Engenheiro-mecânico se inspirou no furacão Katrina para criar um exaustor que evita perdas em armazéns por ataque de pragas, calor e fungos
Ele é dono de uma metalúrgica no bairro Boqueirão, em Curitiba, que fabrica um único produto. Werner Uhlmann matutou por anos a invenção de uma engenhoca para evitar perdas de milhões de reais por umidade, ataque de pragas e fermentação de grãos guardados em silos e armazéns de todo o Brasil.
Por um bom tempo, Uhlmann não precisará se preocupar em inventar mais nada, além de dar conta dos pedidos, que já chegam até do Japão. Ele fatura R$ 2,1 milhões por mês vendendo um exaustor metálico estático, devidamente patenteado, que já lhe rendeu o prêmio “Gerdau Melhores da Terra” em 2013.
A invenção é simples e atende às exigências das normas federais e do Corpo de Bombeiros para ventilação e exaustão de áreas confinadas, de forma a evitar os riscos à saúde humana e de explosão. O sucesso de vendas, no entanto, está relacionado à interrupção de processos físico-químicos que deterioram milho e soja guardados por meses em galpões metálicos gigantes, corroendo a renda dos produtores.
Há mais de 20 anos, após uma viagem aos Estados Unidos, o alemão curitibano foi um dos primeiros a produzir no Brasil exaustores giratórios – aqueles chapéus de mestre-cuca metálicos bastante comuns no telhado de barracões e fábricas. No entanto, ao serem colocados no alto dos silos – onde os ventos são mais fortes e provocam alta rotação – os aparelhos giratórios tendem a torcer o eixo central e enguiçar, perdendo a utilidade.
Foi depois de visitar um primo fazendeiro no Rio Grande do Sul que o engenheiro-mecânico começou a pensar num exaustor estático. Ele viu que, dentro dos silos, por causa do calor, os grãos perdem umidade e peso, provocando condensação na parte superior. Essa condensação, por sua vez, se não combatida, provoca a fermentação e o apodrecimento de toneladas do produto. Além de propiciar o ataque de insetos, que se multiplicam mais rapidamente em espaços escuros e quentes.
Uma tentativa comum de atenuar esses problemas é o uso de ventiladores, que têm o efeito colateral de secar os grãos e diminuir seu peso. “Para cada ponto percentual de umidade de grão perdida, perde-se 1,18% em peso. Daí você precisa de mais grãos para encher uma saca de 60 kg. Estamos falando em silos com mais de 300 mil sacas e prejuízos de centenas de milhares de reais”, aponta Uhlmann.
O engenheiro teve, então, um ‘estalo’ de inventividade. “Eu me inspirei naquela imagem do furacão Katrina, do vento se deslocando em alta velocidade para o centro do ciclone”. Foram anos desenvolvendo o produto até chegar a um modelo de exaustor estático que combina a função de sugar o ar com a de iluminar o ambiente.
Basicamente, são dois cilindros justapostos entre si e com venezianas invertidas, que não permitem a entrada de respingos de chuva. Ao centro, uma tampa de policarbonato garante a passagem de até 90% de luz. O exaustor combate fungos e mofo ao retirar o ar quente do ambiente e, de quebra, deixa entrar luz natural, inibindo a proliferação de mariposas e bicudos que se alimentam dos grãos. Os gastos com energia elétrica caem 60%, por que não é preciso ligar secadores.
“Como é um produto que não se movimenta, ele não quebra. Faço uma única venda, mas o cliente sai satisfeito”, diz o inventor que comercializa, em média, 3500 aparelhos “Cycloar” por mês, cobrando R$ 600 pelo produto e a instalação.
A Cooperativa Cotrijal, que atua no Norte do Rio Grande do Sul, instalou exaustores de Uhlmann em sete armazéns de 400 mil sacas e mais de 50 silos menores.
Payback
“A prática nos mostra que os graneleiros de alta capacidade e os silos metálicos são os lugares com mais problemas de condensação e calor. Se fosse fazer um estudo de ‘payback’, logicamente verificaríamos que o investimento se paga em curto prazo, porque os grãos não sofrem a mesma perda de qualidade”, assegura Tadeu Garibotti, gerente de Armazenagem de Grãos da Cotrijal.
O consultor em agronegócio e professor aposentado da disciplina de Máquinas Agrícolas da Universidade Federal de Santa Maria, Arno Dallmeyer, destaca a criatividade de Uhlmann. “A engenharia é isso. Não se trata de fazer coisas complicadas, que precisam de 400 mil peças eletrônicas. Mas é propor soluções simples e geniais. Esse é o grande mérito dele, sua ideação é mais importante do que seu lado de empresário”.
Os exaustores de Werner Uhlmann ornamentam hoje as coberturas de silos de propriedades rurais, agroindústrias e cooperativas nas principais regiões agrícolas, do Rio Grande do Sul ao Paraná e Mato Grosso, chegando também às unidades armazenadoras da fronteira Norte. E ao melhor estilo professor Pardal, ele viaja o País de motor-home promovendo seus negócios:
“Quer me encontrar não me procure em Curitiba. Estou sempre na estrada”.
Com as Informações da Gazeta do Povo