JBS paralisa abates para pressionar a arroba

Na avaliação de uma fonte da indústria, movimentos dessa magnitude servem para “proteger as margens”. A medida é parte do planejamento da empresa para este período do ano!

A JBS vai paralisar temporariamente onze abatedouros de bovinos no Brasil a partir da próxima semana. As unidades voltarão a funcionar em janeiro, após um período de 15 dias de férias coletivas – aproveitando Natal e Ano Novo. A medida, antecipada pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, foi confirmada pela companhia. Em nota à reportagem, a JBS informou que a “Friboi irá conceder férias coletivas em onze de suas unidades.

A medida é parte do planejamento da empresa para este período do ano. As unidades retomam as atividades na primeira quinzena de janeiro”.

Na avaliação de uma fonte da indústria, movimentos dessa magnitude servem para “proteger as margens”. Relativamente, o negócio de carne bovina da JBS no país é mais dependente do mercado interno na comparação com outros concorrentes. Nos atuais preços do boi gordo, as contas dos abatedouros que concentram as vendas no Brasil não fecham, avaliou outra fonte.

Esse parece ser um caso de alguns dos abatedouros de bovinos que serão paralisados temporariamente. O Valor apurou que as unidades da JBS em Alta Floresta, Colíder e Confresa, em Mato Grosso, e Redenção (PA) estão na lista dos abatedouros que darão férias coletivas. Nenhum deles têm habilitação para exportar para a China, o mercado que melhor remunera.

Com a decisão de paralisar 11 de seus 35 abatedouros de bovinos no país, a JBS pode intensificar o movimento de ajuste das cotações do boi, que já vem ocorrendo nas últimas semanas. A dona da Friboi é a maior indústria de carne bovina, respondendo por cerca de 30% dos abates fiscalizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF). Na sequência, aparecem Marfrig e Minerva Foods, que têm capacidade para abater 14,8 mil e 11,9 mil cabeças de gado no país, respectivamente.

O preço do boi gordo, que bateu recorde no mês passado e ultrapassou R$ 230 por arroba, já recuou mais de R$ 20 desde o pico histórico de 29 de novembro. Ontem, o indicador Esalq/B3 para o boi gordo no Estado de São Paulo -referência para o restante do país -, estava em R$ 207,40 por arroba, o que representa uma queda de 10,3% no acumulado do mês.

No mercado futuro, os contratos de boi gordo também operam em baixa. Os lotes com entrega para dezembro caíram ontem 3% na B3, para R$ 194,40 por arroba.

De acordo com um pecuarista, o preço de balcão oferecido pela JBS em São Paulo já é de R$ 190 por arroba. “Acho que fecham a compra a R$ 200”, ponderou esse produtor, ressaltando que o preço de balcão dá a dimensão da pressão que os frigoríficos vem exercendo para ajustar os preços.

Entre analistas, parece consenso que os níveis de preços registrados em novembro estavam fora da realidade. Além disso, o mercado chinês, um dos grandes responsáveis pela disparada das cotações do boi e também da carne, reduziu bastante o ritmo de compras. “O mercado deu uma esfriada”, admitiu o executivo de um grande frigorífico. As vendas para o país asiático só devem voltar a ganhar força depois do Ano Novo Chinês, em janeiro.

A retomada das encomendas, porém, deve se dar em ritmo menos intenso que o registrado em novembro. Na terça-feira, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antonio Camardelli, projetou que a China comprará entre 50 mil e 60 mil toneladas mensais em 2020.

Em novembro, foram mais de 80 mil. Nesse cenário, o boi deve se estabilizar em patamar mais baixo do que o de novembro. “Nem a exportação à China consegue pagar um boi acima de R$ 215”, afirmou um executivo.

Fonte: Valor Econômico.

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