
Lílian Matimoto fala sobre o crescimento do mercado de genética bovina no Brasil; com um investimento de cerca R$ 80, para cobrir gastos da inseminação, o retorno líquido é de R$ 340
O INDEX ASBIA 2024, lançado pela Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), destaca o crescimento expressivo do mercado de genética bovina no Brasil, impulsionado pelo aumento na adoção de tecnologias como inseminação artificial (IA), transferência de embriões (TE) e seleção genômica.
Esse avanço tem elevado o padrão genético do rebanho nacional, gerando animais mais precoces, produtivos e adaptados às condições tropicais, o que fortalece a eficiência da pecuária de corte e leite. Com isso, o Brasil consolida sua posição como líder global em produção sustentável de carne e leite, reduzindo custos, aumentando a rentabilidade dos produtores e atendendo às demandas por qualidade e rastreabilidade em mercados internacionais.
O relatório também evidencia como a genética de ponta tem sido crucial para impulsionar a sustentabilidade do setor, ao permitir maior produção sem necessidade de expansão de áreas, alinhando produtividade e preservação ambiental.
A médica-veterinária Lílian Roberta Matimoto Nakabashi é a nova executiva da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA). A profissional foi uma das embaixadoras do evento “Encontros que Conectam Mulheres – Edição: A Magia da Pecuária”, realizado nos dias 13 e 14 de março em Uberaba, Minas Gerais.
Para ela, o evento é importante para fomentar a liderança da mulher no agronegócio, e, está em crescimento a participação da mulher no setor, algo que não era comum há alguns anos atrás. “ Então a gente vem de alguma forma colaborar para que as mulheres estejam preparadas. Como eu sempre digo, não é uma competição, mas é um complemento sempre ao homem. Então esse evento proporciona esse compartilhar de informações, de conhecimentos e toda essa possibilidade, esse oceano azul que a gente tem no Brasil do crescimento do agronegócio”, disse Lílian.
Em sua palestra, a profissional abordou sobre a equidade entre os homens e as mulheres dentro do agronegócio, ou seja, sem existir uma competição. “Eu acredito que nesse tipo de competição ninguém ganha. Não é determinado pelo sexo, mas sim pela capacidade de cada um, isso que eu defendo, mas respeito opiniões diferentes. Entendo que a mulher precisa de um espaço e isso tem que ser conquistado e não imposto, não receber uma oportunidade porque eu sou mulher, eu tenho que receber uma oportunidade porque eu tenho a capacidade de estar ali, de entregar o resultado como sendo mulher ou homem. Essa é a equidade que eu prego e acredito”, argumentou Lílian.
Presidente da ASBIA, que é atualmente a entidade máxima no quesito melhoramento genético e comercialização de sêmen no Brasil, ela acredita que investir em genética não será mais uma opção. Ela deu um exemplo do crescimento do fornecimento para a China, por exemplo, que é um mercado extremamente significativo para a nossa pecuária e onde, através da genética, da sanidade, e nutrição, conseguimos atender o mercado e crescer mundialmente.
“Um fato que eu acredito realmente é que num futuro próximo, se você quer fazer parte do jogo, ser um player no mercado não será uma escolha, mas sim uma obrigatoriedade investir em tecnologia”, destacou Lílian.
Durante o evento voltado às lideranças femininas da pecuária, Lílian citou a diminuição dos rebanhos norte-americano e brasileiro e falou sobre o crescimento na venda de sêmen de leite e de corte. “Vamos num passado muito próximo, há 20 anos atrás, o percentual de fêmeas em idade reprodutiva que eram inseminadas no Brasil era 5%, hoje nós passamos dos 23%. E por que isso? Porque se não fosse algo que tivesse um retorno financeiro, com certeza não haveria essa adesão, e, o crescimento está cada vez maior. Um outro dado que nós vimos também no fechamento de 2024, é o crescimento no uso, quando é inseminação, dentro da inseminação IATF, 92% das inseminações foram através dessa metodologia”, destacou a profissional.
