Isenção na cesta básica mexerá nos preços da carne e da arroba do boi?

O recorde de exportações de carne bovina não afetou a disponibilidade de carne bovina para a população; Reforma tributária pode gerar imposto sobre consumo no Brasil o mais alto do mundo

O texto-base da reforma tributária foi aprovado na Câmara dos Deputados na última quarta-feira (10). Entre os destaques, estava a inclusão das carnes bovina, suína e de aves na cesta básica isenta. A percepção de Felipe Fabbri, analista de proteína animal na Scot Consultoria, é de que a isenção da proteína bovina não deva promover grandes mudanças na trajetória de consumo do Brasil.

“Podemos ver um estímulo no consumo de cortes dianteiros, que são mais baratos naturalmente. Se isso ocorrer até o fim do ano, é possível vermos preços da carne bovina no segundo semestre subindo por um movimento natural do período, mas sem tanta intensidade pela redução da alíquota de taxação”, comenta.

O segundo semestre marca um período de maior demanda no mercado interno e de uma população mais capitalizada.

“Por este motivo, a indústria deve praticar preços mais firmes para melhorar suas margens, e talvez a gente sinta impactos mais fortes apenas no primeiro trimestres de 2025, quando a demanda costuma ser menor”, completa.

Reforma tributária pode gerar imposto sobre consumo no Brasil o mais alto do mundo

A reforma criou o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), para substituir uma série de impostos e simplificar a tributação brasileira. Ele é uma combinação de dois novos impostos: a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que entra no lugar dos federais PIS, Cofins, Pasep e IPI, e o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), que substitui o ICMS, estadual, e o ISS, municipal. O IVA é um modelo que unifica impostos e já é utilizado em outros países. O grupo que debate a reforma tributária no Congresso estabeleceu que a alíquota do IVA deve ficar em 26,5%.

Mas ela pode subir a 27% e chegar a 27,2%, o que a tornaria a maior do mundo. A estimativa preliminar é do tributarista Eduardo Fleury, da FCR Law, que participou das discussões do projeto no Congresso. A maioria dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) adota o IVA como referência.

Com uma alíquota a 27%, o IVA brasileiro se igualaria ao da Hungria, hoje no topo. O país do leste europeu cobrava 27% de IVA em 2022, segundo a OCDE. Na outra ponta, a menor alíquota é a do Canadá, com 5%.

Um estudo divulgado pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), e reproduzido pelo jornalista José Luiz Tejon, prova porque as carnes podem e devem compor a cesta básica de alimentos. O gigantesco varejo brasileiro conta com mais de 94 mil pontos de vendas e circulação diária em torno de 27 milhões de pessoas. Portanto um elo vital do sistema do agronegócio nacional.

A inclusão das carnes na cesta básica de alimentação, como exige a constituição brasileira oferecendo legítima boa nutrição aos brasileiros, significa ínfimos apenas 0,14 pontos percentuais de 26,50 % desejado para 26,64%.

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Foto: Divulgação

Exportações afetam oferta interna de carne?

Definitivamente não. De forma resumida, o engenheiro agrônomo Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária, divulgou na última semana alguns dados sobre a exportação de carne bovina.

“O recorde de exportações de carne bovina não afetou a disponibilidade de carne bovina para a população. Considerando apenas a carne produzida sob fiscalização, no mercado formal, a disponibilidade interna do primeiro semestre de 2024 atingiu 3,57 milhões de toneladas” – ressaltou Maurício.

Considerando a estimativa de produção total (formal + informal), a produção de 2024 será 32,6% superior à média do período. A diferença ocorre pela tendência de formalização do mercado de abate e produção de carne na bovinocultura.

Preços da arroba do boi

O analista da Scot Consultoria ressalta que há uma mudança ocorrendo no mercado do boi.

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Foto: Pedro Guerreiro / Ag. Pará

“Os preços têm trabalhado mais firmes nos primeiros dias de julho, já que desde o fim de junho vemos uma retomada, muito pelo dólar mais forte e redução de oferta, que ainda segue elevada, principalmente para fêmeas, além de exportações aquecidas com uma margem interessante”, vê.

No mercado futuro, os preços indicam um cenário de alta para as cotações, com os contratos entre outubro e dezembro girando em torno de R$ 246 a R$ 248 para arroba.

“O que pode acabar com essa trajetória de alta seria uma oferta de boiadas confinadas. Se elas vierem mais intensas, somada a uma oferta de fêmeas ainda alta, ainda favorável à indústria, podemos ter uma sobreoferta de boiadas chegando ao mercado, com menor necessidade do comprador e possibilidade de pressão de baixa no curto prazo”.

Ainda assim, Fabbri ressalta que não vê isso acontecendo (oferta elevada de fêmeas), diferente do ano passado, quando em meados de agosto a oferta de fêmeas estava elevada em agosto.

Com informações da Money Times

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