022 e 2024. Quedas nos preços de commodities, perdas significativas nas lavouras por motivos climáticos e pressões sobre a estrutura operacional agravaram o cenário da empresa.
Entre os impactos mais relevantes, destacam-se:
- Redução na produtividade agrícola, com a soja caindo de 65 para 47 sacas por hectare (-27,7%), o tomate industrial de 90 para 19 toneladas por hectare (-78,9%), e o feijão irrigado de 51 para 29 sacas por hectare (-43,1%).
- Queda de 27% no preço da arroba do boi gordo entre janeiro de 2022 e dezembro de 2023, reduzindo drasticamente o número de animais confinados, que passou de 41 mil cabeças em 2023 para 20 mil em 2024.
- Recuo na taxa de ocupação do boitel, de 85% em 2022 para apenas 20% em 2024.
Essas adversidades geraram um impacto direto na estrutura financeira do grupo, com o endividamento subindo de R$ 366 milhões em 2022 para R$ 435 milhões em 2023, enquanto o EBITDA caiu de R$ 94 milhões para R$ 78 milhões no mesmo período. O quadro foi agravado pela geração de caixa negativa em 2024, comprometendo a liquidez e dificultando o pagamento de compromissos.
Entre os desafios mais urgentes, destaca-se a exigência de quitação de R$ 4,7 milhões referentes a uma operação garantida por CPR-F, cuja inadimplência poderia resultar na consolidação de bens imóveis essenciais para a operação agropecuária do grupo. Além disso, a empresa relatou riscos de:
- Perda de imóveis estratégicos.
- Interrupção do fornecimento de energia elétrica, comprometendo 2.447 hectares irrigados.
- Bloqueio de contas bancárias, inviabilizando atividades produtivas no período crítico da safra.
Decisão estratégica e negociação com credores
O Grupo Santa Fé já vinha demonstrando disposição para resolver o endividamento de forma extrajudicial. Antes mesmo da decisão judicial, foram renegociados R$ 80 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) emitidos em 2022. Essa renegociação excluiu os CRAs do processo de recuperação, protegendo investidores do mercado de capitais, como o Fiagro RURA11 e instituições como Vinci e BBM.
Murillo Lobo, advogado do grupo, enfatizou: “Foram vendidos ativos extremamente valiosos, o que demonstra que não há interesse em recuperação judicial.”
Além disso, o grupo optou por negociar diretamente com credores dos CRAs, preservando garantias como duas fazendas de 1.000 hectares que foram alienadas fiduciariamente.
O impacto operacional e futuro da empresa
A crise trouxe impactos profundos ao modelo de negócio do grupo. O número de cabeças confinadas caiu de 41 mil em 2022 para 20 mil em 2024, enquanto a geração de caixa negativa comprometeu a manutenção de compromissos essenciais.
Já na agricultura, no plantio de soja, a produtividade da soja recuou de 65 sacas por hectare na safra 2022/23 para apenas 47 sacas por hectare na safra 2023/24. O grupo também relatou problemas na produção de tomate e feijão irrigado.
Ainda assim, o empresário Pedro Merola acredita que a recuperação judicial é “totalmente evitável”, conforme apontado por seu advogado: “A deterioração financeira foi severa, mas com prazos estendidos, o cenário poderá ser revertido sem a necessidade de medidas mais drásticas.”
O Grupo Santa Fé também enfatizou a importância de manter o trato de 22 mil bovinos em confinamento, realizar investimentos na safra 2024/2025 e garantir o emprego de 314 colaboradores, entre diretos e indiretos.
Diante desse cenário, a busca pela proteção legal da Lei nº 11.101/05 foi considerada a única alternativa viável para evitar danos irreparáveis às operações e à sustentabilidade do negócio.
Perspectivas e fôlego com a blindagem de dívida de R$ 279 milhões
O período estendido pelo recesso judiciário dá ao Grupo Santa Fé uma janela para buscar uma recuperação financeira sólida sem os custos e complicações de uma recuperação judicial completa. O caso ilustra como fatores climáticos, de mercado e operacionais podem impactar grandes empresas do agronegócio, mesmo as mais estruturadas.
O resultado dessa negociação será crucial não apenas para o futuro da Santa Fé, mas também para credores, investidores e o setor como um todo, que observa o desenrolar do caso como referência para crises semelhantes no agronegócio brasileiro.
Acompanhe as próximas atualizações sobre o desfecho desse processo.
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O agronegócio brasileiro enfrentou um dos seus anos mais desafiadores em 2024, com um crescimento alarmante de 432% no número de pedidos de recuperação judicial (RJ) no agro em comparação a 2023. No acumulado de janeiro a setembro, foram contabilizadas 426 solicitações, contra apenas 80 no mesmo período de 2023.
Segundo dados do Serasa Experian, o segundo trimestre concentrou o maior volume de solicitações, com 214 registros — uma alta de 529% em relação ao mesmo período do ano anterior. De acordo com o Monitor RGF de Recuperação Judicial, a maior parte das recuperações judiciais no setor agropecuário está concentrada em cinco atividades principais: o cultivo de soja, a criação de bovinos para corte, o cultivo de cana-de-açúcar, os serviços de preparação de terreno, cultivo e colheita, e o cultivo de milho. Esses segmentos representam uma parcela significativa das empresas que buscaram reestruturação financeira, evidenciando os desafios específicos enfrentados por essas cadeias produtivas.
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