Ativistas ambientais calcularam que 97% das emissões da JBS são provenientes de gases de efeito estufa liberados por desmatamento, perda de biodiversidade e poluição.
A JBS, maior produtora de carnes do mundo, tornou-se em 2021 a primeira entre seus pares a se comprometer a cortar ou compensar todas as suas emissões até 2040 e a acabar com o desmatamento ilegal em sua longa cadeia de suprimentos que começa no coração da Amazônia.
A empresa usou termos como “compromisso” e “promessa” e um slogan de que “nada menos do que isso não é uma opção” para descrever seu plano de zerar as emissões em conversas com investidores sobre títulos sustentáveis e em materiais de marketing ao consumidor.
Quase quatro anos depois, Jason Weller, diretor global de sustentabilidade da empresa controlada pela família Batista, disse à Reuters em uma rara entrevista que a meta referente às emissões era apenas uma “aspiração”.
“Nunca foi uma promessa que a JBS faria isso acontecer”, disse Weller, com relação à promessa de zerar as emissões líquidas até 2040.
Ele também disse que a JBS não pode controlar como as fazendas operam, embora esteja incentivando mudanças voluntárias. Em 2021, a empresa prometeu acabar com o desmatamento ilegal da Amazônia por seus fornecedores de gado até 2025.
Em uma resposta escrita à Reuters após a entrevista, a JBS disse: “Nossas ambições climáticas não mudaram. Qualquer afirmação em contrário é completamente falsa”.
A Reuters constatou que, nos últimos cinco anos, os investidores obtiveram poucos resultados em relação às promessas feitas pela JBS, sem nenhuma proposta de acionistas sendo apresentada sobre o meio ambiente, poucos votando contra os Batistas em qualquer questão e quase nenhuma pergunta sobre sustentabilidade em teleconferências de resultados.
Os lucros estão disparando com a forte demanda por carne, ajudando a impulsionar as ações da JBS listadas em São Paulo para uma máxima histórica, atingida no mês passado.
O desmatamento por criadores de gado está levando a Amazônia para mais perto de um ponto crítico no qual a maior floresta tropical do mundo gradualmente deixará de reter o dióxido de carbono que aquece o clima.
Os pecuaristas brasileiros são responsáveis por 80% do desmatamento atual da Amazônia, de acordo com pesquisadores.
A dificuldade de reduzir os danos ambientais relacionados à JBS e outras empresas agrícolas pode minar argumentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enquanto ele se prepara para sediar as negociações climáticas globais em novembro.
As grandes petroleiras Shell e BP estão entre as empresas globais que suavizaram suas promessas climáticas.“Há muito poucos investidores usando sua influência de acionistas para se envolver com essa questão”, disse Vemund Olsen, analista sênior de investimentos sustentáveis na Storebrand Asset Management, sediada na Noruega, que vendeu suas ações da JBS em 2017.
“É uma questão para a qual toda a indústria precisa encontrar soluções comuns e que também requer melhor regulamentação e aplicação da legislação em países como o Brasil.”
Em outubro, o órgão ambiental Ibama multou fazendas e frigoríficos, incluindo a JBS, por criar ou comprar gado em terras ilegalmente desmatadas na Amazônia.
Desafio da cadeia de suprimentos
Ativistas ambientais calcularam que 97% das emissões da JBS são provenientes de gases de efeito estufa liberados por desmatamento, perda de biodiversidade e poluição.
Na contabilidade ambiental, essas são chamadas emissões de mudanças no uso da terra. A JBS disse que esses cálculos são falhos.
Embora a empresa relate emissões indiretas em sua cadeia de suprimentos, ela exclui emissões relacionadas a mudanças no uso da terra.
“Não há um formato aprovado hoje sobre como calcular as emissões de mudanças no uso da terra para o qual temos confiança”, disse Weller.
A JBS, em vez disso, se concentra nas emissões de suas próprias operações, incluindo abatedouros.
Outras companhias globais, incluindo a empresa de alimentos processados Mars e os comerciantes de grãos Archer Daniels Midland e Bunge, começaram a divulgar as emissões de mudanças no uso da terra.
“Não temos a capacidade de exigir ou forçar uma mudança nas fazendas, nem temos a capacidade de exigir e mudar como nossos clientes usam nossos produtos”, disse Weller.
Por causa desses limites, ele disse que a JBS tinha “controle operacional, contratual ou legal zero de sua cadeia de suprimentos”.
O executivo, no entanto, acrescentou que “apesar de não ter nenhum mandato, estamos agindo em nossa cadeia de suprimentos, investindo e promovendo mudanças reais”.
Pouco pressão
A Morningstar Sustainalytics, uma agência independente de classificação de sustentabilidade, coloca a JBS no 95º percentil entre as empresas que analisa, com uma classificação de “risco grave” atribuída ao seu desempenho ambiental.
A Reuters apurou por meio de entrevistas com investidores e análises de registros da JBS que a empresa de rápido crescimento enfrentou pouca pressão, mesmo com o aumento das evidências de que estava a caminho de não atingir as metas de sustentabilidade.
Os 20 maiores investidores da JBS recusaram pedidos para discutir a empresa, mesmo com o aumento das demandas de companhias europeias para interromper o desmatamento.
Os dados da Morningstar mostraram que 17 fundos rotulados como “sustentáveis” detêm ações da JBS. Todos se recusaram a discutir seu envolvimento com a empresa ou sua justificativa de investimento, ou não responderam pedidos de comentários.
Weller disse que a JBS está constantemente comprometida em melhorar a transparência e o engajamento com investidores em sustentabilidade.
A capacidade de investidores privados de influenciar a empresa é limitada, pois os Batistas detêm quase metade das ações da empresa. Outros 21% são de propriedade do banco de desenvolvimento brasileiro, o BNDES, que ficou do lado da administração nas votações.
A consultoria americana Glass Lewis mostrou no ano passado que a JBS obteve baixa pontuação em mitigação de risco climático, enquanto a assessoria ISS também levantou preocupações sobre a administração e práticas de governança “no contexto de corrupção”.
Durante a chamada Operação Lava Jato, que começou em 2014 e incluiu empresas em toda a América Latina, um tribunal proibiu os irmãos Wesley e Joesley Batista de ocupar cargos de gestão.
Isso ocorreu depois que eles admitiram ter subornado aproximadamente 2.000 funcionários do governo, reguladores e políticos brasileiros, incluindo um ex-presidente, ao longo de um período de 10 anos.
Em abril passado, os irmãos Batista voltaram a integrar o conselho da JBS após uma votação dos acionistas.
Fonte: Reuters
VEJA TAMBÉM:
- Federarroz: Área do pós-colheita crescerá este ano na Abertura da Colheita do Arroz
- Fundos reduzem apostas na queda dos preços de soja na semana até 7 de janeiro
- Abertura de mercado agropecuário para o Brasil na Costa Rica
ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.