A solução aliviaria um importante vetor de emissões de gases de efeitoestufa e proporcionaria uma alternativa econômica no mercado global de fertilizantes.
Investidores estrangeiros com US$ 68 trilhões em ativos iniciaram uma campanha para que as empresas de carnes nas quais investem, incluindo as brasileiras JBS e BRF, ampliem a destinação dos resíduos dos animais que abatem para uso como adubo na agricultura. A solução aliviaria um importante vetor de emissões de gases de efeito estufa e proporcionaria uma alternativa econômica em um momento de pressão no mercado global de fertilizantes.
A FAIRR Iniciative, que reúne os investidores globais, quer que os dez maiores produtores de carne do planeta sejam mais transparentes sobre o destino atual dos resíduos dos animais que passam por sua cadeia de abastecimento.
Hoje, parte das empresas divulga algumas informações em seus relatórios de sustentabilidade, mas falta padronização. A JBS, por exemplo, informa em seu relatório de sustentabilidade que destinou um quinto (22,7%) de seus resíduos para fertirrigação no ano passado, e outros 35,2% para compostagem.
Já a BRF aponta em seu relatório os volumes por tipo de destino, mas não os percentuais. A FAIRR também pretende engajar empresas como a britânica Cranswick, a canadense Maple Leaf e a chinesa WH Group. Os investidores querem que as companhias ingressem na iniciativa até 21 de outubro.
O grupo de investidores pretende então iniciar conversas com a norueguesa Yara, líder global em fertilizantes químicos, e com a americana Darling Ingredients, especializada na transformação de resíduos, como esterco e restos de alimentos, em adubos orgânicos, nutrientes para rações e até mesmo para a alimentação humana.
Nitrogênio e fósforo O objetivo da parceria proposta pela FAIRR é explorar o potencial de obtenção de elementos como nitrogênio e fósforo a partir da coleta dos resíduos das companhias de proteínas animais para a produção de fertilizantes com valor agregado.
A crise dos adubos, agravada pela guerra na Ucrânia, fez não apenas disparar o preço dos principais insumos da agricultura mundial, como dificultou o acesso aos produtos por milhares de agricultores. Os fertilizantes atingiram preços recorde no primeiro semestre, com os reflexos do conflito no Leste Europeu.
Em abril, o preço da ureia e do MAP estavam três vezes mais elevados que no início de 2021, enquanto o cloreto de potássio já tinha subido quase cinco vezes, segundo dados levantados pela consultoria StoneX. Em diversos países, tanto agricultores de pequeno como de grande porte começaram a buscar opções orgânicas – desde esterco de animais criados em granjas e confinamentos até resíduos de agroindústrias com alta carga de nutrientes, como a vinhaça da destilação do etanol – como solução de emergência para adubar as lavouras.
No Brasil, a demanda de agricultores próximos a esses centros provocaram inclusive falta de esterco para adubação, como informou o Valor em abril. Desperdício Essas experiências começaram a abrir os olhos de agentes da cadeia para o potencial econômico que hoje vai, literalmente, para o lixo. Segundo estudo publicado na revista “Nature Sustainability” em 2018, os resíduos de animais desperdiçados já se aproximavam das 4 bilhões de toneladas em 2014. O volume supera o volume de fezes humanas em quatro vezes, e a diferença tem aumentado nas últimas décadas.
A dificuldade de destinação correta de esterco de criações animais tornou-se um debate não apenas para os departamentos ESG dos investidores, mas também para os estrategistas de investimento.
“Cerca de um quarto dos ativos sob nossa gestão são altamente dependentes de ao menos um serviço ecossistêmico – serviços que dependem de ecossistemas saudáveis. Proteger a biodiversidade é de interesse dos nossos clientes e do nosso desempenho financeiro”, disse Peter van der Werf, Senior “manager engagement” da gestora holandesa Robeco.
Além da dificuldade de destinação adequada, o esterco animal ainda emite metano, gás de efeito estufa com pior impacto no clima do que o carbono. O problema ambiental entrou no foco dos governos com a assinatura do Compromisso Global de Metano, no ano passado, pelo qual os países signatários se comprometeram a reduzir suas emissões de metano em ao menos 30% até 2030, em relação aos níveis de 2020.
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Desde a assinatura, alguns governos começaram a aprovar medidas para reduzir essas emissões – como na Holanda, onde foi anunciado um pacote de 25 bilhões de euros para a compra de resíduos animais.
Fonte: Valor Econômico