Segundo um estudo realizado pela USP, com a equipe do professor Zequinha a cada R$ 1 investido na pecuária, R$ 6 retornam para a cadeia. “Então, claro que é um olhar muito holístico para dentro de uma propriedade, mais uma vez, onde a gente investe em genética, nós precisamos pensar na sanidade, no manejo, na sustentabilidade, e, com certeza absoluta, é um caminho sem volta. Com a velocidade da pecuária hoje que existe, que nós estejamos com um olhar muito mais acurado para que as coisas estejam acontecendo. Então eu provoco mais uma vez, você mulher, esposa, proprietária, filha, neta, você está se preparando hoje para esse futuro próximo, da velocidade que a nossa pecuária está andando, para continuar a ser um play do mercado?”, finalizou brilhantemente Lílian.

Para Sergio Saud, Diretor Executivo da Genex, organizadora do evento, o mercado de genética de sêmen teve decréscimo no ano de 2023 e agora um crescimento em 2024 com a comercialização para a pecuária leiteira, tanto que 2024 foi o ano mais forte em termos de crescimento e chegou a dois dígitos pela primeira vez desde que a empresa tem o índice.
“Foi a primeira vez que a gente chegou em dois dígitos de crescimento na pecuária leiteira, isso é marcante para a gente. E, a parte de venda de genética de corte, que vinha se arrastando, que a gente já sabia como é que era, devido a questão de virada de ciclo da pecuária, teve no trimestre que foi outubro novembro e dezembro foram meses muito fortes de venda. É uma mudança de mercado onde o pecuarista tem a necessidade de bezerros, então os preços começaram a subir. Há uma procura maior para os bezerros cruzados, que tinha parado também, então não só o volume aumentou, como começou a mudar também o perfil”, explicou Saud.
Segundo Saud, existia no mercado uma base inicial de menor investimento em genética, porém foi reduzido o plantel de vacas e agora há essa necessidade de recuperar, por isso, a tendência para os anos de 2025 e 2026 é o aumento no consumo. “Vai ter bastante consumo de Nelore para refazer fêmeas e vamos ter o uso do cruzamento com Angus como a principal raça, mas outras também bastante importantes para produzir bezerros cruzados”, disse.
Atualmente existe um gargalo para melhorar o gado brasileiro no mercado brasileiro, existem cerca de 70 milhões de matrizes aptas a serem inseminadas ou cobertas por touros, além do déficit de touros melhoradores, diante desses números a Genex age para contribuir para a melhora desse cenário.
“Hoje a técnica já está mais difundida do que no passado, a gente tem uma média de 20% das fêmeas aptas à reprodução utilizando disseminação artificial. Desde 2010, 2011, quando veio a técnica de disseminação artificial por tempo fixo, isso ajudou muito a expansão, e, a tendência agora é de recuperação. Você precisa cada vez mais mostrar para os criadores, a vantagem do uso da inseminação que é um tipo da técnica que tem um baixo investimento e um retorno muito grande para a fazenda e os benefícios são muito grandes”, destacou Saud.
Segundo ele, a genética traz uma série de melhorias no rebanho, como vacas mais longevas, com melhor produção e que produz um bezerro todo ano. “Você pegar uma vaca na fazenda que não está produzindo bezerro todo ano, é prejuízo. E você achar que um touro para cada 40 vacas, como se tem em muitas fazendas, vai ser suficiente, não é, vai ter vaca vazia, você está tendo prejuízo. Então a inseminação ajuda você a formar plantel, formar lotes para negociar melhor com frigoríficos. Ou, se trabalha com rebanho leiteiro, você consegue fazer uma programação de produção de leite, então você tem mais estabilidade, você foge daquela questão de safra e entressafra”, enfatizou Saud.
Para finalizar, Saud destacou a importância do produtor, seja de leite ou de gado de corte, pensar no mercado a qual vai atender, que quem está comprando o produto dele quer qualidade e estabilidade no fornecimento. “Então se ele tiver muita oscilação na produção, ele vai ter menor poder de negociação. Se ele está com uma base boa, que não precisa ser milhares de cabeças, 100, 200, 300 bezerros para vender ou garrote para negociar de uma só vez, padronizado, ele vai ter mais valor para trabalhar”, finalizou.
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