Juro alto afeta a demanda de crédito para máquinas

Nas operações com grandes produtores, a Moderfrota tem taxas de 10,5% ao ano e ninguém quer tomar esse recurso; vendas caíram por causa disso!

O dinheiro destinado ao Pronaf para o financiamento de máquinas agrícolas na safra 2019/20, que se encerra em 30 de junho, já acabou e os demais recursos do Moderfrota deverão chegar ao fim em fevereiro, disse ontem Alfredo Miguel Neto, vice-presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). No total, o governo reservou R$ 9,7 bilhões para o Moderfrota na atual temporada.

“Nas demais linhas, ainda tem recurso disponível mas não a taxa de juros atrativa. Nas operações com grandes produtores, a Moderfrota tem taxas de 10,5% ao ano e ninguém quer tomar esse recurso.” No caso dos médios produtores, a linha do Moderfrota prevê juros de 8,5%.

“Também não é uma taxa atrativa. Se o produtor continuar a pegar esse crédito no ritmo mais lento atual, os recursos vão durar até fevereiro.”

Segundo ele, a queda nas vendas de máquinas em novembro já refletiu uma menor oferta de crédito. “O produtor tem a cultura do BNDES, do Plano Safra e da taxa subsidiada. Então, ele está refletindo se deve esperar janeiro ou fevereiro chegar para saber se haverá uma suplementação de recursos a juros mais atrativos, acompanhando a queda da Selic, ou se deve esperar o Plano Safra 2020/21, quando a taxa de juros deverá ser muito melhor”.

Nesse cenário, a previsão da Anfavea de que as vendas de máquinas agrícolas no país alcançarão 46 mil unidades em 2019 não deverá ser alcançada, reconheceu o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes. De janeiro a novembro, as vendas somaram 40,4 mil unidades, queda de 6,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos 12 meses de 2018, foram 47,7 mil unidades. Assim, só se houver uma disparada, nunca antes vista até o Natal, as vendas de 46 mil máquinas projetadas pela Anfavea serão alcançadas.

Nos 11 primeiros meses deste ano, a produção de máquinas despencou. Chegou a 50,8 mil unidades, queda de 15,4% em relação ao mesmo período do ano passado em 2018 como um todo, foram 60,7 mil unidades.

Somente as estimativas de exportações de máquinas agrícolas devem ser alcançadas. Neste ano, a Anfavea previu vendas ao exterior de 13 mil unidades, ante 12,7 mil em 2018. Até novembro foram 11,9 mil unidades, aumento de 1,1%. “O fato de não dependermos apenas da Argentina e termos outros mercados como destino permitiu esse crescimento.”

Para Miguel Neto, os fundamentos da agricultura estão todos excepcionais, o que não justifica a queda da demanda. “Todo o problema é a falta de comunicação. O Ministério da Agricultura precisa dizer o que vai acontecer até 30 de junho. E quando chegar o novo plano, se haverá recurso ou não. O ministério já sinalizou a intenção de reduzir a oferta de crédito subsidiado, mas não diz de forma clara o que vai acontecer para que o produtor possa tomar uma decisão”, disse.

O dirigente da Anfavea também destacou que o aumento das tarifas de importação sobre o aço anunciado pelo presidente americano Donald Trump deverá prejudicar o segmento, ampliando o custo de produção e elevando os preços das máquinas.

Isso mesmo com a regra que prevê que as máquinas têm de ser produzidas com 50% de matéria-prima local para que possam ser financiadas com crédito subsidiado pelo governo. “Vamos esperar para ver até que ponto isso se confirma. Nossa esperança é que os Estados Unidos negociem com o Brasil.”

Fonte: Valor Econômico.

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