A empresa também admitiu que “entende ser importante adotar medidas adicionais para reforçar seu trabalho de due diligence no Estado”. Confira!
Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) – Cerca de um terço do gado comprado pela JBS entre janeiro de 2018 e junho de 2019 teria vindo de áreas com problemas de desmatamento ou outras inconformidades, de acordo com os resultados de uma auditora de 2020 do Ministério Público Federal do Pará.
Segundo a auditora, fábricas da JBS na região amazônica teriam comprado 940.617 cabeças de gado no período, oriundas do Estado do Pará, sendo que 31,99% apresentaram evidência de irregularidade.
Isto representa mais de três vezes o índice de tolerância de 9,95% estipulado pelo MPF-PA para a auditoria de 2020.
Os dados, divulgados na tarde desta quinta-feira (7), fazem parte do 3º Ciclo de auditorias realizadas pelo MPF para verificação do cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Carne por empresas do estado do Pará.
A resultado da auditoria reforça a preocupação de que empresas como a JBS poderiam estar contribuindo com o desmatamento da maior floresta tropical do mundo, comprando gado de terras desmatadas ilegalmente na região.
Confrontada com tais acusações, a JBS assinou um Termo de Ajuste de Conduta com o Ministério Público Federal em 2013, no qual a empresa se compromete a não comprar gado de fazendas desmatadas ilegalmente a partir de 2008, ou de propriedades envolvidas em crimes ambientais.
Pelos termos do acordo, a empresa também se compromete a não comprar gado de fazendeiros acusados de trabalho escravo e de avançar ilegalmente em terras indígenas.
Numa auditora de 2019, os procuradores que monitoraram os TACs no Pará constataram que a JBS havia melhorado os indicadores que balizam o acordo, afirmando que 8% do gado comprado pela empresa vinha de fazendas com “irregularidades”, uma queda ante os 19% aferidos numa auditoria de 2018.
No entanto, essa proporção saltou para 32% — para cerca de 301 mil cabeças de gado– na auditoria de 2020 apresentada na quinta-feira. Segundo a JBS, o resultado da auditoria foi impactado por uma mudança recente de critério adotado pelo MPF.
“Com relação aos resultados da auditoria do TAC do Pará para o ano de 2018 e o primeiro semestre de 2019, a JBS esclarece que os resultados decorrem, principalmente, de imprecisões nas definições dos critérios de monitoramento e nas bases de dados utilizadas como referência no processo de auditoria”, afirmou.
Ainda assim, a JBS disse que implementou novas medidas em seu sistema de monitoramento e bloqueou todas as fazendas fornecedoras do Pará com irregularidades apontadas na auditoria.
A empresa também admitiu que “entende ser importante adotar medidas adicionais para reforçar seu trabalho de due diligence no Estado”.
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Dessa forma, a companhia anunciou nesta quinta-feira um conjunto de ações com “o objetivo de reforçar a sustentabilidade da cadeia de fornecimento de bovinos no Pará e ampliar a adoção de boas práticas por toda a indústria”.
Investimentos de 5 milhões de reais serão, em comum acordo com o MPF, destinados a um conjunto de iniciativas no Estado, disse a JBS, destacando o projeto CAR 2.0, para automatizar e acelerar a análise e verificação do Cadastro Ambiental Rural e o Programa de Regularização Ambiental no Estado.
A empresa ainda se comprometeu a realizar auditoria de 100% das compras de gado no Pará.
Outros frigoríficos
Entre janeiro de 2018 e junho de 2019, o estado do Pará comercializou para abate ou exportação 5,8 milhões de cabeças de gado. Desse total, 69% foram auditados, referentes a 15 empresas das 42 signatárias do TAC no Estado. O total de inconformidades, considerando toda a movimentação, chegou a 9,95%.
“Quase o mercado todo participa das auditorias do Pará. Precisamos melhorar, mas o número ideal seria 80% e não estamos longe disso”, diz Azeredo.
Apesar do esforço do MPF, 31% do total comercializado no período (1,8 milhão de cabeças de gado) são provenientes de empresas que não passaram por auditoria. Ou seja, não se sabe se são provenientes de área com desmatamento ilegal ou não.
Além da JBS, outros quatro frigoríficos apresentaram inconformidade em mais de 15% de suas transações, mas a quantidade de cabeças de gado comercializadas por elas possuía volume bem menor que a gigante da indústria da carne.
O Matadouro Planalto teve, segundo o MPF, 31,3% de inconformidades, referente a um volume de 17.975 cabeças de gado. O Frigorífico Aliança contabilizou 24,8% de inconformidades (10.888 cabeças), o ForteFrigo, 18,7% (28.332 cabeças), e o Frigorífico Sampaio, 15,2% (1.138 cabeças não conformes).
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Na outra ponta, 6 das 15 empresas auditadas apresentaram 100% de conformidade, incluindo a gigante Mercúrio Total, que no período comercializou mais de 1 milhão de cabeças de gado.
Segundo os procuradores que estão à frente do TAC da Carne no Pará, um dado importante a ser avaliado é o avanço ou retrocesso nos índices de conformidade.
Do total de frigoríficos auditados, somente dois, além da JBS, apresentaram regressão no cumprimento do acordo: Matadouro Planalto passou de 12,10% em 2019 para 31,12 % em 2020 e a ForteFrigo passou de 15,27% em 2019 para 18,67% em 2020.
Com informações da Reuters