Marlene enfrentou o marido para manter a criação de gado de leite. Com investimento, o resultado foi melhor do que o esperado.
Uma jovem agricultora do Paraná mudou o perfil da fazenda da família. Ela era dona de casa, mas decidiu enfrentar o marido para manter a criação de gado de leite, que ele queria abandonar.
Da genética dos animais à qualidade do leite, tudo é de primeira. Uma propriedade modelo, que investe em tecnologia de ponta para produzir 2.200 litros de leite por dia, em duas ordenhas.
Há pouco mais de cinco anos, os donos da propriedade pensavam em desistir do negócio, queriam fechar a leiteria. Anselmo e Marlene Kaiut tocam o sítio que pertence à família há mais de 60 anos. São 46 hectares no município de Carambeí. “A gente estava passando por um momento de dificuldade financeira e, na época, o preço do leite estava baixo”, conta Anselmo.
Foi quando Marlene, que na época tinha 24 anos e cuidava da casa, decidiu mudar o rumo dessa história. “Eu não tinha envolvimento com as vacas, mas eu gostava. Então eu sabia que se conseguisse uma boa administração, uma administração melhor e com pouco mais de dedicação, a gente conseguia mudar, reverter um pouco quadro que a gente estava”.
Marlene assumiu o negócio, mas no primeiro dia descobriu que não seria fácil. “Eu já não sabia fazer o trabalho e quando cheguei aqui e falei para o funcionário que era eu que ia tomar conta agora da leiteria, a primeira coisa que ele me disse já é que ele não aceitava receber ordem de mulheres. Então esse funcionário já foi demitido, foi para casa. Quando foi umas 10h da manhã, chegou novo funcionário me pedindo trabalho e esse funcionário não teve problema nenhum em me ensinar e ser mandado por uma mulher. Não teve dificuldade nenhuma”.
Marlene, que é formada em administração de empresas, montou um plano de trabalho, foi atrás de assistência técnica e de financiamento para melhorar a qualidade do rebanho e modernizar as instalações.
A primeira ação foi reformar o galpão e o passo seguinte foi melhorar a alimentação do rebanho. Para isso, Marlene contou com a ajuda do Fernando Solano, nutricionista da Fírizia, cooperativa onde entrega o leite. “Essas vacas aqui hoje estão comendo na faixa de sete quilos de ração, um quilo de concentrado proteico, que seria concentrado a base de farelo de soja, e mais dois quilos de fubá, além da silagem”, explica Solano. Outra mudança importante: as vacas passaram a comer três vezes por dia.
Só comida boa não garante alta produção. É preciso, também, ter vacas de qualidade, que respondam bem ao trato. Quando Marlene assumiu o negócio, o rebanho do sítio tinha 60 animais. Hoje, de mamando a caducando, são 200. Mais de 100 em lactação, quase tudo da raça Jersey.
Para não perder tempo, depois da cobertura, as vacas fazem exame de ultrassom periodicamente. Assim dá para confirmar a prenhes e conferir o desenvolvimento do feto. O resultado é visto na hora da ordenha, que começa cedo.
A produção das vacas é pesada individualmente, uma por uma. A higiene é impecável. Desinfecção de úberes, teste para mastite e equipamento lavado depois de cada animal ordenhado.
Além de economizar tempo, como tem um índice muito baixo de contaminação, Marlene recebe mais pelo leite que entrega na cooperativa. Um bônus, que leva em conta também o teor de gordura, que é naturalmente maior nas vacas da raça Jersey.
São 20 centavos a mais por litro.
O marido, Anselmo, faz hoje o que realmente gosta. Técnico em agropecuária, toca a parte agrícola da propriedade. Inclusive, produz toda a silagem que as vacas consomem.
Anselmo também participa de todas as decisões e ajuda na administração da propriedade, que também passou por uma grande mudança. Hoje, os gastos, rendimentos, compras tudo vai para o computador.
Hoje, Marlene é quase uma celebridade no universo das mulheres do agronegócio. Já ganhou vários prêmios e dá palestras para criadores e empreendedores pelo Brasil afora. Por isso, muitos estudantes vão até lá em busca de estágio.
A produtora tem dois funcionários que vivem no sítio e não se incomodam nem um pouco em ter uma mulher no comando. Com coragem, ousadia e muito trabalho, Marlene ultrapassa obstáculos, vence desafios e ainda educa duas filhas, Yohana, de 12 anos, e Eibelim, de um ano, mas ela ainda tem muitos outros projetos para concretizar. “Quero fazer um confinamento um composto. Vamos ver futuramente o que vai ser melhor. Vamos chegar a 140 animais em lactação, que já é o nosso projeto, porque o nosso barracão já está pronto para o futuro, para 140 animais em lactação”.
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Reprodução do site Globo Rural